João Cândido liderou uma revolta dos marinheiros contra a prática da chibata, um castigo corporal que ainda era permitido na Marinha brasileira
Um homem negro, filho de ex-escravos, nascido no interior do Rio Grande do Sul. Um marinheiro que serviu a Marinha do Brasil por mais de 20 anos. Um líder que desafiou o poder e mudou a história do país. Essa é a história de João Cândido Felisberto, o Almirante Negro.
João Cândido nasceu em 24 de junho de 1880, na fazenda Coxilha Bonita, no município de Encruzilhada do Sul. Seu pai, João Felisberto, era um ex-escravo que havia sido liberto pela Lei Áurea, em 1888. Sua mãe, Inácia Cândido Felisberto, também era ex-escrava.
Aos 14 anos, João Cândido ingressou na Marinha de Guerra do Brasil. Era um bom marinheiro, e logo se destacou por sua inteligência e capacidade de liderança.
Durante 15 anos navegou pelas águas doces e salgadas de todo o Brasil, percorreu quatro continentes, aprendeu técnicas e ofícios, foi instrutor de marujos iniciantes, encharcou-se das paisagens exuberantes, das realidades sociais e suas contradições, conheceu personagens e episódios políticos importantes – até ser expulso da corporação, por causa da rebelião de que participou com destaque, nas águas da Guanabara, defendendo a dignidade da condição humana.
E claro, nem tudo eram flores. João Cândido também enfrentou anos de discriminação e maus-tratos na Marinha. Como homem negro, ele era frequentemente alvo de preconceito e violência por parte dos oficiais brancos.
Como a Revolta da Chibata abalou o governo de Hermes da Fonseca?
Em 1910, a indignação de João Cândido chegou ao limite. Ele liderou uma revolta dos marinheiros contra a prática da chibata, um castigo corporal que ainda era permitido na Marinha brasileira.
A Revolta da Chibata durou cinco dias e abalou o governo do presidente Hermes da Fonseca. Os marinheiros que aderiram à revolta tomaram quatro navios de guerra e apontaram os canhões para o Rio de Janeiro. Eles exigiam o fim da chibata, a anistia para os revoltosos e melhores condições de trabalho.
A revolta teve o apoio da população e da imprensa. O governo de Hermes da Fonseca, pressionado, cedeu às exigências dos marinheiros. A chibata foi abolida na Marinha brasileira e os revoltosos foram anistiados.
No entanto, a Marinha não perdoou João Cândido. Ele foi preso e torturado, e acabou sendo expulso da Marinha.
Após ser expulso da Marinha, ele trabalhou como vendedor de peixes no Rio de Janeiro. Ele morreu em 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos.
João Cândido é um herói nacional. Ele foi um homem que lutou contra a injustiça e a discriminação. Sua coragem e determinação inspiraram gerações de brasileiros.
João Cândido era um homem culto e bem-informado. Ele era um leitor voraz e se interessava por política e história. Era um líder carismático e respeitado pelos marinheiros, muito conhecido por sua coragem, determinação e senso de justiça.
Paraíso do Tuiuti levará a história do Almirante Negro para o carnaval
A Paraíso do Tuiuti, escola de samba do bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, escolheu para o carnaval de 2024 o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, que contará a história de João Cândido, o líder da Revolta da Chibata, em 1910.
O objetivo do carnavalesco Jack Vasconcelos é reforçar seu nome como um grande herói do povo brasileiro. “O povo não esqueceu o João Candido, não esqueceu o Almirante Negro. É o povo usando o carnaval para falar ‘olha aqui o nosso herói’. Um herói da nossa pátria, que merece tá no livro heróis e heroínas da pátria do Brasil”, explicou Vasconcelos.
O desfile da Paraíso do Tuiuti será na segunda-feira (12), a segunda a desfilar na Marquês de Sapucaí.