Copan, Itália e Conjunto Nacional são marcos da época de ouro da arquitetura paulistana
Assim como na política, na música, na moda e nos costumes, os anos 1950 e 1960 também significaram uma transformação na arquitetura. É nesse espaço de tempo que a cidade de São Paulo, por exemplo, viveu um período chamado de “milagre arquitetônico”, quando nomes como Oscar Niemeyer, David Libeskind, Rino Levi, Maria Bardelli e Ermanno Siffredi projetaram alguns dos principais edifícios da metrópole.
“Se você caminha e visita esses prédios em São Paulo, como o Copan, o Itália e o Conjunto Nacional, construídos durante o apogeu da arquitetura modernista na cidade, percebe o quanto a gente piorou, não só esteticamente”, diz o jornalista Raul Juste Lores, autor do recém-lançado livro “São Paulo nas Alturas” (Três Estrelas, 340 páginas). Para ele, tudo o que veio depois dos anos 1960 significou uma regressão estética e funcional da metrópole, o que explica o caos típico paulistano de agora.
“Temos a avenida Luís Carlos Berrini ou a marginal, onde há inúmeros prédios iguais, recuados da calçada, não se sabe nem onde é a entrada para pedestres. Há andares e andares de escritórios. Onde todas essas pessoas vão almoçar? Isso explica por que São Paulo virou uma cidade tão inviável: para tudo é preciso pegar o carro”, completa.
É desse período os marcos que hoje fazem parte de qualquer livro de arquitetura: o Copan, de Niemeyer, no centro de São Paulo, foi iniciado em 1952 e inaugurado 14 anos depois. O Conjunto Nacional, um dos cartões-postais da Avenida Paulista, foi projetado por Libeskind e abriu suas portas em 1956. Os desenhos do alemão Franz Heep estão presentes em quase todas as ruas do bairro de Higienópolis, com prédios construídos entre 1952 e 1959, além do Edifício Itália, no centro da cidade, de 1965. Por fim, há ainda o italiano Rino Levi, que projetou o prédio do Hospital Albert Einstein, inaugurado em 1958, e o Paço Municipal de Santo André, que funciona desde 1965.
Em “São Paulo nas Alturas”, Juste Lores explica que, entre os anos 1950 e 1960, houve uma associação entre empreendedores, incorporadores e arquitetos até então inédita em São Paulo. “Aqueles anos foram um raro momento em que quem tinha dinheiro investia em quem tinha talento”, explicou ele durante o lançamento da obra. Desde os anos 1940, o Brasil registrava um crescimento econômico que, da mesma forma, permitiu um boom arquitetônico das grandes cidades. Com a inflação e as mudanças econômicas nos anos seguintes, a “época de ouro” acabou abruptamente.
Os prédios do ‘milagre”
O edifício mais famoso da época de ouro da arquitetura paulistana é o Copan, de Oscar Niemeyer com a colaboração de Carlos Alberto Cerqueira Lemos. Ele significou para a cidade o marco de um processo de verticalização que se impulsionou nos anos 1950, quando a prefeitura, influenciada pela arquitetura das metrópoles dos Estados Unidos, estabeleceu um gabarito máximo para os prédios.
Como a economia estava em alta e São Paulo já havia passado pela primeira fase da industrialização, investidores e autoridades acreditavam que eram necessários símbolos físicos da grandeza que ela havia alcançado.
Encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis, que previra a construção de dois edifícios – um residencial e outro que funcionaria como hotel -, apenas o primeiro foi, de fato, erguido. As obras duraram 14 anos por diversos problemas durante o período, como a falência da investidora que financiou o primeiro projeto e os trâmites com o Banco Nacional Imobiliário. Em 1957, com a compra dos direitos da construção pelo Banco Bradesco, ele foi finalmente tocado a todo vapor.
Já o Conjunto Nacional, inaugurado em 1956, tinha como proposta uma relação entre os pedestres e a cidade, o espaço público e o privado, e não à toa possui dois grandes volumes: um horizontal, onde estão situados cafés, livrarias e uma grande passagem que hoje serve como abrigo para exposições, e um vertical, onde funcionam escritórios e também vivem algumas pessoas – no alto do edifício, está o famoso relógio da Avenida Paulista.
No ano seguinte à sua inauguração, o Conjunto Nacional recebeu seu primeiro grande empreendimento: o restaurante Fasano, um dos mais tradicionais de São Paulo, que atendia os clientes com mesas na calçada da Avenida Paulista. À época, a avenida ainda era repleta de casarões da elite da cidade e tinha pouquíssimos prédios. Segundo reportagens da época, passaram pelo edifício nomes como o cantor estadunidense Nat “King” Cole e Roy Hamilton.
De Franz Heep, hoje, existem prédios em Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, como o Ouro Verde, de 1952, o Ibaté, de 1953, o Ouro Preto, 1954, o Guaporé e o Buriti, ambos de 1956, e as torres gêmeas Lugano-Locarno, inauguradas em 1958. Porém, sua obra mais famosa é o Edifício Itália, de 1965, que foi por muitos anos o maior prédio do Brasil – hoje, o lugar é ocupado pelo Millennium Palace, em Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina.
A construção do edifício atendeu os planos da colônia italiana em São Paulo, cuja sede cultural ficava no terreno entre as avenidas São Luiz e Ipiranga, no centro da metrópole. “Tinha grande importância simbólica para eles, pois representava a ascensão social e econômica dos imigrantes italianos, que haviam começado no país nas lavouras de café e que, em meados do século XX, já possuíam grande importância na formação cultural da cidade”, diz Juste Lores.
Em 1953, a construtora Otto Meinberg convidou alguns arquitetos para participarem da concorrência para elaboração do projeto arquitetônico do edifício. A disputa reuniu, além do alemão Franz Heep, o italiano Gio Ponti e o ucraniano Gregori Warchavchik. Heep era o menos indicado, porque Gio Ponti era italiano e Gregori havia estudado em Roma, mas ele acabou vencendo e tocou a obra, que ficou pronta em 1965.
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