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O Atacama além do Atacama

Aventureiro que é aventureiro já sonhou em deixar pegadas no solo do deserto mais seco do mundo. A 2440 metros sobre o nível do mar, o Deserto do Atacama surpreende quem chega pela primeira vez ao norte do Chile e volta a surpreender quem decide retornar a essas terras áridas entre o Oceano Pacífico e as Cordilheiras dos Andes.

Os viajantes de primeira viagem já chegam com o roteiro na ponta da língua: uma caminhada longa pelos paredões e dunas dos Vales da Lua e da Morte, destinos próximos ao povoado de San Pedro de Atacama; um café-da-manhã inusitado com cheiro de enxofre em meio às fumaças dos gêiseres de El Tatio; e banhos em lagoas que, de tão salgadas, não permitem que os visitantes afundem em suas águas.

No entanto, longe dessas atrações mais populares que chegam a “congestionar” o trânsito de turistas em determinadas horas do dia há um deserto pouco explorado que, por sorte, segue escondido em áreas mais distantes. Seja qual for a sua opção, San Pedro será sempre o ponto de partida para conhecer o deserto mais alto do planeta com raras gotas de chuva e 330 noites de céu estrelado.

A apenas 60 quilômetros a noroeste de San Pedro o deserto já ganha outros ares, e a aridez rígida de suas montanhas vão ganhando tons mais verdes por conta da proximidade com o Pacífico. É justamente nessa área mais úmida do Atacama que se encontram os petroglifos de Yerbas Buenas.

As imagens talhadas em alto e baixo relevos naquelas enormes rochas de origem vulcânica datam de 11 mil anos e teriam sido deixadas, supostamente, pelos povos que passaram pela rota que unia a Argentina e a costa chilena. O que se vê ali são informações importantes que parecem ser descrições do cotidiano e dos rituais religiosos das caravanas que escolhiam aquelas terras para descanso.

Hoje, poucos passam por ali e a falta de um projeto que preserve o local, aliada à porosidade dessas rochas vulcânicas, podem fazer com que essa etapa da história da região desapareça. Aliás um dos maiores desafios é preservar a história dos povoados locais mais afastados.

A população atacamenha, seguindo uma tendência mundial, tem deixado suas casas em áreas agrícolas para tentar uma vida melhor em cidades maiores. O resultado é o quase desaparecimento de povoados que hoje chegam a ter um habitante. Ruim para eles; bom para o aventureiro que busca a sensação de estar quase solitário em pleno deserto.

A 12 quilômetros de Yerbas Buenas, Río Grande pode ser considerado uma megalópole com seus 90 habitantes que vivem da agricultura e do rebanho. Suas ruas estreitas de terra e as típicas casas de adobe com telhados de palha são um convite para passar algumas horas longe da agitada Caracoles, a via principal de San Pedro que concentra os restaurantes e bares mais badalados. Os terraços de plantação construídos com técnicas do povo Tiwanaku, do sul da Bolívia, e a curiosa igreja de 1760 separada do seu campanário são outras atrações que valem ser visitadas.

Mas se você quiser ter de verdade a sensação de estar sozinho no deserto, o lugar exato é Catarpe. E nem precisa ir tão longe – fica a nove quilômetros ao norte do centro. Esse minúsculo povoado tem apenas um morador: um senhor que cuida de uma casa que está sendo reformada para os fins de semana de verão de uma família de San Pedro. Como quase todas as outras pequenas cidades, a população de Catarpe, que não passava de 20 habitantes, também deixou a região para conquistar novos terrenos.

E já que você optou por uma viagem interior, o Vale de Catarpe também oferece a Quebrada del Diablo onde um cânion de paredes baixas permite caminhadas ou cavalgadas pelo leito seco do rio que um dia cruzara suas espetaculares formações rochosas.

Se bater aquela vontade de ver outros humanos, sem a correria das excursões massivas que “despejam” turistas sobre o chão pedregoso do Deserto do Atacama, as lagoas Cejar e Tebenquiche são opções um pouco mais populares que ainda preservam o sossego que todo deserto merece.

Localizadas no setor norte do Salar do Atacama (sim, além de tudo o deserto também tem imensas áreas de sal), essas concentrações de águas salgadas permitem um banho em piscinas naturais formadas pelas escassas chuvas e pelo degelo da neve das montanhas da região. Assistir, em silêncio, ao espetáculo do pôr-do-sol sobre vulcões sagrados como o Licancaburpisco sour oferecido pelos locais deixa o deserto ainda mais majestoso. Parece miragem, mas o Atacama ainda é capaz de ir além do próprio Atacama. com um copo de


Por: Eduardo Vessoni Portal IG turismo

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