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O turismo dos imbecis e os imbecis do turismo

OPINIÃO

Em Moscou, capital da Rússia, a Embratur lançou uma campanha mundial para promover o turismo no Brasil. Batizada de Happy by Nature (Felizes por Natureza), ela quis explorar a imagem de bom anfitrião que o brasileiro causou nos turistas durante a Copa do Mundo, em 2014, mas esbarrou em episódios de torcedores brigões, machistas e youtubers sem nenhum conteúdo útil para o turismo.

Participaram da ação os influenciadores alemães Rafael McStan’s e Christoph Johannes Gehrke, o russo Alexey Valeks e o argentino, Alejo Igoa, além dos brasileiros Tatá e Cocielo. Juntos os seis influenciadores têm, apenas no Instagram, quase 18 milhões de seguidores. Mas será que a Embratur quis aparecer ou divulgar o Brasil? Quem são esses 18 milhões de seguidores, são turistas em potencial? São russos? São consumidores ou apenas pessoas que buscam – na imbecilidade das maiorias das postagens – uma válvula de escape?

A Embratur acertou na aposta de vender ao mundo a receptividade do povo, mas o que se vê é que o governo pode até fazer uma ótima campanha internacional fomentando cultura, gastronomia e atrativos turísticos, mas precisa escolher bem quem serão os representantes do País. Será que eles leram os comentários nas contas dos influenciadores? E a “bela divulgação” que o casal Tatá e Cocielo fizeram? Fico imaginando o turista que leu o post, aquele que foi apagado posteriormente: “mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein.” claro que eles estão querendo comprar logo a passagem de ida para o Brasil para participar de um arrastão na praia. Você não concorda?

A internet é a principal fonte de consulta dos visitantes, os principais itens consultados pela internet são: hospedagem, transporte internacional, seguido de consultas sobre atrativos e passeios. E onde a Embratur e o Ministério do Turismo acham que o leitor encontrará essas informações? Com pessoas que têm expertise no assunto ou humoristas?

Como noticiou o Catraca Livre, durante passagem em Moscou, para o lançamento da ação da Embratur, o ministro do Turismo do Brasil, Vinicius Lummertz, comentou o vídeo machista gravado por brasileiros no país-sede da Copa do Mundo e minimizou a ação dos brasileiros já que, para ele, “não morreu ninguém”.

“[A repercussão foi grande] por causa das redes sociais, não pelo fato em si. Porque não morreu ninguém, ninguém foi assassinado. Perante o mundo real, eu entendo o simbolismo, mas o simbolismo não representa nada estatisticamente”, afirmou o ministro do Turismo do Brasil, Vinicius Lummertz.

Ministro do Turismo amenizou a atitude dos brasileiros que aparecem em vídeo machista

Já a CBN informou que sem escrever as palavras “Copa” ou “Rússia”, o governo lançou no Portal da Transparência gastos com vários funcionários e autoridades que estão acompanhando a Copa do Mundo explicando apenas que estão indo para uma “viagem internacional”.

É preciso morrer alguém para que alguma atitude seja tomada no Brasil por quem nos representa? Nosso potencial turístico é guiado pelo Oba, Oba, Oba? O Ministro pode dizer que aquele grupo de torcedores não nos representam, são uma exceção, blá, blá, blá… Mas o fato é que tanta gente tenta defendê-los que chego à conclusão que representam sim uma fatia da população. E vai chegar uma hora que todo esse Oba, Oba, Oba com nosso dinheiro vai termina em Epa, Epa, Epa para o mau gestor (eu espero).

Embratur, que tipo de público vocês mensuram receber no Brasil com seus embaixadores? O trabalho de divulgação e ativação de redes e mídias digitais é muito importante, pois a cada ano cresce a procura de viagens e compra de pacotes turísticos pela internet, assim como são feitos os planejamentos para a viagem. Em toda profissão existem os bons profissionais, os medíocres e os que nos envergonham. Ter uma lista de bons profissionais, de índole e que se esforçam para tratar o nome do Brasil com dignidade deve ser compartilhada. Vocês que vivem do turismo por acaso conhecem ou já ouviram falar em Didi Wagner (Lugar Incomum), Bruno De Luca (Vai Pra Onde?), Alvaro Garnero (50 por 1), Titi Müller (Anota Aí), Rodrigo Ruas (Viagem Cultural), Ricardo Freire (Viaje na Viagem), Ricardo Shimosakai (Turismo Adaptado)? Pode acreditar, tem profissional para atender os mais variados perfis. Sem mencionar outra centena de ótimos blogueiros e influenciadores que vivem de divulgar os atrativos turísticos do Brasil, assim como sites e portais desse nicho. Prestigiem o trabalho daqueles que divulgam o Brasil e que têm uma mensagem bacana para transmitir. Ou só os números dos milhões de inscritos no canal e seguidores que importa, mesmo sendo gente rasa, superficial ou até mesmo ghost followers?

Como bem escreveu Flávia Oliveira em sua conta no facebook, “respeito à diversidade não é mais questão de justiça social nem discurso politicamente correto. Virou ativo econômico-financeiro”. E eu concordo integralmente com essa espetacular profissional. Antes do post racista ser apagado alguém da Embratur contabilizou o número de curtidas no post? E é outra coisa para se temer, pois mostra que ele não está sozinho nessa. O Bruno Gagliasso compartilhou uma publicação que apresenta o tamanho de uma escolha errada, no post diz: “Você tem noção do que são 11 milhões e 200 mil pessoas? Eu ajudo. É a população inteira da Bélgica. É um milhão a mais do que a população de Portugal. São 143 Maracanãs lotados”. Confira aqui o post completo. Mas seguindo a linha de raciocínio do ministro do Turismo do Brasil, como não morreu ninguém, é só apagar o perfil dos influenciadores da página happybynature.visitbrasil.com, fingir que a campanha foi um sucesso total e que todo dinheiro gasto terá um retorno dobrado já que 18 milhões de perfis, seguidores entre 9 e 16 anos em sua maioria, agora já se preparam para um arrastão top nas praias do Brasil. Ah, claro, eles têm poder de compra também, eles definem o que vai ser gasto em uma viagem, certo?

É muito difícil dizer se escrevi esse texto porque me tornei mais resmungão, leia-se criterioso, perto de completar os 43 anos, ou porque há mais motivos para ficar de mau humor com tantos absurdos que vejo no trade turístico. Mas eu acho mesmo que foi porque lembrei da música “Jesse go!” da banda Ultraje a Rigor. Se você não conhece a música, Jesse go não passava de um imbecil, até que um produtor o descobriu e o transformou num sucesso nacional. Apesar do duvidoso valor. Isso te lembra algo?

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