Em 14 de julho de 1933 o Partido Nazista Alemão aprovou a chamada “lei para a prevenção da ascendência com doenças hereditárias”, que estabelecia um sistema estatal de extermínio de milhões de pessoas. O resultado perverso disso tudo foi a chamada “solução final”, ou seja, os campos de extermínio na Europa controlada pelos nazistas, onde milhares de pessoas foram mortas. As vítimas foram judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e doentes mentais. Adolf Hitler, que nasceu na cidade de Braunau am Inn, na Áustria, foi o maior responsável pelo absurdo volume de atrocidades feitas neste período.
Ao redor do mundo encontramos equipamentos turísticos/históricos de toda ordem. Locais onde nasceram, viveram, morreram ou apenas estiveram personalidades mundiais geralmente são transformados em grandes atrações para os visitantes que costumam chegar em suas cidades. O que, FELIZMENTE, não ocorre neste caso, uma vez que estamos falando de um dos maiores genocidas de toda a história: Adolf Hitler.
A memória da época do nazismo deve ser “eliminada”, dizia a licitação para a reforma. O imóvel chegou a abrigar um centro cultural em homenagem ao Führer e agora se tornará sede da polícia.
“Claro que nos perguntamos se não seria importante criar um lugar de preservação da memória”, diz Stefan Marte, do escritório de arquitetura Marte. Marte, que venceu a concorrência para reformar a casa onde nasceu Hitler. “É um triste fato que Adolf Hitler tenha nascido aqui, mas por outro lado é apenas o local de nascimento.” Marte lembra que a era nazista foi um período curto, considerando que a história da casa é muito mais longa, tanto antes como depois desse espaço de tempo.
A casa do século 17, que fica em Braunau am Inn, na Áustria, está tombada pelo patrimônio histórico. Antigamente era o restaurante de uma cervejaria. Mais tarde, passou a abrigar apartamentos alugados.
No final do século 19, Klara e Alois Hitler se mudaram para lá, onde, em 20 de abril de 1889, nasceu o terceiro de seus seis filhos. Por causa desse nascimento, a casa em Braunau ainda hoje é objeto de controvérsia, pois esta criança, Adolf Hitler, muitos anos mais tarde viraria ditador e iniciaria a Segunda Guerra Mundial, sendo responsável pelo Holocausto e causando um sofrimento indescritível ao mundo.
Durante o período nazista, o partido NSDAP de Hitler fez da casa um centro cultural com uma galeria e biblioteca pública em homenagem ao seu Führer. Após a Segunda Guerra, as tropas americanas a transformaram em memorial. Nos anos seguintes, lhe foram acrescentadas uma biblioteca, uma escola e ao fim, por mais de 30 anos, uma oficina para pessoas com deficiência. Mas ela teve de ser transferida para outro local em 2011 devido à necessidade de reformas. Desde então, o prédio está vazio.
Em 2017, a Áustria expropriou a proprietária, após um longo período de desacordo sobre o uso do prédio. A demolição não foi possível por se tratar de um patrimônio histórico. Em novembro de 2019 foi organizado um concurso entre arquitetos para o saneamento do prédio.
Agora, a casa está sendo revitalizada para abrigar o comando policial de Braunau, como um sinal de democracia, direitos humanos e segurança contra perseguições. As obras deverão custar 2 milhões de euros, e a conclusão está prevista para o final de 2022.
O escritório austríaco de arquitetura Marte.Marte, ganhador do concurso, também projetou o Centro de Documentação Fuga, Desalojamento, Reconciliação, que deverá abrir em Berlim em 2021.
O júri do concurso elogiou a simplicidade do prédio, que não atrairá a atenção depois que estiver reconstruído. Como a fachada ainda se assemelha às fotos de arquivo da época nazista, havia uma grande preocupação de que se torne um lugar de peregrinação para neonazistas posarem para fotografias.
O texto da licitação previa que “a reforma externa do prédio existente visa eliminar a memória do tempo do nacional-socialismo”, assim como “impedir o cultivo, fomento ou disseminação de ideias nazistas ou de uma memória positiva do nazismo”.
“Queremos extrair o original do prédio e revivê-lo”, diz o arquiteto. Os nazistas haviam deixado o interior da casa quase inalterado. “O NSDAP mudou apenas a fachada, remodelando as formas e tamanhos das janelas para tornar a casa mais imponente. O lado de trás permaneceu como era.”
“Não existe uma única solução ideal”
É difícil determinar o significado histórico do prédio porque não é um local de acontecimentos atuais, nela não foram cometidas atrocidades – e Hitler não tomou decisões aqui: quando os pais se mudaram, ele tinha 3 anos.
No entanto, a casa é exemplar para o debate sobre o manuseio correto de construções historicamente problemáticas, como o Estádio Olímpico de Berlim ou a arquitetura italiana do fascismo, que inclui muitos prédios que ainda hoje honram Benito Mussolini. A questão é: derrubá-los, reformá-los ou preservá-los como testemunho da história, e também como advertência?
“Em arqueologia, chamamos a tentativa de apagar a memória damnatio memoriae, que foi generalizada no Egito e em Roma“, diz o historiador vienense Marcello La Speranza, autor de um livro sobre o legado nazista na arquitetura. “É uma questão de banir todas as evidências de existência e assim apagar o passado de nossos sentidos”, afirma. Mas a própria história mostra que não é possível apagá-la.
O historiador diz que não pretende “atribuir maior dimensão histórica à casa onde Hitler nasceu, pois apenas por acaso é a casa onde ele nasceu”. No entanto, o prédio tem essa história e apagá-la, “sem uma referência ao passado, também pode criar novos mitos em torno dela, especialmente em círculos com ideologias de direita”. Uma alternativa possível em prédios historicamente importantes é a inclusão de uma área com informações, afirma.
O arquiteto Stefan Marte diz que o modo de lidar com prédios históricos deve ser avaliado de caso para caso: “Não há dúvida de que também haveria outras possibilidades de manter esse prédio para, por exemplo, preservá-lo como parte da história, da forma como o NSDAP o deixou. Não existe, portanto, uma única solução ideal”.
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