Em março de 1889, a Torre Eiffel foi inaugurada depois de dois anos e dois meses de construção; a maior construção do mundo à época era o símbolo da Feira Universal de Paris, cujo tema era a Revolução Francesa
A Torre Eiffel, em Paris, é um dos monumentos mais visitados do mundo, segundo a revista Tourism Review. Na lista dos 10 lugares mais procurados por turistas pelo planeta, a construção em Champ-de-Mars, no coração da capital francesa, nas margens do Rio Sena, só fica atrás da Catedral de Notre-Dame, também em Paris, da Grande Muralha da China e da Opera House, em Sydney, na Austrália.
Em 2013, a torre recebeu, sozinha, 6,7 milhões de visitantes – o que o Brasil inteiro registrou no ano passado. No seu cume é normal ver casais trocando alianças de ouro, desfiles de moda ou experimentos científicos, mas a grande atração é vê-la de qualquer ponto da cidade.
No entanto, o sucesso do monumento não perpassou toda sua existência: uma obra que deveria celebrar o progresso da ciência e da tecnologia na França desde 1789, sua construção gerou vários debates, especialmente entre artistas e intelectuais franceses que publicaram artigos e panfletos contra o que chamavam de “torre de Babel”.
O projeto da torre foi desenhado pelos engenheiros franceses Maurice Koechlin e Émile Nouguier, que trabalhavam na Compagnie des Établissements Eiffel, em Paris, em 1884. A ideia inicial era de que ela fosse temporária, sendo o ponto central da Exposição Universal de 1899, cujo tema era a Revolução Francesa, que aconteceria em Champ-de-Mars.
Naquele ano, cumpria-se o centenário da tomada da prisão da Bastilha, na capital francesa, que deu início à revolução. Na manhã de 14 de julho de 1789, a fortificação medieval em que os reis franceses atuavam fora dos olhos do Terceiro Estado foi invadida pelos cidadãos contra a monarquia e contra Luís XVI.
A torre seria, na ideia original, a porta de entrada para a exposição e, para construí-la, o governo de Paris tinha aberto uma grande licitação. Koechlin e Nouguier apresentaram os desenhos a um inicialmente cético Gustave Eiffel, chefe e dono da empresa, que colocou outro funcionário no projeto, o engenheiro Stephen Sauvestre – ele adicionou um pavilhão de vidro no primeiro andar e ornamentos em toda a torre.
Eiffel apresentou os desenhos a um grupo de engenheiros civis dizendo que a torre era “não apenas a arte da engenharia moderna, mas também o símbolo de um século de indústria e ciência em que nós vivemos hoje, cujo caminho foi preparado pelo grande movimento científico no século 18 e pela revolução, para os quais o monumento seria uma expressão da gratidão da França”.
“A tomada da Bastilha e a Revolução Francesa não podem ser esquecidas porque há uma grande estrutura de aço que ainda fica acessível a qualquer ponto no céu de Paris. Não se trata apenas de um belo cartão-postal, mas também de uma homenagem àqueles que lutaram pelos ideais da Revolução”, explica o historiador Kay Ridson, da Universidade de Ohio, nos EUA.
Em 1886, Eiffel soube que tinha vencido outros 107 projetos, assinando um acordo com o governo francês para erguer a torre. O contrato previa que, a partir de janeiro de 1890, sua empresa poderia explorar livremente o comércio da obra por um período de 20 anos, quando então a propriedade seria passada para a prefeitura da capital francesa, que a desmontaria. Em janeiro de 1887, Gustave Eiffel e outros 300 trabalhadores começaram a construí-la nos jardins de Champ-de-Mars, chamando-a inicialmente de “torre de 300 metros”.
No entanto, tirá-la do chão foi mais difícil, já que foram feitos mais de 5,3 mil desenhos por 50 engenheiros diferentes, além de outros 132 trabalhadores que ficaram responsáveis pela montagem das 18 mil peças de aço.
Logo, muitas pessoas passaram a questionar a estética e a utilidade da torre, enquanto jornais criticavam suas dimensões, que chegaram a 325 metros em uma das várias mudanças no projeto original. Dizendo que um monumento daquele tamanho não era possível de ser construído, os habitantes da região de Champ-de-Mars se juntaram para abrir uma ação judicial contra a autorização do Estado. Depois de pronta, a Torre Eiffel passou 40 anos sendo considerada a maior construção humana do planeta.
