Carnaval Cultural do Rio: uma imersão na herança afro-brasileira com os Griôs da Pequena África

O Carnaval do Rio de Janeiro vai além dos desfiles luxuosos do Sambódromo. Em 2024, uma experiência profundamente cultural e histórica ganha destaque no pré-carnaval: o Griôs da Pequena África, projeto que integra o Carnaval Cultural do MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira). Idealizado por Andrezão do Cacique e Aline Bastos, em parceria com o circuito Carnabendita, o evento celebra a memória, a resistência e a vitalidade da cultura negra, convidando viajantes exigentes a uma jornada pela ancestralidade.
O circuito que conecta passado e presente
No dia 22 de fevereiro, o cortejo percorrerá a Pequena África, região histórica que abrange os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. Batizada pelo sambista Heitor dos Prazeres, essa área foi epicentro da diáspora africana no Rio, abrigando o Cais do Valongo — Patrimônio Mundial da UNESCO e principal porto de entrada de escravizados no Brasil.
O roteiro começa no MUHCAB, instituição dedicada à preservação da história afro-brasileira, com uma lavagem simbólica liderada pelo Afoxé Filhos de Gandhi, grupo que desde 1951 mantém viva a tradição dos terreiros de candomblé. Em seguida, a Bateria Surdo Um Mangueira conduz o público pelas ruas de paralelepípedo até o Cais do Valongo, onde o Bloco Afro Orunmilá e Andrezão do Cacique encerram o evento com música e poesia em um trio elétrico.
Acompanhado pelo guia e ativista Cosme Felippsen (criador do Rolé dos Favelados), o trajeto revela marcos invisíveis aos olhos desatentos: a Ladeira do Livramento, onde nasceu Machado de Assis; o Jardim Suspenso do Valongo, antigo mercado de escravizados; e o terreiro de candomblé mais antigo da região, ainda em atividade. “Este cortejo é um ato político de ocupação. Recontamos a história a partir da perspectiva negra”, explica Sinara Rúbia, diretora do MUHCAB.
Com mais de mil participantes, o repertório une clássicos do samba, axé e ijexá, homenageando ícones como Ilê Aiyê, Olodum e Fundo de Quintal. A bateria da Mangueira promete levantar a poeira, enquanto os Filhos de Gandhi trazem a cadência ritualística dos tambores. Já o Orunmilá, bloco fundado por mestres de capoeira, mistura percussão afro com letras que exaltam figuras como Dandara e Zumbi dos Palmares.
Em um contexto onde 56% dos cariocas se declaram negros, projetos como esse desafiam a narrativa eurocêntrica do Carnaval. “A Pequena África é um símbolo de luta e resiliência. Queremos que esse cortejo seja um legado”, reforça Andrezão do Cacique.
Para quem busca viver o Rio além dos cartões-postais, o Carnaval Cultural do MUHCAB é uma oportunidade de celebrar a diversidade, apoiar a equidade racial e mergulhar na riqueza de uma cultura que moldou o Brasil.
O evento é gratuito, então chegue cedo para garantir lugar nas primeiras fileiras do cortejo. Use calçados confortáveis e leve água.
Griôs Pequena África
Data: 22/02 (sábado)
Horário: 14h (concentração)
Local: MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro)
- Caça-níqueis, as rainhas dos cassinos
- Lollapalooza 2025: line-Up, horários + informações
- A história do Lollapalooza: como turnê de despedida de uma banda de rock virou fenômeno global
- Vinhos de Setúbal: tradição, sabor e patrimônio português
- Yi Peng e Holi: como Tailândia e Índia transformam tradições em espetáculos
- Lugares onde o tempo parou: uma viagem por destinos históricos