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Lugares secretos de Lisboa

Por Nelson Carvalheiro

Não é difícil perceber porque a capital de Portugal é considerada uma das melhores cidades da Europa para visitar: a praia está a um passo, o marisco tem o sabor do oceano e o sol brilha 300 dias por ano. Trata-se de uma mistura entre a sensação de relaxamento do sul da Europa com uma herança e história mais substancial, mas também uma energia refrescante que parece surgir da luz, que, muitas vezes, tem sido descrita como o sonho de qualquer realizador de cinema.

Estes lugares mostram um pouco do lado íntimo de Lisboa, nos quais se encontra o sentimento de singularidade e o sentido português, mas, sobretudo, estão livres da vertente turística, o que hoje em dia representa uma mais-valia. Claro que existem outros locais secretos em Lisboa, mas estes são os que recomendo, pois estão acessíveis ao público em geral.

Livraria mais pequena do mundo – Escadinhas de São Cristovão, Baixa

Do tamanho de um armário para sapatos, esta livraria fica à entrada da escadaria da Conceição, que vai desde a Rua da Madalena até ao Largo da Conceição, no lado Sul da colina do castelo lisboeta. Apesar do seu tamanho reduzido, a livraria possui uma coleção fantástica (mais de 3000 livros no espaço de 4m² ), dos quais a maior parte são livros antigos sobre o patrimônio e a a história de Lisboa e de Portugal, a influência judaica, as colônias no ultramar e, o mais importante, os grandes autores portugueses que elevaram a língua portuguesa a um nível internacional. Fernando Pessoa, Saramago, Camões e Eça de Queiroz são alguns dos autores das coleções de edições limitadas que existem aqui, o que torna indispensável a entrada de qualquer fanático de livros nesta livraria.

Escadinhas de São Cristovão, Baixa Foto de Nelson Cavalheiro

Sala de Portugal na Sociedade Portuguesa de Geografia

A Sociedade Portuguesa de Geografia de Lisboa é reconhecida atualmente a nível nacional e internacional, e é indispensável para qualquer pessoa que queira investigar não só a historia dos descobrimentos portugueses, mas também a geografia, a história e a etnografia da comunidade dos países de língua portuguesa. A “Sala Portugal” tem 50 metros de comprimento e acompanha a totalidade da fachada do edifício. Trata-se de um espaço aberto com uma área de 50m² por 16m², ladeado por dois andares de galerias onde estão guardados alguns dos mapas mais importantes. Um lugar único e diferente que alberga a coleção de artefatos que pertenceram à maioria dos nossos exploradores e viajantes, por exemplo Gago Coutinho ou Sacadura Cabral. O pedido de visita tem de ser feito antecipadamente, no entanto, qualquer pessoa pode visitar o edifício e ver o que se encontra no seu interior.

Sala de Portugal na Sociedade Portuguesa de Geografia Foto de Nelson Carvalheiro

Caça aos azulejos – Alfama, Baixa, Chiado e Príncipe Real

Devo confessar que sou viciado nos azulejos portugueses. Há pessoas viciadas em chocolate ou em cantar no banho, enquanto outros, como eu, são constantemente transportados pelos detalhes intricados e os padrões coloridos de uma das mais belas formas de arte de rua do mundo. Os azulejos pintados à mão com o tamanho de 15cm x 15cm têm o duplo propósito de decorar e de controlar a temperatura. Foram introduzidos nas fachadas portuguesas no inicio do século XV.

A cidade de Lisboa conta com um Museu do Azulejo que recomendo vivamente como uma visita educativa e complementar aos que irão ver nas ruas estreitas de Alafama, Costa do Castelo, Baixa, Bairro Alto, Chiado e Príncipe Real. Os meus azulejos preferidos encontram-se na Calçada do Correio Velho – um momento raro de beleza e espanto que não é possível vislumbrar em mais nenhum lugar do mundo, senão em Portugal. No painel central lê-se: “Para nascer Portugal, para morrer o Mundo”.

azulejos

Nascer do sol em Alfama

Existem poucos nasceres do sol como o que se pode ver em Alfama a partir do terraço da suite Bartolomeu de Gusmão, no Palácio Belmonte. Esta torre já foi uma mesquita e o local onde as orações matinais eram anunciadas durante a ocupação dos mouros em Lisboa, estando a sua fachada virada para Meca. Daqui pode-se vislumbrar aquela bola gigante cor de laranja que surge do rio, mesmo ao lado da linha do horizonte formada pelas igrejas, campanários e chaminés de barro castanho-avermelhadas, e que expande a sua luz âmbar nas telhas que cobrem os edifícios lisboetas. Alguns consideram esta visão um sonho fotográfico, mas eu considero-a uma memória única daquela viagem a Lisboa que compensa o madrugar, especialmente se combinado com um pequeno almoço numa manhã quente de verão.

