A escolha das palavras

Decidir escrever para o público não é fácil, ainda mais quando sua profissão não é ligada a isso e o tema que escolhe é algo tão volátil e pessoal.

Amanda-Hesser-food-writer

Comida. Descrever experiências não é tão trivial quanto pode parecer, nunca será. Ainda mais nos dias atuais, em que todos acham que sabem absolutamente sobre tudo. As pessoas erroneamente te chamam de critico, discordam – e muito – agressivamente do que estão lendo, sem se lembrar que aquela é uma opinião pessoal.

Escolher as palavras na hora de descrever uma experiência, e não uma critica, vem tirando meu sono. Mesmo deixando claro aos leitores que aquela é a minha opinião venho recebendo queixas de que minhas dicas não são reais. Esses e-mails me fizeram resgatar um texto da Constance Escobar do site “PRA QUEM QUISER ME VISITAR”, em que ela define com perfeição a dificuldade de passar ao leitor uma experiência. Uma refeição não se trata apenas de comida, envolve ambiente, atendimento, expectativa e acima de tudo sua percepção. E o conjunto da obra.

Eu amo miúdos e você, leitor, pode achar repugnante.

Constance descreve cada experiência como um momento vivo, enquanto o relato seria apenas uma fotografia. Naquele pequeno pedaço de papel se pode ver a gargalhada, mas não se pode vivenciá-la com o mesmo entusiasmo daqueles que viveram o momento.

“E os sujeitos que escrevem sobre eles dificilmente poderão oferecer aos leitores mais do que o retrato, nem sempre absolutamente fiel, de uma experiência fugaz”

Amanda Hesser em sua mesa de trabalho

Amanda Hesser foi, durante muito tempo, editora de culinária da revista do The New York Times, tendo publicado mais de 750 histórias. Ela também é autora de diversos livros.

Escolher adjetivos, usá-los em abundância quando justo e com cautela em momentos que poderiam passar despercebidos pela correria da vida é uma fórmula aparentemente simples, mas executá-la dá um trabalhão.

Todos somos passíveis de erros, seja o restaurante, eu na minha opinião ou você no seu julgamento. Como bem disse Constance, não criemos expectativas, mas sigamos errando, acertando e vivendo momentos inesquecíveis pelas mesas desse mundão.

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