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8ª edição do Prêmio Internacional Ernesto Illy do Café foi realizada na ONU, em NY

Durante o Prêmio Internacional Ernesto Illy, os principais especialistas do setor cafeeiro se reuniram em Nova York para discutir o futuro da produção cafeeira com ênfase em dois temas: o desenvolvimento social e a necessidade de adaptação às mudanças climáticas.

Prêmio Internacional Ernesto Illy

No prêmio Prêmio Internacional Ernesto Illy concorreram os 27 cafeicultores selecionados de nove países que fornecem grãos para a illycaffè, dos vencedores três são brasileiros. Luis Manuel Ramos Fachada Martins da Silva, Raimundo Dimas Santana Filho e São Mateus Agropecuária.

Raimundo Dimas Santana Filho, da fazendo Santo Antônio localizado nas  matas de Minas Gerais,  ganhou o prêmio pela terceira vez. “Meu pai começou a vender nosso café para Illy desde 2000. Em 2014  eu assumi o comando com as mesmas diretrizes do meu pai. Atualmente 50% da nossa produção vai para Illy.”

Raimundo conta que para cuidar do meio ambiente eles investem em conservação e limpeza do rio que banha sua fazenda, além de empregar só pessoas da região com bom pagamento e férias, tudo dentro da lei.   “As mudanças climáticas ainda não nos afetaram fortemente, mas os períodos chuvosos estão aumentando e essa é uma preocupação constante que temos”, afirma. 

Luiz Manuel Ramos Martins da Silva, da fazenda Vista Alegra na Chapada da Diamantina,  e Eduardo Dominicale ganharam o prêmio internacional da Illy pela primeira vez. 

Faz nove anos que Luiz Manuel Ramos Martins da Silva se tornou fornecedor da Illy. Ele começou pequeno e foi aprendendo o padrão de qualidade da empresa até consolidar a parceria e fornecimento. “Já ficamos em sexto e em quarto lugar na premiação do Brasil.  Todos os grãos passam por uma análise de qualidade e a Illy é uma das empresas mais exigentes, porém é a que melhor paga fazendo uma venda direta e assim remunerando muito bem o produtor”, ressalta.

Sobre as ações sustentáveis, Luiz Manuel Ramos Martins da Silva conta que sua empresa faz uma série de ações como por exemplo a reutilização de resíduos naturais. “Usamos a casca de eucalipto para proteger o solo para novos plantios e adubação para aumentar a produção orgânica com isso minimizando a utilização de  herbicidas, tampando o solo e evitando de um modo natural, as infestações de ervas daninhas.”

Em 2019 sua fazenda começou um projeto de emissões de carbono. Ele também contratou um serviço da Universidade de Viçosa para fazer uma medição de todos os poluentes que eles jogam na atmosfera durante o processo produtivo e também uma medição de todo o carbono sequestrado da atmosfera das nossas atividades. “Ou seja, numa área florestal uma árvore sequestra o carbono da atmosfera que vira massa, madeira e com essa contabilização nós conseguimos um resultado de 67 mil toneladas de carbono sequestrado da atmosfera em um ano, além do que a gente gastou. A folha do café também sequestra o carbono e a própria matéria orgânica do solo”, explica Luiz Manuel Ramos Martins da Silva. 

Ele acrescenta que infelizmente as mudanças climáticas têm afetado suas plantações, e todo ano tem sido diferente, um ano é seca e outro ano é chuva. “Este ano especificamente tivemos chuva espaçadas com uma onda de calor muito intensa. E não podemos fazer nada. Fazemos o dever de casa no sentido de tentar cuidar da natureza e do café com a tecnologia que temos acessível. Ninguém manda na natureza, dependemos dela e não podemos fazer nada. Se continuar esse período de muito calor no Brasil como está agora podemos ter algum prejuízo no futuro.” 

Outro estreante no Prêmio Internacional Ernesto Illy, Eduardo Dominicale,  da fazendo São Mateus, conta que um de seus maiores diferenciais ligados à sustentabilidade é o reuso da água potável durante a lavagem do café.

A Fazenda São Mateus economiza 80% a 90% da água graças a um equipamento chamado eco filtro, que permite a filtragem da água e retirada das impurezas. Ao final do processo, a água e os resíduos do café são destinados à compostagem para transformação em fertilizante, que, por sua vez, é utilizado nas plantações de café. Um ciclo sustentável que evita o desperdício de recursos naturais.

“Outra medida adotada pela fazenda é a irrigação por gotejamento. O funcionamento, como o próprio nome diz, tem como base a ação de gotejar da água diretamente na raiz da planta. Os gotejadores se estendem por toda a lavoura, permitindo assim uma irrigação uniforme do cafezal. Este recurso é benéfico pois permite um maior controle do consumo, evitando o desperdício de água em locais já irrigados e a condução em locais de maior seca. A fazenda possui ainda uma área com muitas nascentes para as quais são mantidas ações de preservação com objetivo de contribuir com a sustentabilidade do planeta”, explica Eduardo Dominicale. 

