Variedades & Tecnologia

Jantar folclórico – uma verdadeira questão de sorte

Por Naira Amorelli

Entrando um pouco na vibe de micos de viagens, vou citar aqueles shows típicos com jantar. Não é muito raro encontrar viajantes relatando que geralmente são divertidos, mas a comida é ruim ou vice-versa. Raramente as duas coisas se combinam. Olha, geralmente isso é contraditório e vou explicar porque. Show pra turista ver nem sempre traduz a cultura local. Tem que pesquisar com muita calma e cuidado, as opções são muitas e tem lugar que faz de tudo para atrair turista, afinal quer forma mais prática para atrair o turista que oferecer comida? Geralmente esses lugares tem uma apresentação meio folclórica e meio carnavalesca da cultura de seu país e uma comida na maior parte das vezes horrível e que em nada representa a gastronomia real do lugar.

rapa nuiNa Ilha de Páscoa tive a oportunidade de conhecer dois lugares que tinham aparentemente a mesma proposta. Primeiro fui a um restaurante indicado por um morador, que me informou que lá eu conheceria a verdadeira tradição do curanto e aprenderia sobre a cultura do povo Rapa-Nui enquanto parte da comida estaria sendo preparada.

Ao chegar lá, fui recepcionada por um grupo de pessoas vestidas com roupas diferentes, na verdade, com quase nenhuma roupa e grandes pinturas espalhadas no corpo. Fomos direcionados a um grande galpão, onde ao nos sentarmos o anfitrião do local, um legítimo Rapa Nui apaixonado pelas tradições de seu povo, nos explicou com muito carinho e dedicação a que seríamos apresentados naquela noite. O programa se dividiria em etapas onde inicialmente fomos convidados a ir ao lado de fora para observar toda a preparação do Curanto. Pensávamos que seria o nosso daquela noite e pouco depois soubemos que sería o curanto do dia seguinte já que todo o processo pedia muito tempo de preparo. Alguns até ajudaram a colocar alguns ingredientes para entrar ainda mais no clima. Depois, voltamos para dentro do galpão e uma grande e animada exibição de danças e batuques começou, sendo sempre alternada com as explicações do anfitrião sobre o que estávamos vendo, para ir entendendo cada fase da apresentação. Foi uma verdadeira aula de cultura Rapa Nui.

No fim das danças entramos no restaurante e encontramos um lugar muito  aconchegante, bem decorado, alegre, musical e com um perfume maravilhoso saindo da cozinha. Vinha coisa boa por ali. Nem preciso dizer que o jantar foi fantástico, a comida estava maravilhosa e ter a companhia do grupo de cantores e dançarinos no restaurante foi especial, todos eram da mesma família e tinham muito amor ao que faziam. Magia pura.

Em contrapartida, na minha última noite na ilha decidi assistir o tal show oferecido pelas agências locais que ficava ali mesmo na rua principal, pertinho de tudo. Resumindo: um festival de horrores!! O lugar até era bonitinho, mas os dançarinos e músicos obviamente não eram todos nativos e não estavam ali por amor á sua cultura ou sequer pela divulgação de suas tradições. Começaram a dançar enquanto os garçons atendiam e se esbarravam entre os mais animados clientes, doidos para agarrar as dançarinas. Pouco antes de chegar o jantar, numa espécie de “jogada ensaiada” foram puxando os gringos para dançar junto e foi aquela coisa né… imaginem.

A comida finalmente chegou e o show de horrores terminou. Ficou um pouco melhor, embora a comida não fosse lá grandes coisas… na verdade, era bem fraquinha e sem muito sabor. Nesta noite fiquei triste ao constatar que as pessoas ali teriam aquela informação sobre o lugar fantástico e de cultura única no mundo que estavam viajando. Um bando de palhaços de circo se sacudindo e uma comidinha mequetrefe para fechar a noite. Só mesmo o céu mais estrelado do mundo salvou.

jantar tangoO mesmo que aconteceu acima pode acontecer com um show de Tango por exemplo. Na Argentina tem tanto lugar que oferece jantares-show que quase sempre a possibilidade de errar o lugar é certa. São pouquíssimos os lugares que conseguem aliar dois elementos tão especiais em um único momento. Cultura e gastronomia se complementam obviamente, mas não são todos que conseguem fazer isso com verdade e amor, a tendência é sempre priorizar o lado comercial da coisa. É por estes e outros exemplos que sempre tento fugir destas ciladas. Apresentação de danças regionais é uma coisa e jantar é outra, juntar as duas quase nunca dá certo.

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