*Julio Serson
O ano de 2012 foi difícil para determinados setores da economia, particularmente a indústria e, por isso, o PIB deve fechar em torno de 1%, muito abaixo das expectativas iniciais. No entanto, apesar do processo de desaceleração do crescimento, algumas boas notícias submergiram, como na aviação: registrou-se a maior taxa de ocupação dos voos em doze anos, quase 73% dos acentos, uma alta de 2,78% em relação a 2011. Na rede hoteleira, o momento é de investimentos, expansão e otimismo, embora o primeiro semestre do ano passado tenha registrado queda na taxa de ocupação sobre o período anterior: uma baixa de 3,4%, segundo levantamento do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). De outro modo, houve recomposição de 17,6% nos valores das diárias, permitindo recuperar um pouco a rentabilidade perdida por décadas de inflação elevada e recessão.
Respira-se algum otimismo nas primeiras semanas de 2013, apesar do cenário ainda incerto. Entre os economistas, observa-se a confiança de que o PIB será superior ao de 2012, impulsionado especialmente pelo mercado doméstico, que tem sido estimulado por uma série de fatores, como a recomposição paulatina da renda na última década, a expansão do emprego e a desoneração tributária de algumas atividades econômicas. Entretanto, há outro fenômeno que merece ser analisado e pode estar contribuindo para esse contexto de bom desempenho de alguns negócios e expectativas elevadas: a evolução da cultura empresarial e de business no País, o que se observa também na rede hoteleira, que começa a adotar o conceito da sustentabilidade em muitas de suas frentes e estratégias.
A sustentabilidade ganhou fama no século XXI, quando a proteção ambiental saiu finalmente do foco estrito na ecologia e teve sua perspectiva ampliada para a análise dos impactos das ações do homem sobre o futuro do Planeta. No campo empresarial, a filosofia vem sendo incorporada gradativamente, no sentido de ponderar que o uso racional dos recursos materiais e econômicos não envolve apenas a sobrevida da espécie, das gerações futuras, mas também a do próprio negócio. Assim, as empresas voltam-se cada vez mais a aproveitar seus recursos e os hotéis não escapam a essa tendência.
São ações simples, introduzidas nas atividades diárias dos hotéis, que ao final do mês computam um ganho econômico relevante, seja pela redução dos custos ou até, em alguns casos, pelo aumento da receita. A primeira medida de sustentabilidade a ser adotada é observar se efetivamente é necessário despender tanta energia elétrica e água nas operações cotidianas do empreendimento e nos serviços prestados aos hóspedes. Há notícias de hotéis de lazer que eliminaram a prática de renovar diariamente as toalhas dos apartamentos, não sem antes desenvolver um trabalho de esclarecimento junto do cliente, mostrando que a mudança de postura em nada comprometeria seu conforto, saúde e segurança. Por outro lado, isso ajudou a economizar água e energia, em benefício não apenas do negócio, mas a favor da consolidação de uma cultura de racionalização do uso dos insumos. Ou seja, a alteração de um único hábito contemplou duas das cinco dimensões que envolvem a cultura da sustentabilidade: a econômica (reduz custos desnecessários) e a ambiental (contribui para limitar o consumo de recursos naturais).
Entre outras medidas viáveis, implantadas nos anos recentes pelos hotéis brasileiros que optaram por uma linha mais sustentável, encontram-se a captação de energia solar ou eólica; reciclagem dos resíduos produzidos e compostagem do lixo orgânico; melhor aproveitamento da luz e ventilação natural; reuso da água para regar os jardins e lavar as superfícies; produção local de hortaliças e legumes orgânicos; troca dos equipamentos elétricos mais antigos, de alto consumo, para os mais eficientes; e aquisição de produtos e enxovais produzidos por materiais reciclados ou madeiras certificadas. Ainda como parte da sustentabilidade, envolvendo agora três outras de suas dimensões – a social, espacial e cultural -, há empreendimentos que procuram um diálogo maior com a comunidade, promovendo nela o desenvolvimento dos recursos humanos (mão de obra) e a produção dos bens materiais de que precisa (alimentos).
Claro, o tom de otimismo surge como inevitável em um momento como esse, de início de ano, pois é próprio do ser humano o movimento em direção ao avanço, crescimento, desenvolvimento, enfim, é próprio dele acreditar na evolução de sua condição. Isso não significa, porém, que se deva fechar os olhos aos muitos e graves problemas que estão instalados no sistema econômico brasileiro e afetam o desempenho da atividade hoteleira. São eles, principalmente, a elevada carga tributária, marcada por duplicidades e distorções; a precariedade na infraestrutura dos transportes (estradas, aeroportos, portos e terminais rodoviários); além da ausência de uma política nacional de turismo, que deveria integrar as vocações regionais às necessidades das diferentes modalidades do setor, como negócios e lazer, por exemplo, de forma a estimular um fluxo positivo ao longo de todo ano.
Por mais que os empreendedores façam a sua parte na sustentabilidade do próprio negócio, se não houver uma mudança deste quadro, os novos leitos que estão sendo lançados em razão da Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 poderão transformar muitos hotéis nos grandes elefantes brancos da década no País. Portanto, é preciso temperar o otimismo, as estratégias e os investimentos a certa dose de cautela e realismo, equilíbrio que ajudará o empresário a proteger o seu negócio e a garantir a sua sustentabilidade.
*Julio Serson é Presidente do Grupo Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP).