Convivência forçada pode estreitar laços ou intensificar fragilidades antigas
Entre as mudanças mais sensíveis causadas pela pandemia do novo coronavírus, o cotidiano proporcionado pelo dia a dia com a família foi um dos setores em que as pessoas mais puderam sentir os efeitos da crise em diferentes estágios: saúde mental, trabalho, espaço físico e as próprias relações afetivas.
Praticamente confinadas umas com as outras, elas tiveram que buscar mecanismos internos e, muitas vezes, ajuda externa para lidar com a demanda de se relacionarem de novas formas, algo que não é necessariamente agradável.
Se por um lado, famílias que passavam pouco tempo juntas ganharam a oportunidade de se reaproximarem, por outro, amigos e casais acabaram sofrendo com o distanciamento forçado, em prol de uma causa maior.
Além disso, existem as pessoas que sofrem com ambientes abusivos e que nem sempre podem recorrer a outros espaços, ainda mais durante uma pandemia. Então, o que essas mudanças representam na realidade dessas relações daqui para frente? Você confere a resposta para essa pergunta no conteúdo abaixo.
Lar, (nem sempre) doce lar
Muitas pessoas aderiram ao autoisolamento como medida de contenção do vírus antes mesmo da adoção oficial da quarentena. Quem teve o privilégio de iniciar ou manter o trabalho remoto passou a ver o ambiente doméstico como uma redoma de proteção.
Famílias que, antes, só se uniam aos fins de semana, ganharam a oportunidade de terem mais contato entre si. Assim, pais puderam ajudar nas tarefas escolares, dividindo atenção com os filhos, enquanto trabalham, sendo criativos na hora de driblar o tédio típico de quem fica em casa por muito tempo.
Por outro lado, muitas pessoas que enfrentam transtornos de ansiedade, depressão, entre outros ficaram presas a ambientes que, muitas vezes, ignoram suas necessidades, causando um acúmulo de estímulos negativos.
Espaço pessoal
Parece algo bem óbvio, mas a busca por um espaço pessoal tem sido uma luta constante neste período de distanciamento social. Enquanto as famílias dividem a casa, cada um com sua atividade, os limites individuais são expostos com mais facilidade.
O lado mais sensível desse aspecto, talvez, esteja sendo sentido pelos casais. A cerveja com os amigos ou um programa diferenciado eram alternativas para arejar as relações afetivas— que, agora, estão confinadas a um único espaço.
Além da necessidade natural de tirar um tempo para si mesmo, a pandemia escancarou o incômodo que muitas pessoas sentem ao enfrentar esse espaço, não conseguindo estar frente a frente consigo mesmo no interior dos seus pensamentos.
Compartilhar é cuidar
Sem muita saída, o jeito foi buscar uma forma de botar os sentimentos para fora em videochamadas, mensagens e interação nas redes sociais com os amigos, numa espécie de terapia coletiva.
Saindo do lado pessimista um pouco, muitas pessoas perceberam que compartilhar sentimentos e abrir espaços de diálogo com família, amigos e dentro do namoro ou casamento pode ser uma ferramenta essencial para manter o ambiente mais saudável.
Ao entender as necessidades emocionais de quem convive diretamente com você, fica mais fácil filtrar as ações que podem desencadear desentendimentos desnecessários. Além disso, a atenção dedicada ao outro pode acontecer de diversas maneiras, às vezes, de forma bem sutil.
Fase ou tendência
Falar das relações afetivas é algo complicado pelo simples fato de que cada um acontece em uma dinâmica muito específica. O que podemos observar é que a pandemia causou mudanças importantes nas estruturas das relações das pessoas e isso vai refletir na vida delas daqui para frente.
Para quem aproveitou o confinamento para renovar a confiança e criar espaços de diálogo nas relações afetivas, os relacionamentos tendem a ficar mais leves, naturais e menos embasados em convenções externas.
Nas amizades, o contato físico ainda é algo que faz muita falta, mas várias pessoas entenderam que aquela ligação sem muito assunto pode fazer uma grande diferença no dia.
Nas famílias, pais puderam reassumir o papel de educadores, algo que, antes, tinha sido responsabilidade apenas das escolas e dos locais onde as crianças e os adolescentes passam a maior parte do tempo.
Por fim, mas não menos importante, quem se viu frente a frente com ambientes e pessoas nocivas à saúde mental, pôde reavaliar os mecanismos de como lidar com isso a partir de um cenário muito mais desanimador.
Se mesmo durante uma pandemia é possível tornar as relações melhores, por que não manter esse esforço para além dos momentos de necessidade?
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