Embarque na Viagem

Você já reparou como tudo anda metodicamente chato hoje em dia? Tudo tem que ser de acordo com o que dizem que “devemos” fazer, na hora determinada e politicamente correto. Podemos dizer que esse movimento vem tomando conta de tudo na nossa vida.

Por um tempo percebemos isso acontecendo na gastronomia com a tal “gourmetização” onde tudo foi ficando muito chato, arrogante, caro e igual. Agora, por incrível que pareça, vemos este fenômeno acontecendo nas viagens também. Hoje não podemos mais ser turistas, temos que ser adequados e nos tornar “viajantes” para parecer descolados. Mas me diz aqui uma coisa: que mal há em ser apenas um turista viajando pelo mundo?

Frequentemente tenho percebido que vários sites e blogs valorizam exageradamente a ideia de que para você curtir de verdade, tem que fazer tudo sozinho, por conta própria e fazer tudo diferente, nada de curtir aquilo que todo mundo já curtiu antes de você. Algo bem no estilo: jura que você vai querer ir lá nesse lugar? Mas todo mundo já foi e tem mais coisa pra fazer… Ai raios!! Que raiva me dá quando ouço ou leio isso!! Alôôô!!! Qual é o problema em querer conhecer um lugar que todo mundo já foi? Se eu ainda não fui, para mim certamente será uma alegria conhecer, afinal, quem vai viajar?

Faça isso, faça aquilo, conheça este e não aquele… é tudo tão imperativo ao extremo que chega a cansar e a naturalidade gostosa de apenas turistar se perde no meio do caminho.

Coloque uma coisa na sua cabeça: você não tem que ser cool, descolado, para fazer a sua viagem, tem que fazer do seu jeitinho, sem se prender a regras ou amarras para parecer socialmente um viajante “esperto”.

Sua mala está pesada demais enquanto todo mundo diz que tem que ser leve e prática?

E daí? Você se sente bem assim? Sabe que terá que gastar uma grana extra em determinadas situações como taxas em cias aéreas, táxis e carregadores ? Sua mala vai atrapalhar a vida de alguém? Vai te impedir de viajar para algum lugar específico? Se todas as suas respostas forem coerentes, então que leve sua mala pesada mesmo. Nem todos tem facilidade para levar a mala padrão com uma média de 13 kg.

Preferiu agendar seus passeios com um guia de turismo local ao invés de fazer tudo sozinho como todos dizem ser “melhor” fazer?

Vai fundo! Eu particularmente a-do-ro ter um guia do meu ladinho me explicando tim-tim por tim-tim sobre cada lugar que pretendo visitar. Nunca foi meu perfil ficar de lá pra cá o tempo todo fuçando sozinha os lugares para me sentir uma desbravadora. Quem gosta de fazer tudo sozinho, de forma totalmente independente que faça e seja feliz fazendo assim, só não vale afirmar que é melhor que o outro turista que curte fazer tudo acompanhado.

A visita a museus é sempre um assunto controverso. Uns dizem amar, outros, odiar. E você, o que prefere?

Não se imagina passar horas em uma fila com gente se apertando para ver um quadradinho láááá ao fundo? Ou sempre foi seu sonho ver este mesmo quadradinho pessoalmente? Arte moderna ou arte renascentista? Moda ou design? Não importa porque não há resposta certa para isso. Faça como achar melhor sem se prender ao que o blog xx diz que é mais interessante fazer. Se os que se dizem “descolados” acham perda de tempo ficar horas em fila de museu já manjado, mas isso é um desejo seu, não se permita influenciar. Faça do seu jeitinho e seja feliz.

Você não tem obrigação de saber de tudo.

Já reparou como é chato aquele grupinho que fica em uma visita guiada com degustação em vinícolas ou fábricas de cervejas e destilarias se dizendo profundo conhecedores daquilo que estão provando em vez de socializar com os demais? Pois saiba que tem muita gente que acaba não curtindo o passeio por ignorar o assunto e se sente super acanhada ficando recolhida no cantinho. Acredite, existem muitos que fazem pose de conhecedores e não sabem nada também. Na lojinha pintou dúvida do que é melhor comprar para levar de presente ou para casa? Simples: pergunte. Lembre-se que você é um turista e que não tem a menor obrigação de saber daquilo que estão te mostrando. Aliás, é para isso que você estará lá, para conhecer.

Bateu aquela fome monstruosa e você quer comer algo rápido e sem surpresas, e agora?

Uai, vai naquele fast food que você gosta e está resolvido o problema. Esqueça esse papo de que você tem a obrigação de fazer experiências gastronômicas a cada refeição durante sua viagem. Experimentar comida local é realmente muito legal, pois, assim você acaba conhecendo também um pouquinho da cultura daquele lugar, mas isso não é uma regra. Tem hora que aquele sanduíche com batatas fritas salvam seu fim de noite e te dão uma sensação de aconchego surreal.

As selfies são bem vindas, desde que sem exageros.

Você já ficou com vergonha de fazer selfie em alguns trechos de sua viagem, certo? Bateu aquele medinho de parecer brega ou estar inadequado? Saiba que isso é normal e desde que você não esteja exagerando na dose, tudo bem. O que não vale é ficar buscando uma perfeição fotográfica (que não existe) e atrapalhar outras pessoas que também querem tirar suas fotos. Mais do que deselegante, isso é egoísmo, fique esperto. Se você não ultrapassar pequenas regras de civilidade e cordialidade, tire selfies até com as formiguinhas e seja feliz!

Fotografar comida é outro assunto controverso e que sempre rende boas discussões.

Desde pequena eu ouço que a hora de comer é sagrada e não devemos fazer disso um circo. Realmente estamos vendo muitos exageros por aí e neste caso, talvez você não goste muito da minha posição sobre o assunto, mas, mesmo assim vou me posicionar. Sinceramente eu penso que até é válido tirar aquela foto rapidinha e discreta, sentado em seu lugar, sem flash no rosto de ninguém para atrapalhar e pronto. Uma vez tirada a foto, espere para publicar ou enviar para alguém depois, pois aqui estamos sendo além de grosseiros ao atrapalhar o momento da refeição, estamos também deixando de aproveitar o melhor da refeição: o sabor. Comida fria já perde metade do sabor e isso sim é trágico.

Vamos fazer assim, nada de permitir que outros patrulhem a sua viagem, assim como nada de você patrulhar a viagem alheia, ok?

Agora é só curtir e deixar um recadinho para os chatonildos de plantão que adoram ficar te dizendo o que fazer para ser “cool”: dá para parar de tomar conta da minha viagem?