Nascer do sol em Alfama

Igreja Menino Deus

No dia 4 de julho de 2011, esta Igreja abriu as suas portas para celebrar 300 anos de existência. Normalmente, encontra-se fechada. Para visitar tem de tocar à campainha ao lado da entrada principal, e no seu interior encontrará uma das visões mais impressionantes da cidade. Serviu como modelo para muitos outros edifícios barrocos situados por outros países e foi construída durante a época dourada do rei D. João V, no século XVIII. A sua riqueza decorativa é formada sobretudo por mármores e enfeitada com pinturas dos artistas mais conceituados da época. Tudo isto sobreviveu ao terremoto de 1755, assim como uma casa que se encontra mesmo ao lado, no exterior. A igreja está pintada de amarelo e é uma das mais antigas da cidade, constituindo um exemplo raro da era dos Descobrimentos.

Igreja Menino Deus Foto Nelson Carvalheiro

Tapada das Necessidades

Provavelmente, este parque não é o mais bonito de Lisboa, mas é com certeza um dos mais especiais. O parque conta com edifícios abandonados e caminhos por reabilitar, mas este é o seu charme, pois de outra forma seria mais um parque igual aos outros. Para compensar, existe um ambiente de enorme tranquilidade e calma – e apesar do barulho do trânsito que se ouve à distância, os gatos e os pássaros parecem imperturbáveis e passeiam e voam facilmente pelos amplos jardins que são, obviamente, a sua casa. Não existe aqui nenhum apoio ao turista, mas é um bom lugar para fazer um piquenique debaixo das árvores, quando o calor aperta, ou no prado, quando está mais fresco. A meu ver este lugar é ideal para ler, meditar, passear, fazer um piquenique, descontrair com os amigos e descobrir os diferentes cantos e curiosidades que o parque alberga.

parque

Galeria Carpe Diem

O Palácio Pombal, situado na rua do Século, é um edifício do século XVIII, que foi a residência oficial da família Pombal até ao terremoto de 1755. A Carpe Diem Arte e Pesquisa é uma plataforma de investigação, experimentação e estudo no campo da arte contemporânea que foi inaugurada em 2009, e que transformou este palácio numa propriedade com 17 salas de exposição abertas ao público. A estrutura que apresenta é multidisciplinar e pluralista, procurando fornecer ao mundo das artes visuais uma plataforma para a troca de informação entre artistas, teóricos, estudantes, produtores e público. A sua característica mais interessante é que o palácio foi reconstruído a partir dos restos do terremoto de 1755 e conta com áreas de tamanho considerável, tetos estucados, com seis metros de altura, e escadarias monumentais.

Galeria Carpe Diem

Palácio Fronteira

A casa do Marquês de Fronteira, datada de 1670, é, sem dúvida alguma, um palácio glorioso difícil de ultrapassar. Para além do seu jardim altamente escultural, existem quartos recheados de azulejos decorativos dos séculos XVII e XVIII que retratam batalhas e cenas de caça, com tons únicos. Acredite que não irá encontrar nada que se lhe compare em Lisboa. Se aprecia azulejos e grandes interiores, este é o sítio para ir. A Sala das Batalhas já tem sido considerada “a Capela Sistina da azulejaria portuguesa”. O horário de abertura é limitado, portanto é aconselhável reservar com antecedência.

Palácio dos Marqueses de Fronteira

Depósito da Marinha Grande

A primeira fábrica de vidro de Portugal – a Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande – foi criada em 1769 pelo Marquês de Pombal na cidade da Marinha Grande, no centro de Portugal. Desde então a Marinha Grande tem sido a grande marca de prestígio e alta qualidade do vidro artesanal. A primeira loja foi aberta há 120 anos na Rua de São Bento, 234-242. De fato, quando uma loja resiste durante tantos anos, surge a dúvida se alguns objetos não serão de colecionador, mas não: encontram-se objetos vintage de uso diário, como os copos de vidro aos quadradinhos que se têm visto com frequência ao longo das gerações nas mesas portuguesas.

Depósito da Marinha Grande

Bacalhau na Manteigaria Silva

Apelidado de “fiel amigo” pela cultura popular, o bacalhau tem sido o prato principal das mesas portuguesas desde a Idade Média. Apesar da vastidão das águas piscatórias exclusivas e de todo o peixe disponível, o bacalhau, que se mantém como o prato preferido dos portugueses, é importado das águas gélidas do Atlântico Norte norueguês. O Sr. Silva conhece bem o bacalhau. As suas mãos estão marcadas pelo manusear do peixe durante uma vida inteira, o que o torna provavelmente a melhor pessoa para recomendar que bacalhau comprar. Dos pequenos aos maiores, dos secos e salgados aos sortidos e amarelados, dos mais finos de 3 cm aos mais grossos de 10 cm, ele sabe tudo – além das 365 maneiras que os portugueses têm de cozinhar o bacalhau!

Bacalhau na Manteigaria Silva

Texto original publicado em Viagens Sapo

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