Ele acrescenta que a adoção de medidas mais sustentáveis no campo é reflexo de uma demanda que parte dos próprios consumidores que buscam produtos feitos com respeito ao meio ambiente e relações socialmente justas com o restante da cadeia produtiva. As empresas estão conectadas à agenda ESG e passam, a cada dia, a adotar práticas mais transparentes.

“A Fazenda possui projeto com a Nestlé que inclui 1,600 mil abacateiros em meio aos cafezais, para sombrear a lavoura, ajudar na reciclagem de nutrientes e sequestrar carbono da atmosfera. Dados de umidade e temperatura são monitorados em pesquisa com a consultoria ReNature, contratada pela Nestlé.

Possui também projeto para plantio de espécies no meio das lavouras que atraiam insetos que são inimigos naturais das pragas comuns ao café, e assim favorece a utilização de defensivos;

O café é uma das commodities agrícolas mais importantes. 

O painel de discussão organizado pela illycaffè, durante o Prêmio Internacional Ernesto Illy, na sede da ONU contou com a participação da editora-chefe da revista Tea & Coffee, Vanessa Facenda, e de alguns dos maiores especialistas mundiais do setor, como Vanusia Nogueira, Diretora Executiva. da Organização Internacional do Café, Andrea Illy, presidente da illycaffè e co presidente da Regenerative Society Foundation, Jeffrey Sachs, economista e copresidente da Regenerative Society Foundation, Oscar Schaps, presidente da divisão América Latina da Trading StoneX Financial Inc. e trader de commodities, e Glaucio De Castro, presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro.

O café é uma das commodities agrícolas mais importantes. Milhões de empregos são criados para as famílias se sustentarem e cerca de 12,5 milhões de explorações agrícolas, geridas por pequenos agricultores, trabalham em alguns hectares de terra. Destes, 95% têm no máximo cinco hectares e 84% têm área inferior a dois hectares.

Por outro lado, os produtores de café muitas vezes necessitam de mais alternativas para cultivar este produto, o que cria uma dependência considerável das exportações de muitos países. No entanto, nas últimas duas décadas, os preços baixos e voláteis do café tiveram um impacto preocupante nas comunidades agrícolas.

Segundo o Coffee Barometer, isto é particularmente relevante para produtores de países que contribuem com 15% dos volumes globais, como África e América Central. Agora, as melhorias notáveis que a cultura do café alcançou nas últimas décadas através do processo de “desmercantilização” – melhorias que ainda têm um longo caminho a percorrer antes de alcançar a sustentabilidade económica, social e ambiental – correm o risco de serem revertidas devido às alterações climáticas.

Os especialistas estimam que seriam necessários aproximadamente 10 mil milhões de dólares nos próximos dez anos para a agricultura regenerativa, que produz benefícios ambientais e de saúde.

Portanto, uma vez que os países produtores não têm capacidade económico-financeira suficiente, é necessário ativar parcerias público-privadas que possam mobilizar fundos da cadeia de abastecimento internacional.

No entanto, este projeto já foi discutido com importantes partes interessadas governamentais, intergovernamentais, não governamentais e privadas. Precisa ser colocado em prática

“Para termos futuro no café, precisamos pensar no Planeta e nas pessoas envolvidas. – afirma Vanusia Nogueira, Diretora Executiva da OIC. “Faz parte de nossa responsabilidade como líderes deste setor buscar alternativas para proporcionar uma melhor vida aos produtores e suas famílias e cuidar do nosso Planeta.

Os desafios são suficientemente grandes para não serem enfrentados individualmente, mas num esforço colectivo e pré-competitivo. Juntos, acredito que podemos encontrar soluções impactantes”.

“O meu café da manhã nunca será cultivado no Central Park, mas continuará a ser cultivado no Quénia, em Ruanda, Uganda, na Etiópia, na Guatemala, na Colômbia, no Vietnam e noutros locais. Um país em desenvolvimento bem gerido, com acesso aos principais mercados e ao financiamento internacional, pode crescer rapidamente”, diz o economista Jeffrey Sachs. “O verdadeiro desenvolvimento econômico visa transformar a nossa sociedade, criando aumentos sustentáveis no bem-estar através de investimentos em capital humano, infra-estruturas físicas e empreendimentos comerciais, tudo com atenção à preservação do capital natural do qual a nossa economia e sobrevivência dependem. – degradação ambiental induzida, precisamos de transformar as nossas economias de acordo com os princípios fundamentais do desenvolvimento sustentável e da regeneração do capital natural. O princípio mais básico de todos é agir para o bem comum. Devemos começar pela cooperação dentro das nossas comunidades, nações, e globalmente”.

“Duas coisas são necessárias para a adaptação às alterações climáticas: melhores práticas agronómicas e a renovação das plantações com variedades mais resistentes. A agricultura regenerativa parece responder à primeira necessidade, e espero que isto se torne um modelo para toda a cafeicultura. está em causa, precisamos de acelerar consideravelmente”, afirma Andrea Illy. “Tudo isto exige investimentos na cadeia de abastecimento que não podem mais ser adiados.

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