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5 anos se passaram e o que aprendemos depois da Covid?

O que restou de nós depois da tempestade? Ou melhor, depois da Covid…

depois da Covid
5 anos se passaram e o que aprendemos depois da Covid?

Há cinco anos, o mundo parou. Um vírus invisível reescreveu mapas, cancelou planos e nos trancou dentro de nós mesmos. Lembra daquele março de 2020? Das ruas vazias, dos aplausos para profissionais de saúde, do silêncio que ecoava nas cidades como um lamento coletivo? Hoje, ao olhar para trás, não vemos apenas um período de luto, mas um labirinto de perguntas sem resposta e verdades redescobertas. O que restou de nós depois da tempestade? Ou melhor, depois da Covid…

Nos primeiros dias, a pandemia era uma névoa espessa. Fechamos portas, abrimos laptops e descobrimos que o mundo cabia em uma tela de 15 polegadas. Trabalhar de pijama, fazer happy hour por Zoom, assistir a aulas de ioga entre a sala e a cozinha — tudo parecia temporário, um improviso. Mas o temporário virou crônico. E, sem perceber, começamos a confundir estar online com estar vivo. Quantos de nós não sentiram, naquela época, que o ar estava mais pesado, as horas mais longas, e o futuro mais distante?

Ainda assim, no meio do caos, algo brotou. Jardins em apartamentos, pães caseiros fermentando na madrugada, livros esquecidos reabertos. Redescobrimos o cheiro da terra molhada, o sabor do café sem pressa, o valor de uma videochamada com quem amamos. O isolamento nos ensinou que a vida não precisa ser um turbilhão para valer a pena — às vezes, ela se esconde nos intervalos. Quando as viagens foram suspensas, o turismo virou uma nostalgia, mas também uma reinvenção. Quem nunca explorou um parque perto de casa, como se fosse a primeira vez, ou ouviu histórias de familiares como se fossem guias de lugares distantes? Eu mesma, no meu programa na Rádio JBFM, onde na época era mais nichado em dar dicas de viagem, tive que me reinventar e dar novas roupas para uma personagem, a viagem,  que precisava ficar guardada no armário, junto com a mala. 

O tempo passou, as máscaras caíram, e os aeroportos voltaram a ser lugares de encontros. Mas não foi um retorno, foi um renascimento. As pessoas não queriam apenas “voltar ao normal” — queriam algo melhor. Viagens deixaram de ser checklists de pontos turísticos para se tornarem buscas por significado: comunidades locais apoiadas, hotéis com energia solar, roteiros que incluíam conversas com moradores, não só selfies em monumentos. A pandemia, afinal, nos mostrou que somos parte de uma rede frágil. E o que é viajar senão reconhecer que cada lugar é feito de pessoas, não apenas de paisagens?

Mas não foi só o turismo que mudou. A forma de trabalhar, amar, consumir e até respirar ganhou novos contornos. O home office revelou que produtividade não precisa ser sinônimo de exaustão, mas também expôs a solidão de quem morava entre quatro paredes. A saúde mental, antes tabu, virou assunto de almoço de família. E, de repente, percebemos que “resiliência” não era um jargão corporativo, mas uma necessidade humana — tão vital quanto o oxigênio.

Claro, não dá para romantizar, ninguém aqui é idiota a ponto de levantar essa bola. A pandemia escancarou o abismo entre quem podia se isolar em home offices e quem precisava pegar ônibus lotado para garantir o almoço. Enterramos amigos, sonhos e certezas. Mas talvez a maior lição tenha sido aprender a conviver com a ambiguidade: somos ao mesmo tempo frágeis e fortes, perdidos e esperançosos, cansados e curiosos.

Cinco anos depois da Covid, carregamos marcas. Algumas são cicatrizes, outras, tatuagens escolhidas a dedo. Ainda hesitamos antes de um abraço, mas abraçamos mais forte. Ainda checamos notícias, mas valorizamos mais o cheiro da grama após a chuva. E quando viajamos, levamos na bagagem uma pergunta que não cala: como podemos cuidar melhor deste mundo — e uns dos outros?

No Embarque na Viagem, sempre acreditamos que viajar é vivenciar experiências memoráveis. E hoje, mais do que nunca, escolher para onde ir é também escolher que mundo queremos reconstruir. A pandemia não nos deu respostas prontas, mas nos entregou uma bússola. Seu ponteiro não aponta para o norte — aponta para dentro. Talvez a maior viagem desses cinco anos não tenha sido aqui por fora, cruzando fronteiras, mas pra dentro, através de nós mesmos. E se ainda há esperança nesse aniversário de cicatrizes, é porque aprendemos, no fim do caminho, que recomeços não precisam ser grandiosos. Basta que sejam humanos.

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