Sinalização educativa, painéis expositivos e um guarda-corpo renovado compõem a renovação que preserva a memória do principal porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas
Nesta manhã ensolarada, o coração do Rio de Janeiro pulsou mais forte com a entrega das obras de revitalização do Cais do Valongo. Este sítio arqueológico, envolto em história e agora renovado, reabre suas portas para contar uma narrativa impactante que marcou nossa história nos séculos 18 e 19.
Investindo R$ 2 milhões em sua revitalização, o monumento, reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Unesco desde 2017, agora exibe novos elementos. Sinalização educativa, painéis expositivos e um guarda-corpo renovado compõem a renovação que preserva a memória deste que foi o principal porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas.
Descoberto em 2011 durante as escavações do Porto Maravilha, o Cais do Valongo é mais do que pedras e estruturas antigas; é um testemunho vivo de um capítulo sombrio, um farol que ilumina a luta contra o racismo estrutural.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, ressaltou a importância de preservar essa memória, destacando o Cais como um porto da história que deve manter as pessoas negras no controle de seus destinos. O coordenador de comunicação do Instituto Pretos Novos, Alexandre Nadai, enfatizou a relevância de conhecer o Valongo, um marco que simboliza o crime contra a humanidade que foi a escravização de milhões de africanos.
Hoje, ao reabrir suas portas, o Cais do Valongo não é apenas um local revitalizado, mas um convite para todos conhecerem e compreenderem a complexidade de nossa história. É um passo na direção de mitigar o racismo estrutural que persiste em nossa sociedade.
Pequena África
O Cais do Valongo está localizado em uma área conhecida como Pequena África, caracterizada pela presença predominante de uma população negra e por sua vinculação à diáspora africana. Nessa região, encontram-se locais emblemáticos como o Cemitério dos Pretos Novos, que servia como local de sepultamento para africanos recentemente desembarcados no Valongo que faleciam antes de serem vendidos, e a Pedra do Sal, considerada um dos berços do samba carioca.
O babalaô Ivanir dos Santos, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Comitê Gestor do Cais, destaca que além da mão de obra escravizada, o cais também introduziu uma nova perspectiva de civilização por meio da cultura, espiritualidade, costumes e sociabilidade africanas. Ele ressalta a influência significativa desses elementos na sociedade brasileira contemporânea, citando a capoeira, o samba e o maracatu como exemplos.
Recentemente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou iniciativas destinadas à preservação e valorização da memória e herança africanas na Pequena África. Uma dessas medidas é um acordo de cooperação técnica com diversos órgãos governamentais, incluindo o Iphan e os ministérios da Cultura e da Igualdade Racial, visando a elaboração de um planejamento físico-espacial para a região, com o objetivo de estabelecer um distrito cultural em um prazo de três anos.
Além disso, foi divulgado o consórcio encarregado de gerir o edital Viva Pequena África, cujo propósito é fortalecer instituições culturais locais, estruturar uma rede de representantes da memória e herança africanas no Brasil e incentivar a criação de uma nova rota turística conectada aos itinerários de afroturismo nacionais e internacionais. O consórcio, composto pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Instituto Feira Preta e Diaspora Black, será responsável por administrar um fundo de R$ 20 milhões, sendo metade proveniente do Fundo Cultural do BNDES e a outra metade a ser angariada junto a doadores.
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