O café foi responsável por sustentar a economia do império brasileiro mas também foi o maior causador da exaustão do solo. A região Vale do Café, RJ, que concentrou maior produção de café no século 19, manteve diversos exemplares de belezas arquitetônicas, mas perdeu a antiga paisagem de Mata Atlântica fechada.
Para resgatar a fertilidade e beleza natural da região, negócios turísticos vem inserindo projetos voltados para a ecologia e sustentabilidade, que também atraem o público para participar e aprender sobre o assunto.
Entre eles está a Fazenda São Luiz da Boa Sorte , que além de além de promover o conhecimento da história, investe na preservação de um bem fundamental à vida: a água.
A fazenda é sede do Projeto Mata D’água, inspirado na agricultura sintrópica que foi difundida no Brasil pelo suíço Ernst Götsch. O projeto consiste na recuperação das nascentes através do plantio de mudas típicas da Mata Atlântica e proteção da área, com ações desenvolvidas em parceria com técnicos e alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE).
“As raízes das plantas penetram o solo e auxiliam na reconstrução do lençol freático, trazendo de volta seu funcionamento natural como reservatório de água”, comenta Nestor Rocha, guardião da Fazenda São Luiz.
Os hóspedes da fazenda também podem participar da atividade, plantando mudas ao longo da área de proteção. Alunos de várias escolas já participaram do projeto, passando dias plantando e aprendendo a importância da manutenção da cobertura vegetal
A Fazenda Alliança Agroecológica é uma das fazendas que mais produziu café no século 19 e optou por deixar os métodos de produção extensiva no passado. Desde que começou a ser gerida pela família Durini, a Alliança passou a ser modelo em produção sustentável e orgânica de alimentos, sem uso de pesticidas ou preparados sintéticos.
O adubo é produzido na própria fazenda em pequenas “biofábricas” que funcionam em tonéis, produzindo insumos a partir de elementos naturais e subprodutos locais. Segundo o técnico responsável, Guido Carrilho, a fazenda investe na agricultura renegenerativa do solo, aumento da biodiversidade e do cuidado com a água, respeitando os ciclos da natureza.
Com mais de 120 hectares de Mata Atlântica preservada, a Alliança foi pioneira na produção de búfalos orgânicos no estado do Rio. Também possui produção de hortaliças, cana, bananas e mais de 100 produtos diferentes. A mais recente produção é a de café especial, o único orgânico certificado da região. O circuito do café, inclusive, é o trajeto oferecido aos visitantes para conhecer o antigo caminho do café e o processo de produção atual na fazenda.
O café orgânico também cresce e aparece na Fazenda das Palmas, fazenda histórica que investe em sistemas agroflorestais para recuperação de áreas degradadas. O café sombreado é tido como alternativa sustentável, já que ele cresce perto de outras culturas, recebendo e fornecendo nutrientes para o sistema que existe ao seu redor.
Entre as atividades oferecidas pela fazenda estão a visita ao cafezal e workshops e oficinas ligadas a práticas agroflorestais. Sérgio Olaya, agrônomo responsável pelo desenvolvimento dessa ideia, conta que o projeto visa ampliar as áreas e colaborar com um novo modelo de agricultura para região. “Instaurar os sistemas agroecológicos, assim como ocorrem na natureza, irá beneficiar a preservação do clima, da água e dos animais, que são atrativos da nossa região”.
Quem quiser se sentir parte dessa experiência de recuperação da paisagem natural, precisa conhecer o Jardim Ecológico Uaná Etê. Antes de receber mais de 30 mil mudas, a área de 135.000 m2 havia sido destruída pela agricultura por anos. Hoje, Uaná é templo da proteção ambiental, com instalações artísticas que promovem a integração com a natureza, além de promover plantios e visitas a espaços com flores sazonais como o campo dos girassóis e das lavandas.
Passeios em conexão com a natureza também são a proposta do espaço Le Vélo Montagne, perto do Lago do Javary, em Miguel Pereira. Os proprietários estimulam passeios de bicicleta oferecendo estrutura para vestiário e banho dos ciclistas, além de cardápio generoso com produtos da região. “Investir no turismo ecológico é uma maneira de investir na conservação, já que esse turista traz consciência ecológica e vê projetos de reflorestamento com muito bons olhos”, conta Daniel Guimarães, do Le Vélo.
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