O museu vai resgatar a história, presente e futuro da diversidade sexual dos nove países que abrangem mais de 260 milhões de habitantes
Três ativistas dos direitos LGBTs, dois brasileiros e um português, resolveram se unir para colocar em prática um projeto ousado: a criação de um Museu Lusófono da Diversidade Sexual. Franco Reinaudo, diretor do Museu da Diversidade Sexual, entidade governamental, localizado na cidade de São Paulo (SP), Brasil; Stevan Lekitsch, brasileiro proprietário de um museu em Portugal; e António Serzedelo, criador de um dos monumentos LGBTs da cidade de Lisboa, no Parque do Príncipe Real, e vereador suplente na Câmara Municipal de Lisboa durante dois mandatos e meio, convidado primeiro por António Costa e depois pelo atual Presidente da Câmara.
Uma vez juntos, começaram a esboçar o projeto que pretende contar a história, o presente e o futuro dos nove países lusófonos em relação aos direitos e conquistas da população LGBT: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A ideia é unir os nove países num museu localizado em Lisboa, mas que também possa fazer exposições itinerantes tanto em Portugal e Brasil quanto nos demais sete países. Todos esses países somam uma população de 267.896.073 habitantes. E aplicando-se a porcentagem sugerida por Alfred Kinsey, de 10% da população como sendo homossexual, o museu teria um público-alvo inicialmente de no mínimo 26 milhões de pessoas. Sem contar estudiosos, pesquisadores, interessados em sexualidade e curiosos.
Um primeiro projeto começou a esboçar salas baseadas nas cores da bandeira LGBT e que conta uma linha do tempo da comunidade LGBT nos nove países, relembrando os maus momentos, reforçando as conquistas e informando as melhorias que estão por vir no horizonte. O museu será rico em informações, gráficos e interatividade. Stevan Lekitsch, que já aplicou esse conceito em seu próprio museu, sugeriu explorar os cinco sentidos em cada sala do museu. “Quanto mais forte a experiência e as sensações, melhor e em maior quantidade é gravada a informação no cérebro”, afirma Stevan.
O Museu Lusófono da Diversidade Sexual pretende inicialmente criar um centro de documentação para iniciar a angariação de documentos, publicações, periódicos, fotos e todo o tipo de documentação da comunidade LGBT dos nove países. A digitalização do material e disponibilização é um passo importante para começar a construir a memória desta população e de seu museu. Uma campanha para doação de itens pretende ser iniciada.
O primeiro passo é criar uma exposição menor, para dar um pontapé inicial no Museu, com apoio e parte do conteúdo do Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, em local da cidade de Lisboa ainda a se definir.
“Os museus assumem hoje um papel importante na interpretação da cultura e na educação do homem, no fortalecimento da Cidadania e do respeito da diversidade cultural, e por consequência no incremento da qualidade de vida dos cidadãos.”, afirma António Serzedelo.
Espaço Documental
Assim como aconteceu em São Paulo (SP), Franco Reinaudo salienta que, um dos primeiros e principais passos para a criação de um museu, é o seu arquivo documental. “Quando fizemos o Museu da Diversidade de São Paulo, recolhemos acervos de várias pessoas, já falecidas ou vivas, e começamos a catalogar e digitalizar tudo o que aparecia na nossa mão. Esse é um ponto fundamental”, afirma Franco.
E o mesmo processo deve começar a ser feito em Portugal. Os ativistas pretendem começar a contatar pessoas que fizeram e ainda fazem parte da história LGBTQI+ do país para irem recolhendo, catalogando e digitalizando acervo, para já ter um ponto de partida.
Para se ter uma ideia, o Museu e Arquivo Histórico LGBT de São Francisco (EUA), um dos mais famosos do mundo, possui mais de 1.100 metros lineares de arquivos, que incluem mais de 900 coleções com documentos pessoais, registros organizacionais, periódicos, histórias orais, fotografias, gravações audiovisuais, coisas efêmeras, artefatos e obras de arte.
O início dos trabalhos, visto que nesta semana foi autorizada a reabertura dos museus em Portugal, deve começar em breve, e pode ser que ainda se aproveite o histórico dia de 28 de junho, uma exposição e o pontapé inicial do Museu Lusófono LGBTQI+.
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