O excesso de turismo se tornou um grande problema em todos os lugares, desde as praias da Europa até as capitais populares
Muitas cidades na Europa estão passando por um processo delicado, intitulado por especialistas do setor como “overtourism”, que podemos traduzir como um fenômeno que ocorre quando um destino turístico recebe um número excessivo de visitantes, afetando negativamente a qualidade de vida dos moradores locais, a infraestrutura e os recursos naturais.
Afetados pelo “overtourism”, muitos destes destinos estão tão lotados que os próprios moradores estão pedindo restrições mais significativas no número de visitantes, especialmente nos locais mais populares, que são inchados de turistas interessados em tirar selfies para postar nas redes sociais, e que na verdade pouco se importam com a cultura e a história local.
Um belo exemplo deste processo de turismo de massa é Hallstatt, cidade na Áustria, declarada Patrimônio Mundial da Unesco. A cidade é tão pitoresca que mais parece uma pintura, com suas montanhas e águas cristalinas do lago Hallstätter, o que acabou despertando tamanha curiosidade que já está tirando a paz de moradores do local que, segundo dizem, serviu de inspiração para Arendelle, a cidade fictícia da franquia Frozen.
A beleza da cidade atrai tantos turistas – mais de um milhão a cada ano, sedentos por selfies com a vista famosa – que os moradores já estão cansados. O excesso de turismo chegou a tal ponto que, pela pressão e protestos dos residentes, o governo da cidade decidiu colocar uma cerca de madeira para impedir que os visitantes tirem fotos no local mais “instagramável”.
A barreira, destinada a impedir que os turistas perturbassem a vida dos moradores, gerou uma reação negativa nas redes sociais, segundo a Euronews, e teve que ser removida.
Ao invés da cerca, o prefeito de Hallstatt anunciou que instalarão uma faixa lembrando os turistas de que pessoas vivem na área. “Para controlar o excesso de turismo, Hallstatt já estabeleceu limites diários para o número de ônibus e carros que podem entrar na cidade”, relata a Euronews.
Um outro exemplo bem recente, que acabou de ser noticiado vem da França: o governo francês tem implementado várias medidas para lidar com o turismo excessivo no país. Uma das medidas adotadas é a criação de uma taxa de turismo em algumas cidades, como Paris, que visa reduzir o número de visitantes e financiar projetos de conservação do patrimônio histórico. Além disso, o governo tem incentivado o turismo em outras regiões do país, além da capital, para diminuir a sobrecarga em pontos turísticos muito procurados.
Outras medidas recentes contra a lotação também incluem limites no número de visitantes na cidade de Marselha, também na França, e proibições de navios de cruzeiro em Veneza, na Itália.
Em Veneza com milhões de pessoas inundando a cidade ao longo do ano, o número de turistas por habitante subiu para 21 e com esse crescimento, sérios desafios ambientais devido à sua localização única no meio de um canal precisam ser solucionados.
Na Espanha o problema se repete. Várias ilhas espanholas têm expressado frustração com o tanto de turistas britânicos, como Lanzarote, que se declarou uma “área saturada de turistas”. Já Mallorca planeja estabelecer um limite de 430.000 camas para viajantes em toda a ilha.
A cidade de Portofino, na Riviera Italiana, com apenas 400 habitantes (mas também inundada por milhares de visitantes), estabeleceu “zonas para não ficar parado” para impedir que os turistas parem para fazer selfies. Qualquer pessoa flagrada no cais por muito tempo entre as 10h30 e às 18h corre o risco de pagar uma multa de cerca de € 270 (cerca de R$ 1.400).
“O excesso de turismo se tornou um grande problema em todos os lugares, desde as praias da Europa até as capitais populares”, acrescenta a Euronews.
Outras capitais europeias lotadas de turistas
Bruges (Bélgica) está em pé de igualdade com Veneza em termos de turistas por habitante. Rodes, na Grécia, também. Juntamente com Mykonos e Santorini, as ilhas gregas que abrigam pequenas comunidades, elas nunca foram projetadas para suportar a afluência de milhões de visitantes. É sempre bom reforçar que pessoas moram nesses lugares e têm pleno direito de viver suas vidas em paz, com harmonia, tendo seus limites respeitados.
Reykjavik (Islândia), com 16 turistas por habitante, tornou-se cada vez mais popular nos últimos anos com suas paisagens únicas e isso também vem se tornando um problema no país gelado e encantador.
Lisboa, passou recentemente por um sufocamento turístico similar, onde bairros tradicionais, como a Alfama, acabaram sendo descaracterizados, perdendo seus famosos varais de roupas penduradas nas janelas, entre outros detalhes, uma vez que os moradores foram gradativamente sendo expulsos da região pelo aumento abusivo de aluguéis, na evidente intenção de transformar essas moradias em locações airbnb. Não se vê mais portugueses vivendo na Alfama.
Os países mais movimentados durante o verão
A Spire Global, uma empresa de análise de dados, identificou os três países mais movimentados durante o verão, de acordo com os voos internacionais do ano passado:
Grécia
Com 287.070 voos internacionais durante os meses de verão, a Grécia reivindica o primeiro lugar como destino mais popular. Isso representa um aumento de nove vezes em agosto, o mês mais movimentado da Grécia, em comparação com o mês mais tranquilo do país, fevereiro.
Croácia
Em segundo lugar, a Croácia registou um aumento de cinco vezes nos voos internacionais durante o verão, totalizando mais de 55.150 voos de chegada em julho.
Albânia
Em terceiro lugar, atraindo mais de 35.530 voos internacionais em julho, a Albânia experimentou um aumento de cinco vezes na densidade de voos durante o verão em comparação com a baixa temporada.
Entre as formas de reduzir o “overtourism”, a superlotação de algumas cidades, também foram implementadas regras mais rígidas para o aluguel de apartamentos para turistas.
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