Psicóloga e psicopedagoga Karin Kenzler mostra as maiores consequências para a saúde física e mental da superexposição virtual
A pandemia do novo coronavírus completou um ano, e cada vez mais as pessoas se queixam de se sentirem cansadas ou esgotadas nesta nova realidade. As casas se tornaram escolas, universidades e escritórios, e todos esses locais se concentraram nos computadores e celulares.
Sem os encontros presenciais, a internet foi o principal meio utilizado para realizar reuniões e ter aulas. O teórico Harry Pross dizia que a comunicação começa e termina no corpo, mas, com a situação atual, a comunicação começa e termina com as videochamadas.
O excesso de chamadas por dia está gerando uma série de consequências. Perdemos muitos dos outros sinais que teríamos durante uma conversa na vida real, como o cheiro da sala ou alguns detalhes em nossa visão periférica. Segundo a psicóloga e psicopedagoga Karin Kenzler, “a superexposição em videochamadas pode levar a várias questões de saúde, tais como fadiga e estresse, burnout, problemas de autoestima, dores de cabeça, insônia, sedentarismo e obesidade, além de transtornos fóbicos sociais, como ansiedade de falar em público”.
As causas do cansaço estão relacionadas aos olhares de terceiros, à exposição à própria imagem na tela, à falta de exercício e à frustração em não conseguir se expressar por meio da câmera e interpretar adequadamente o outro. Passamos, então, a sentir uma exaustão, provocada pelo aumento de estímulos gerados por uma tela de computador, que faz com que nosso cérebro gaste muito mais energia para fazer a captação e interpretação de tudo o que é necessário durante as videochamadas.
Um dos aplicativos utilizados para as videochamadas é o Zoom – nas três primeiras semanas de abril de 2020 o aplicativo conquistou mais de 100 milhões de usuários. O sucesso do app fez com que o fenômeno “Zoom Fatigue” fosse criado, como uma espécie de fadiga em relação às videoconferências.
“Com a quarentena, existe uma percepção de que a disponibilidade das pessoas teria aumentado ainda mais pelo fato de muita gente estar em casa, mas isso não é verdade. Ao contrário, as pessoas estão ainda mais sobrecarregadas nas suas casas com as tarefas domésticas e os filhos”, conta Karin.
Entre as crianças, a psicóloga observou um crescimento nos casos de fobias sociais, como a ansiedade. Já nos adultos as queixas mais frequentes são o cansaço, o estresse e a falta de tempo para dar conta de tantas demandas pessoais e profissionais. Os sintomas mais comuns são dores de cabeça e enxaqueca, insônia, distúrbios alimentares como ganho ou perda de peso, irritabilidade, cansaço e preocupação excessiva.
“A falta de contato físico, de encontros e reuniões presenciais, acarreta uma série de sentimentos e sensações negativas. São várias as perdas em termos de qualidade das relações interpessoais”, comenta Karin. Com muita gente em uma reunião por videochamada, fica muito difícil criar um relacionamento mais informal com os colegas – você perde a individualidade, e a falta de um feedback gera insegurança e angústia. “O ser humano é, em essência, um ser social, e depende muito da aprovação e do afeto alheio, que lhe conferem motivação e propósito de vida”, complementa.
A qualidade ruim das chamadas também é uma condição que pode gerar desgaste, já que o cérebro terá um esforço maior para entender o que foi dito enquanto acontece uma distorção de imagem ou áudio. Olhar para si mesmo durante horas pode ser desgastante, pode nos tornar menos confiantes em nossas interações e também achamos a experiência mais estressante.
Para evitar maiores danos, é indicado praticar exercícios e ter uma boa rotina de sono para equilibrar a falta de movimento durante o trabalho online, a fadiga mental e ter um suporte médico necessário, com convênios, seguros saúde, etc. Também experimente fazer uma pausa entre as chamadas, ocultar-se durante a chamada e buscar outros meios de comunicação, como chamadas de áudio e e-mails.
“O uso da tecnologia ainda precisará passar por ajustes que visem um equilíbrio entre a vida online e offline, com regras sociais de etiqueta, regras trabalhistas e de bom senso, que limitem o uso com adequação para a manutenção da saúde física e mental”, finaliza Karin.
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