O Brasil registra altos índices de feminicídio e violência sexual. Entenda por que essa crise é estrutural e o que precisa mudar urgentemente

O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado em 25 de novembro, é mais do que uma data simbólica: é um alerta urgente sobre a dimensão da violência que atravessa a vida de milhões de brasileiras. Em um país marcado por desigualdades estruturais, a violência de gênero permanece como uma epidemia que se repete diariamente — e que recai com força ainda maior sobre mulheres negras.
Feminicídio: quando o machismo mata
Os números mais recentes mostram que a violência letal permanece em patamares alarmantes. Em 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios, segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, divulgado pelo Ministério das Mulheres. O documento também aponta 2.485 homicídios intencionais ou lesões corporais seguidas de morte tendo mulheres como vítimas.
E o recorte racial evidencia a desigualdade: 60,4% das vítimas adultas eram mulheres pretas ou pardas, segundo o Sinan. A Rede de Observatórios da Segurança acrescenta: em 2024, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 17 horas, considerando os estados monitorados.
Nada disso é acaso. É escolha política. É reflexo de como o Estado e a sociedade tratam, e desprotegem, as mulheres.
Violência sexual: um país que normaliza o horror
O cenário da violência sexual é igualmente devastador. Em 2024, foram registrados 71.892 estupros contra mulheres, o equivalente a 196 estupros por dia.
O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública confirma o recorde histórico da série: uma pessoa é estuprada a cada 6 minutos no Brasil. Não há como suavizar esse dado: vivemos uma realidade de violência sexual sistemática, impulsionada pela impunidade e pela naturalização do controle sobre o corpo feminino.
A violência é estrutural e tem nome
A violência contra a mulher no Brasil não surge de episódios isolados. Ela é parte de uma estrutura patriarcal, racista e violenta que atravessa instituições, práticas sociais e comportamentos cotidianos. Entre os principais fatores que perpetuam o ciclo estão:
1. O patriarcado como pilar de controle
A cultura machista autoriza o controle sobre corpos, decisões e trajetórias femininas. A violência não ocorre “de repente”: ela é construída dia após dia.
2. O racismo estrutural que multiplica vulnerabilidades
Mulheres negras estão entre as principais vítimas de feminicídio, violência física, sexual e psicológica, um resultado direto da negligência institucional e da histórica exclusão social.
3. Impunidade e subnotificação
O medo de denunciar, a dependência econômica, o descrédito nas instituições e os estigmas sociais resultam em subnotificação crônica. Pesquisas recentes apontam estimativas muito superiores aos registros oficiais.
4. Medidas protetivas que não protegem
Mesmo quando concedidas, muitas medidas não são acompanhadas por monitoramento efetivo. Em 2024, segundo o FBSP, cerca de 100 mil medidas protetivas foram descumpridas.
O papel do Estado e da sociedade
Apesar de alguns avanços como a leve redução dos feminicídios em 2024 e o fortalecimento de políticas públicas, a resposta ainda é insuficiente. Para enfrentar a crise de gênero no Brasil, é preciso:
- fortalecer redes de acolhimento como casas-abrigo e centros especializados;
- garantir financiamento contínuo para políticas públicas de enfrentamento;
- implementar educação de gênero nas escolas;
- promover iniciativas de autonomia econômica para mulheres;
- investir na formação de agentes públicos para atendimento humanizado e eficaz;
- assegurar o cumprimento rigoroso das medidas protetivas.
Romper o ciclo exige mais do que indignação: exige ação coordenada, vontade política e compromisso social.
O 25 de novembro é mais do que uma data, é um chamado à responsabilidade
Cada número citado nesta matéria representa uma mulher que teve sua vida interrompida, ferida ou marcada para sempre. Por trás das estatísticas existem histórias de coragem, medo, resistência e sobrevivência.
O 25 de novembro não é sobre celebrar.
É sobre denunciar, mobilizar e transformar.
A violência contra a mulher no Brasil é uma emergência permanente. E só será superada quando o Estado assumir plenamente sua responsabilidade e quando deixarmos de tratar a violência de gênero como algo inevitável.
Enquanto isso não acontece, seguimos denunciando, educando, acolhendo e lutando — juntas.
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