O Rock in Rio se destacou em 2024 por proporcionar uma infraestrutura inclusiva e atenta às necessidades de pessoas com deficiência, assim como em buscar novas soluções sustentáveis para o planeta
O Rock in Rio 2024 trouxe uma série de propostas voltadas à sustentabilidade e acessibilidade, tornando-se um dos maiores exemplos de como um evento de grande porte pode se transformar em uma experiência inclusiva e consciente. Fizemos uma análise sobre o que foi bem executado, os pontos a melhorar e sugestões para futuras edições.
Acessibilidade: um evento cada vez mais inclusivo
O Rock in Rio se destacou em 2024 por proporcionar uma infraestrutura inclusiva e atenta às necessidades de pessoas com deficiência (PCDs). Entre as principais ações, vale destacar a presença de intérpretes de Libras em todos os palcos, adicionando emoção aos shows para aqueles com deficiência auditiva. O “Espaço Sinta o Som” também foi um grande sucesso, permitindo que o público absorvesse a vibração dos espetáculos através de tecnologias sensoriais avançadas.
Além disso, o evento ofereceu plataformas elevadas para melhor visualização dos shows, cadeiras de rodas motorizadas e manuais, além de suporte técnico para consertos desses equipamentos. A presença de um mapeamento tátil e pisos adaptados na Cidade do Rock garantiu maior mobilidade para pessoas com deficiência visual.
A conscientização se mostrou muito presente pelo público geral, nos momentos em que a prioridade de um PCD era requisitada, tudo foi muito mais dinamicamente resolvido, destacando, assim, a presença de um pensamento importantíssimo para a sociedade.
Um dos pontos altos foi a “Acessibilidade Sensorial”, voltada para pessoas com neuro divergências como autismo e TDAH. O espaço sensorial, os kits distribuídos e os cordões de girassol foram ótimas iniciativas para reduzir a sobrecarga de estímulos, promovendo uma experiência mais confortável. Outro aspecto importante foi a pulseira de identificação para menores de idade, essencial para a segurança e controle no consumo de bebidas alcoólicas.
O que pode melhorar
Apesar dos esforços, a lotação nas plataformas elevadas e a falta de kits para PCDs em determinados momentos continuam sendo desafios. Mesmo com cadastro prévio, houve situações em que a demanda superou a oferta. A ampliação do espaço e aumento no número de kits são medidas necessárias para garantir que todos possam usufruir da estrutura.
Algumas ativações de marcas também não foram acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida ou com condições sensoriais específicas. É crucial que essas iniciativas considerem a inclusão como parte de sua estratégia, buscando alternativas que contemplem todo o público.
Sustentabilidade: um evento pensando no futuro
Em termos de sustentabilidade, o Rock in Rio implementou ações importantes, como a promoção do uso de copos reutilizáveis feitos de material reciclável. Embora os preços acessíveis das bebidas incentivassem o uso desses copos, a exigência de um copo diferente para cada tipo de bebida acabou desmotivando algumas pessoas.
Os painéis solares instalados em postes pelo evento, em parceria com a Neoenergia, foram uma adição eficiente para reduzir o consumo de energia. Além disso, a Braskem incentivou a coleta de resíduos plásticos através de desafios, com brindes sustentáveis como recompensa, promovendo a conscientização sobre reciclagem e economia circular.
A Gerdau também contribuiu para a sustentabilidade ao fornecer a estrutura do Palco Mundo, feita 100% de aço reciclável, além de apresentar ao público um pouco sobre a importância da reciclagem de metais. O projeto de alimentação saudável também deu seus primeiros passos, oferecendo opções veganas, vegetarianas e menos processadas, mas pode melhorar.
Pontos de atenção e oportunidades
Ainda que as ações de sustentabilidade tenham sido relevantes, há espaço para melhorias. Uma iniciativa que poderia ser aprimorada é o destino do óleo de cozinha utilizado nas áreas de alimentação. O reuso desse material para produção de sabão ou biodiesel poderia ampliar o impacto sustentável do evento e integrar-se ao conceito de economia circular.
Outro ponto que merece atenção é a falta de sombra em diversas áreas do evento. O sol forte, uma triste realidade em tempos de descompensação climática que vivemos, é um desafio para quem passa longas horas no local, especialmente na fila para entrar. Adicionar guarda-sois ou espaços sombreados em pontos estratégicos ajudaria a diminuir esse desconforto, promovendo uma experiência mais agradável para o público.
Além disso, os poucos espaços climatizados, como o Pub na Global Village e a Gourmet Square, ficavam lotados rapidamente, limitando o acesso. A ausência da GamePlay Arena, presente em edições anteriores, foi sentida, pois além de ser um atrativo popular, ajudava a distribuir melhor o público e reduzir filas.
Caminho certo, mas com espaço para evolução
O Rock in Rio continua sendo pioneiro em acessibilidade e sustentabilidade em grandes eventos, mas sempre há oportunidades para evoluir. Aumentar o espaço para PCDs, melhorar a gestão da lotação nas áreas sombreadas e expandir os projetos de sustentabilidade são passos essenciais para garantir que o festival se mantenha à frente em termos de inovação social e ambiental. Ao olhar para 2030, as metas sustentáveis do evento prometem um futuro ainda mais verde e inclusivo, mas a caminhada até lá exige ajustes finos e um olhar atento às demandas do público.
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