” – Minha filha de onde você tirou esses dois baldes de leite fresco na mão?”
” – Ora mãe, da Rúcula, claro. De onde mais?”
” – Mas o que vai fazer com eles?”
” – Queijo né mãe! Que pergunta é essa? Você sabe que eu não bebo leite”
” – Fazer queijo? Você me disse que queria ser especialista em queijos, não produtora.”
” – E que especialista eu serei se nunca produzi meu próprio queijo? Para ser A especialista em queijos e falar com propriedade dessa 8ª maravilha eu preciso primeiro saber como fazer um bom queijo né. Você está parecendo esse bando de gente que agora deu pra achar que é crítico de tudo sem nem saber como as coisas funcionam”
” – Desculpa minha filha, só fiquei curiosa”
” – Sem problema mãe, agora aproveita e vem me ajudar que já te aviso que fazer queijo não é tão simples como alguns podem pensar”
Esse diálogo aconteceu alguns dias atrás entre minha mãe e eu, na casa da minha família em Itaipava. Rúcula é a vaca da raça Guernsey, originária da França, que costuma produzir um queijo saboroso e macio.
Tudo aconteceu enquanto eu dormia um sono profundo, porque eu não faço queijo, não pretendo ser A especialista no assunto e não tenho uma vaca em casa (apesar de querer MUITO).
Esse sonho me fez pensar e repensar sobre alguns tópicos, um deles é o que o nosso subconsciente é capaz de fazer nas nossas horas de sono. Algo realmente extraordinário.
O outro ponto é essa capacidade de novos críticos especialistas em absolutamente tudo e qualquer coisa – os donos da razão. Menos minha gente, menos.
Por último, mas não menos importante, a obsessão diária que se transforma em sonho. Tenho andado bem obcecada por queijos, quem me conhece sabe, são livros, horas de pesquisa no oráculo (leia-se: Google), muitas ideias, conversas e degustações (não sou de ferro).
Esse alimento que acompanha o homem há séculos, cada qual com sua peculiaridade, sabor e odor. Já serviu de moeda de troca, já foi justificativa usado por Winston Churchill ao declarar apoio a Fraça durante a Segunda Guerra Mundial. Pra mim vem muito antes que muitas das Sete Maravilhas do Mundo.
Alimento que toma conta de boa parte dos meus pensamentos, hoje, por exemplo, pensei nele o dia inteiro. Revisitei meu sonho e imaginei o que poderia sair disso tudo. Aí lembrei que na geladeira de casa três tipos de queijo me esperavam, comprados na minha loja preferida da cidade (Casa Carandaí).
“ – Como ainda não inventaram a máquina de tele transporte? Não vou aguentar esperar o ônibus.”
Não tive muita opção e enquanto fazia o trajeto pra casa me dei conta que precisava descer no mercado para comprar o meu queijo do café da manhã.
Seria obsessão? Ou uma simples admiração atrelada a um prazer indescritível ao saboreá-lo? Algo que não consigo explicar, mas meu subconsciente entende tão perfeitamente que me levou durante meu estado mais profundo para a casa em que me sinto segura, ao lado da vaca que tanto desejo, produzindo o que me desperta imenso prazer, para então entendê-lo melhor.
Quer começar a se aprofundar nesse mundo (sem volta) magnifico? A leitura de “O livro do queijo”, organizado por Juliet Harbutt, um bom vinho e alguns queijos. Fuja do cotidiano, ouse e deixe-se levar pelo encanto de sabores e sensações que uma simples noite na companhia deles pode proporcionar.
E na hora do sono permita-se ir até onde deseja.