Paraty é uma cidade cujo isolamento histórico promoveu a manutenção de seu patrimônio natural e imaterial, neste caso os saberes e fazeres tradicionais, de forma a constituir uma singular paisagem cultural. Não à toa a cidade foi eleita destino em turismo cultural pelo Ministério do Turismo – sua paisagem alia sustentabilidade, economia da cultura e do lazer, capital humano e social.
Em Paraty, as manifestações folclóricas e religiosas são realizadas com esmero por meio de procissões, folguedos, festejos, cantorias e danças. As ruas enchem-se de bandeirinhas, as grandes janelas e portas de madeira são graciosamente ornamentadas e, nas praças, a comunidade prepara enormes bonecos de papel machê. Estas manifestações populares e religiosas são resultantes de três origens étnicas: dos negros, dos índios e dos caiçaras, este último grupo provindo da miscigenação entre portugueses, escravos e indígenas do litoral. Esta harmoniosa e espetacular mistura tem por consequência várias festividades sacras, sendo uma das principais delas a Festa do Divino Espírito Santo.
Atribuída à Rainha Isabel (1271 – 1336), a Festa do Divino chegou ao Brasil trazida pelos colonizadores e vem acontecendo em Paraty desde o século XVIII. Realizada no dia de Pentecostes (50 dias após a Páscoa), a festa homenageia a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Pelas suas enormes proporções, envolvendo praticamente toda a comunidade, a festa começa a ser organizada um ano antes de sua realização: escolhido pela Paróquia, um “festeiro” administra dezenas de voluntários – às vezes mais de um para cada atividade, seja religiosa ou profana.
São 11 dias inteiros de missas, ladainhas, leilões, rifas, bingos, bebidas, comidas e danças típicas, e shows musicais. É notável observar-se que o Divino vem mantendo, ao longo dos séculos, o mesmo espírito comunitário, religioso e folclórico dos primeiros tempos. Alguns aspectos foram adaptados à realidade local como, por exemplo, a Folia do Divino, que foi suprimida: mas a festa se mantém imutável nos seus princípios básicos, como na distribuição de carnes aos pobres, comida ao povo e balas e doces às crianças: e os portugueses chamam de “vodos” do Divino.
O último fim de semana é o que mais trabalho requer: após a alvorada, no sábado de manhã bem cedo, carne é distribuída aos pobres pelos festeiros exatamente como Dona Isabel fez 700 anos atrás. Ao meio dia, comida e bebida são distribuídos á população. De noite, na Matriz, um adolescente da comunidade é coroado Imperador do Divino, que assiste missa com seus vassalos e, logo após, recebe homenagens do lado de fora da igreja, com a apresentação da Dança das Fitas, do Xiba Cateretê, da Dança dos velhos e dos bonecos folclóricos de Paraty: o Boi, o Cavalinho, o Peneirinha e a Miota – ou Minhota, originária do Minho, em Portugal.
O Imperador e sua corte, o festeiro e dezenas de outros devotos carregando suas bandeiras, dão uma volta pela cidade arrecadando donativos e seguem para assistir missa. Em seguida, o Imperador assiste à Congada (Marrá Paiá em Paraty). Na cadeia antiga, simbolicamente ele liberta um preso. A ultima procissão acontece à tardinha, após a qual o festeiro passa a Bandeira Mestra para o festeiro do ano seguinte.
O Imperador preside as cerimônias de sua festa distribuindo lembranças e medalhas, soltando da cadeia um preso comum, como indulgência imperial, e recebe as homenagens das autoridades locais e as reverências de praxe. Na parte religiosa, preside às procissões e tem assento ao lado direito do altar, em trono ricamente ornado, ostentando as insígnias imperiais: coroa e cetro de prata.
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