A grande crítica, porém, apareceu em uma carta aberta contra a torre publicada no jornal Le Temps, em fevereiro de 1887: assinada por cerca de 300 artistas, como Émile Zola, Joris-Karl Huysmans, Guy de Maupassant, Alexandre Dumas e Charles Garnier (arquiteto da Opéra Garnier), ela chamava a torre de “monstruosa” e dizia que, se Paris era a cidade mais bonita do mundo, a construção de Eiffel era uma profanação à sua beleza. “Mesmo a América comercial não iria querê-la. Todo mundo sente, todo mundo diz, todo mundo se entristece profundamente com essa desonra à cidade”, afirma um trecho.
No entanto, a obra prosseguiu: em março de 1889, a estrutura estava quase completa e, em março daquele ano, Eiffel inaugurou o monumento levando um grupo de oficiais do governo e jornalistas ao topo da torre. A abertura oficial, no entanto, ficou a cargo do rei da Inglaterra, Edward VII, convidado de honra para a feira. Na abertura da Exposição Universal, em 1889, os elevadores ainda estavam inoperantes, o que não impediu que 30 mil visitantes por dia subissem os 1,7 mil degraus até a parte mais alta.
Ainda em 1889, Gustave transformou o topo da torre em uma estação de observação e de mensuração da velocidade do vento em Paris. Ele também estimulou vários experimentos científicos feitos na sua construção, como um grande pêndulo, um barômetro de mercúrio e o primeiro teste de transmissão de rádio da França. No ano anterior à inauguração, Eugene Ducretet subiu ao telhado do Panteão para gritar, feliz, que estava recebendo as ondas vindas da torre.
Embora a cidade de Paris tenha se tornado a proprietária da torre depois da concessão de 20 anos, ela deveria ser destruída. Em 1909, chegou perto disso, mas foi salva pelos usos militares que já eram feitos na sua parte mais alta – na Segunda Guerra Mundial, ela foi fundamental para capturar a espiã Mata Hari, por exemplo, graças às interceptações de mensagens vindas de Berlim. Graças também ao sucesso de público, além de suas utilidades secundárias, como ser a principal antena de TV da França a partir de 1910 e servir para inaugurar o sinal da televisão francesa, em 1925, ela permaneceu de pé. No final dos anos 1930, o edifício Chrysler, em Nova York, substituiu-a como maior construção do mundo.
A Torre Eiffel passou o século 20 mudando de cor: em 1889, quando foi inaugurada, o tom original era marrom com tons avermelhados. Uma década depois, ela foi pintada de amarelo, cor que permaneceu até 1968, quando voltou a ser marrom. Atualmente, a cada sete anos, os pintores contratados pela cidade adotaram um estilo em três tons, mais leves na parte mais baixa e escurecendo até a torre, que pode ser vista por quase toda a cidade.
Hoje, a torre significa muita coisa para a França: além de ser o cartão-postal do país, a construção também costuma simbolizar os “sentimentos” nacionais: no ano passado, horas depois de um atentado terrorista em Londres, suas luzes foram desligadas por toda a noite. O mesmo aconteceu em maio de 2017, quando 90 pessoas morreram num ataque em Cabul, no Afeganistão. Protestos costumam acontecer embaixo de sua estrutura e, não raro, os manifestantes usam suas barras de ferro para pendurar cartazes.
A última grande polêmica com relação à própria torre, no entanto, teve um brasileiro como protagonista: em agosto de 2017, o Paris-Saint Germain (time que leva a construção no escudo) pagou 222 mil euros para tirar Neymar do Barcelona. No dia do anúncio da compra, o monumento foi iluminado com as cores do clube e com um telão que dava boas-vindas ao jogador em português e em francês. Os franceses, porém, não gostaram da iniciativa, chamando a construção de um “suporte de propaganda”.
O jornal Le Monde, porém, mostrou que não tinha sido a primeira vez que o cartão-postal parisiense tinha servido para fins publicitários: entre 1925 e 1936, por exemplo, a montadora automotiva Citroën escreveu seu nome de ponta a ponta da torre durante todas as noites.
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