Pesquisa do IPHAN comprova que comunidade pré-histórica dominava agricultura e tecnologia da fabricação de cerâmica e fiação de algodão.
Algo em torno de 700 anos. Essa é a idade do homem cujo esqueleto foi encontrado no sítio arqueológico do Evaristo, em Baturité, no Ceará, a 90 quilômetros de Fortaleza. As primeiras amostras de carvão analisadas – colhidas em vasilhas cerâmicas e na base do crânio do esqueleto – apresentaram idades radiocarbônicas de 660 ± 30 AP (Antes do Presente) e 670 ± 30 AP, ou seja, entre os anos 1280 e 1300 da era cristã. Para chegar a este resultado as amostras foram datadas pelo método do Carbono 14, no Laboratório Beta Analytic (EUA). A informação comprova que grupos indígenas ocupavam o local pelo menos dois séculos antes da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500. A pesquisa é financiada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Ceará (IPHAN-CE) e teve início em março, atendendo às reivindicações da Comunidade Quilombola da Serra do Evaristo.
Na Serra do Evaristo, local de expressiva beleza paisagística, também foram coletados diversos artefatos polidos e lascados, fragmentos cerâmicos, fusos e adornos. No entanto, um dos destaques é o esqueleto humano que, de acordo com os arqueólogos, aponta para um “indivíduo adulto, com mais de 50 anos de idade, de constituição física relativamente robusta, depositado no interior de uma urna funerária em posição sentada e pernas flexionadas”. Os achados indicam que a área foi habitada por grupos pré-históricos que já dominavam a agricultura e tecnologias da fabricação da cerâmica e da fiação de algodão. As escavações também demonstram a prática de sepultamentos em urnas funerárias cerâmicas piriformes (em formato de peras), acompanhados de um complexo ritual funerário.
Embora pertencentes a horizontes culturais distintos, os arqueólogos cearenses já podem afirmar que os grupos pré-históricos do Evaristo, sem etnia ainda definida, viveram à época dos grupos Tupiguarani do Cariri Cearense que se estabeleceram às margens do riacho das Baixas, no município de Mauriti. A pesquisa está na fase final. Após o processo de escavação em campo e em laboratório, higienização, registro e demais atividades, o material será catalogado para integrar a coleção do museu que será construído na comunidade.
Para promover a educação patrimonial sobre o assunto, foram realizados minicursos e palestras na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Centro Regional Integrado de Administração (CRIA) de Baturité, na Escola 15 de Novembro e no Ponto de Cultura do Evaristo. Jovens da comunidade foram contratados e treinados para desenvolver as atividades de campo e laboratoriais, formando assim, multiplicadores de toda a pesquisa. No Sítio Funerário do Evaristo, a proposta é a construção de um museu, em regime de mutirão, para abrigar as peças encontradas no local.
Fonte: IPHAN