Em novembro estive no Chile a convite do Turismo Chile em parceria com a Foody Chile para conhecer um pouco mais a sua culinária. Visitei o restaurante El Hoyo, um lugar onde turistas, famílias e trabalhadores locais se reúnem e se misturam. Mesmo na hora do almoço a rua parece vazia, e “La Picá” está sempre lotado – o duplo sentido está só na sua cabeça. Os Chilenos, especialmente em Santiago, são famosos por falar muito rápido, usar gírias só deles e cortar as palavras pela metade. Assim, “La Picá” vem de “La Picada”, que pode ser, um lugar que você gosta de frequentar, ou simplesmente um barzinho.
O restaurante fica no centro de Santiago, na parte mais simples – a região concentra muitas lojas populares (como comparação seria uma espécie de 25 de Março de São Paulo ou a parte central de Madureira no Rio de Janeiro), é um lugar sem luxo, a bebida é barata e os pratos são enormes e saborosos!
O nome da casa “Taberna El Hoyo – Chicha, Chancho y Pipeño”, diz quase tudo sobre o local: El Hoyo: na tradução significa “O buraco”. Chicha é uma bebida típica e tradicional no Chile a base de milho. Chancho: É o Porco, e com certeza a carne suína é a especialidade da casa e Pipeño é uma espécie de vinho caseiro, artesanal, geralmente “de garrafão”, ótimo para preparar um “Terremoto” (falo sobre ele mais abaixo). Ou seja, um restaurante simples, com comida chilena tradicional e autêntica.
As porções são muito bem servidas, então vá com bastante apetite. Antes da refeição não deixe de experimentar uma clássica bebida típica do Chile, o Terremoto. Ela é feita com vinho de fabricação artesanal, o pipeño branco, que ao ser misturado com sorvete de abacaxi bem cremoso, ganha muita consistência. Alguns bares acrescentam também aguardente, mas no restaurante El Hoyo é somente vinho pipeño e sorvete. Como sugestão, peça uma porção de Pastel de Choclo para o “Terremoto” não te derrubar. O Pisco Sour do restaurante também é muito bom.
Os destaques gastronômicos vão para o pernil de leitão, cozido a moda da casa e servido inteiro com batas cozidas, o “arrollado de cerdo”, uma pequena manta de couro de leitão com a qual se faz um amarrado contendo vários pedaços de carne de porco e temperos, na forma de um rolo, e outra especialidade é a Plateada com salada a la chilena, mas minha opção de guarnição foi purê picante, que somado ao Pebre, um molho feito com tomates frescos, cebola, alho, coentro e pimenta, e um pouquinho de Mérken (pimenta da família jalapeño) me deixou extasiado. Se ainda tiver espaço para a sobremesa, minha sugestão é o doce “Leche Asada”.
Anthony Bourdain, o famoso chef nova-iorquino, classificou sua visita ao El Hoyo como a melhor experiência culinária que ele teve no Chile, eu não concordo, pois eles usam bem menos sal do em outros lugares, então fica tudo meio sem sabor para os padrões brasileiro. Mas basta colocar uma pitadinha de sal ou uma boa pimenta, a Mérken não é forte e no purê faz uma diferença, que o sabor “aparece”.
Atenção: o local é meio deserto à noite e por conta disso sugiro visitar o restaurante para almoçar, se quiser jantar minha sugestão é o El Hualso Enrique. Se for durante o dia você pode ir de metrô e andar umas 3 ou 4 quadras até o restaurante, mas se for para jantar pegue um táxi no metrô.
Taberna El Hoyo – Chicha, Chancho y Pipeño – www.elhoyo.cl
Rua San Vicente 363, Santiago, Região Metropolitana, Chile.
Horário: Segunda à Sexta 11hs as 23hs, sábado 11hs às 21 horas.
A casa não funciona aos domingos e feriados.
A história do terremoto:
Depois do terremoto de 1985 no Chile, muitos jornalistas estrangeiros foram para Santiago cobrir o acontecimento. Entre eles estava um grupo de alemães que vagando por Santiago, onde o calor de março ainda estava muito presente, decidiram entrar no El Hoyo para refrescar a garganta. Eles ainda não conheciam o pipeño. Enquanto a bebida era preparada, o neto do fundador, Guillermo Valenzuela, resolveu acrescentar sorvete de abacaxi para deixar a bebida mais refrescante. Quando os alemães deram o primeiro gole, logo um gritou “isso vai ser um terremoto!“. Assim nasceu a bebida que hoje é super tradicional.