‘Amor Natural’ – Série LGBTQIA+, preta e periférica estreia no Dia Internacional do Orgulho

Dividida em cinco episódios, a série relata uma trama de amor moderna, afirmativa e afrofuturista

Amor Natural

No aclamado espetáculo de teatro “Cuidado com Neguin”, o ator, diretor e dramaturgo carioca Kelson Succi expôs nos palcos o “corre” de um neguin preto, pobre e favelado no “quadrado branco” da cidade do Rio de Janeiro. Na última cena da peça, ele enfatiza: “Eu gostaria de falar de amor”. Agora, anos depois, Succi se une ao ator e pesquisador LGBTQIA+ Vinicius Teixeira, para traduzir esta frase e necessidade no primeiro projeto audiovisual do selo do Neguin: a série ficcional, afirmativa, LGBTQIA+, preta e periférica “Amor Natural”, que estreia no próximo dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, no YouTube do Sesc Rio.

Dividida em cinco episódios curtos, de até 10 minutos, que serão lançados semanalmente às segundas, “Amor Natural” contará uma história de amor moderna e afrofuturista vivida entre os protagonistas Andrei (Succi), Guilherme (Teixeira) e Maria Júlia (interpretada pela atriz e influenciadora digital Érica Ribeiro), evidenciando temas como arte, violência, poesia, futebol, racismo, a efemeridade dos relacionamentos pela internet, música e, claro, amor. 

Uma caótica e quente Zona Norte do Rio de Janeiro é o cenário dessa trama. Andrei é artista plástico, joga futebol, é morador do Complexo do Alemão e é a representação perfeita do preto livre. Guilherme é designer, apaixonado por arte e morador da Tijuca. Eles se conhecem num aplicativo de “pegação gay”. E o que era para ser apenas uma “fast foda” se torna um encontro profundo repleto de identificações, poesia e afeto. 

Após se conhecerem, eles entendem que estão apaixonados. Porém, os dois precisam lidar com a realidade e com as diferenças entre seus mundos. Completando o time de protagonistas está Maria Julia, uma empresária ousada, cheia de coragem e sensibilidade que tem muito orgulho de onde veio e que trabalha com Andrei.

– Em tempos em que ainda precisamos lutar para ver nossas histórias nas telas, “Amor Natural” se apropria da ficção para contar uma história real de amor que além de LGBTQIA+, preta e periférica, expõe as nossas visões desses temas e as mazelas que ainda enfrentamos como o racismo, o machismo, a homofobia e a transfobia, que atravessam as relações cotidianas e amorosas – afirma Succi.

Tudo isso conduzido sob uma narrativa assertiva, documental e romântica com roteiro escrito por Kelson Succi – que também assina a direção – com colaboração de Vinícius Teixeira e Erica Ribeiro. Ainda integra o elenco o ator Reinaldo Junior, que viverá Carlinhos e a atriz trans Lux Nègre, escolhida numa convocatória pública via Instagram do projeto “Cuidado com Neguin”.

A trilha sonora também tem papel fundamental no desenrolar da história. A canção “afro futurista”, de Fran e Gilberto Gil, foi a escolhida para a abertura da atração, resumindo os encontros e desencontros desses personagens. A faixa “bateu forte”, também de Fran, é outro destaque. Já a trilha original é assinada pelo músico carioca Fenanu.

Como contar histórias que não são contadas

Para o idealizador Kelson Succi, “Amor Natural” é uma obra que dá voz às inquietações de muitos Andreis, Guilhermes e Marias Júlias, que não têm a chance de ter suas histórias contadas na dramaturgia contemporânea.

– Ao ambientar os acontecimentos na Zona Norte e com uma proposta para o YouTube, a série quer alcançar espectadores favelados, pretos, LGBTQIA+, suburbanos e fluminenses, chegando até mesmo em outras periferias pelo Brasil. Nossa intenção é que essas pessoas vejam as suas histórias e se sintam representadas – afirma.

Vinícius Teixeira, também idealizador e protagonista, revela ainda que muitas das histórias e olhares presentes na série são inspirados nos próprios atores.

– Sou gay e filho de militar. Durante muito tempo reprimi os meus afetos e a minha sensibilidade. Tive essa barreira e descobri na arte uma saída para me transformar e ver como essas relações eram naturais e possíveis. A comunidade LGBTQIA+ cresce sem poder viver e entender o que, de fato, é o afeto, o amor. Muito disso, desse nosso olhar, dessas nossas experiências, também estão na série, que vai abordar muito essa questão que a própria comunidade carrega por não poder se desenvolver numa sociedade heteronormativa. Estamos falando sobre a gente e para a gente – diz Vinicius Teixeira.

Vivendo Maria Júlia na trama, a influenciadora baiana Érica Ribeiro frisa a importância de ampliarmos as narrativas e os espaços – especialmente na internet – para atrações audiovisuais como “Amor Natural”.

– Ainda é muito limitada a participação de negros na teledramaturgia e no audiovisual. É um espaço extremamente branco e que não amplia as narrativas. Se não positivarmos nossas histórias e trajetórias, não teremos espaço.  Precisamos entender que podemos existir para além dessas narrativas limitadas – conclui.

A série “Amor Natural” tem patrocínio do Sesc Rio e promoveu um financiamento coletivo para a sua realização, que contou com 89 apoiadores. Toda a equipe de profissionais é formada por pessoas negras, trans e/ou LGBTQIA+. 

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