Confira a entrevista de três mulheres brasileiras, que migraram para os Estados Unidos, reconstruíram suas vidas, e desenvolveram meios de ajudar o próximo
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, e segundo as histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas.
Sem dúvida, o incidente ocorrido marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, que continuam mais fortes que nunca no mundo inteiro.
Ser mulher mesmo nos tempos atuais não é fácil, ser mulher e migrar sozinha para um país diferente e construir uma vida nova é mais complicado ainda, porém, não é impossível.
Por isso entrevistei três mulheres, brasileiras, que migraram para os Estados Unidos há alguns anos atrás e não só reconstruíram suas vidas, como também desenvolveram meios de ajudar o próximo.
Ingrid Tonelli se mudou para Nova Iorque há 20 anos atrás, e em 2013 iniciou a criação da SOS EB Kids – ONG com intuito de ajudar crianças brasileiras, nos EUA e no Brasil, com Epidermólise Bolhosa.
Hoje a SOS EB Kids atende hoje 70 crianças de diversos estados do Brasil. Nos próximos meses a organização irá inaugurar sua segunda sede, desta vez em terras brasileiras, em Brasilia.
No entanto, Ingrid percorreu um longo caminho. O primeiro desafio foi compreender as leis vigentes no país correspondentes ao terceiro setor.
As leis variam de Estado para Estado, e Nova Iorque, Estado onde a organização foi fundada, segue uma série de exigências bastante rigorosas.
Contando com a perseverança de inúmeros voluntários e muito empenho de empresas especializadas no setor, foi possível que a instituição fosse finalmente registrada. Atuamos como grupo de apoio entre 2014-2016, e a partir de então, operando legalmente nos EUA como organização não governamental sem fins lucrativos.
O segundo desafio tem sido manter as operações da organização sendo 100% administradas por voluntários. Toda a renda arrecadada é investida em diferentes frentes de apoio, assegurando a melhora de qualidade de vida de nossos beneficiários.
“Nossa expectativas estão sendo superadas e isso nos traz uma imensa alegria e determinação para continuarmos. Hoje temos voluntários atuando de diferentes estados americanos, e também voluntários atuando de diversos estados brasileiros. Este e nosso sexto ano em atuação e a cada dia reconhecemos mais sobre a importância de lutarmos pelos direitos daqueles que sofrem processos de estigmatização e discriminação, resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão social” desabafa Ingrid Tonelli.
Também focada em ajudar brasileiros imigrantes nos EUA, Gerusa Maso criou o Emperialle – inaugurado em 2018 e que tem como objetivo oferecer palestra sobre direito dos imigrantes em situação ilegal, educação financeira para imigrantes, workshop de danças e também ajuda a empreendedores brasileiros a expor seus produtos e serviços para um público composto de brasileiros e americanos.
O último evento beneficente que Gerusa realizou foi no final de fevereiro, com o nome de Brazilian Market onde ela reuniu artistas renomados tais como Paulo Govea, Alex Kurolkovas, Veronica Torres, Callen Chaub e Andres Gilles. E e ainda contou com um menu vegano feito pela chef paulista Mariana Tamiozzy.
A duração foi de dois dias onde 25% das verbas foram para o fundo de apoio aos artistas radicados em Nova Iorque. O próximo será realizado em maio e junho com mais exposição de artes para promover artistas Brasileiros em Nova Iorque.
Para conseguir concretizar tudo isso, Gerusa conta que foram três anos de muito trabalho voluntário, persistência e amor e foco para finalmente conseguir estruturar sua agência. “Ser mulher e imigrante atualmente na América é um exercício diário de sobrevivência, tudo é extremamente mais difícil e inacessível”, conta ela.
Para combater aos desafios Gerusa conta que se agarrou em persistência e paciência. “Entenda que há um processo necessário para nosso crescimento e amadurecimento. Em momentos de dificuldades me dedicava a estudar e entender o mercado e sempre me mantenho aberta a novas possibilidades sem medo de arriscar. A todas mulheres faço de Michelle Obama minhas palavras: Sucesso não tem a ver com quanto dinheiro você faz e sim com a diferença que você promove na vida das pessoas”.
Outra forma muito comum usada para levar alegria ao próximo interna é a através da arte. Pensando nisso, Debora Balardini, Andressa Furletti e Thiago Felix criaram um grupo de teatro brasileiro em Nova Iorque, oficializado em 2012, o Group.Br, com a missão de apresentar a cultura brasileira através das artes cênicas.
A empresa sempre oferece uma variedade de workshops de atuação e dança e eventos de assinatura, como a festa de dança teatral brasileira Saravá!, o íntimo Pão de Queijo Brunch e a Hora de Clarice em parceria com o Instituto Moreira Salles.
A co-fundadora, Debora Balardini, mora em Nova Iorque há 25 anos revela que um dos pontapés que fez ela participar desse projeto foi uma vontade pessoal de se aproximar mais a literatura e dramaturgia brasileira.
Mesmo com todo sucesso, a sua sócia, Andressa Furletti conta que ainda existe um preconceito por ser mulher, imigrante e artista. “Há também uma necessidade de mostrar o trabalho pronto para que as pessoas realmente acreditem na sua capacidade de realização. É frustrante, mas agora, depois de 8 anos, o trabalho fala por si só.”
Ela acrescenta que ainda sim é comum ver algumas pessoas se espantarem ao saber que são mulheres por trás do trabalho. “Tenho consciência que estamos em um momento de mudanças de paradigmas e é preciso ressaltar isso, mas é importante ter paciência. Existe um certo preconceito sim, mas são três coisas que me orgulho de ser; mulher, imigrante e artista.”
Quando perguntadas qual conselho dariam para a mulheres, imigrantes e artistas que estão começando, Debora aconselha manter a presença de corpo e espírito e uma intuição aguçada. “Trabalhar o auto conhecimento como pessoa e como profissional são imperativos. Quando conhecemos a nós mesmos fica mais fácil ter auto-confiança e nos outros ao nosso redor.”
Já Andressa diz que cada caso é diferente. Porém, ela acredita que há uma força enorme em comunidades. Principalmente para imigrantes, pois estão longe da família, dos amigos e da sua raiz.
Para concluir, ela relembra uma frase que aprendeu com a cia de teatro francesa Pantheatre “encontre sua voz e você encontrará seu lugar. Encontre o seu lugar e você encontrará sua voz”, finaliza.
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