A África do Sul investiu US$ 4,6 bilhões para ser a sede da Copa do Mundo de futebol, incluindo a construção e reforma de dez estádios de primeira classe. Tudo o que precisa agora é de torcedores – montes de torcedores.
O governo esperava que o evento esportivo mais acompanhado do mundo atrairia 450 mil espectadores internacionais, ajudando a criar empregos para um em cada quatro sul-africanos atualmente desempregados. À medida que o pontapé inicial de 11 de junho se aproxima, no entanto, as autoridades encolhem suas expectativas. A estimativa de visitantes agora foi cortada para 350 mil – número que ainda poderá mostrar-se demasiadamente otimista, levando em conta que apenas cerca de 100 mil passagens aéreas foram vendidas até o início de março. Da mesma forma, a projeção de contribuição do torneio ao Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzida pela metade, para 0,5 ponto porcentual. "Quando a Copa do Mundo nos foi conferida em 2004, a situação econômica era completamente diferente", afirmou o ministro dos Esportes, Makhenkesi Stofile, em Pretória, em 19 de março. "Precisamos rever essas projeções e ser realistas."
Uma baixa presença de torcedores seria um golpe para os esforços do governo para impulsionar a economia da África do Sul, que sai de sua primeira recessão em 17 anos. Também seria embaraçoso para o presidente do país, Jacob Zuma, e para o presidente da Fifa, Sepp Blatter, que garantiram de forma reiterada que promover o evento na África pela primeira vez seria um sucesso.
Os números sobre os torcedores até agora não são muito bons. A Match Services, empresa suíça que a Fifa contratou para ser responsável pelos ingressos e serviços de hospedagem, abriu mão dos direitos de reservas de 450 mil diárias de hotel. As vendas de pacotes de hospitalidade para empresas estão 50% abaixo das metas, com patrocinadores e parceiros devolvendo milhares de ingressos para assentos privilegiados, segundo a Fifa.
Alguns torcedores hesitam ante o custo dos voos de longa distância e o preço de hospedagem. "Toda a viagem, com duas semanas, teria acabado nos custando mais de 3 mil [libras esterlinas] cada", diz David McNally, contador de Swindon, no sul da Inglaterra, que pretendia fazer a viagem com um grupo de amigos. "É muito."
De forma surpreendente, com exceção dos sul-africanos, os que mais compraram ingressos para a Copa do Mundo foram os americanos (107.756 pela contagem mais recente), sinal da crescente popularidade do esporte nos Estados Unidos. Para alimentar o interesse nos EUA, a Fifa pressionou a empresa aérea Emirates, patrocinadora da Copa do Mundo, a reduzir o preço da viagem de ida e volta entre Nova York e Johannesburgo de US$ 3 mil para US$ 2 mil.
Mesmo sob as circunstâncias mais favoráveis, a África do Sul sofreria grandes pressões para replicar o sucesso da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. O evento atraiu cerca de 2 milhões de visitantes e rendeu ao setor de turismo cerca de US$ 400 milhões em receitas, além de gerar vendas varejistas de US$ 2,7 bilhões, segundo dados do governo. "Qualquer Copa do Mundo na Europa tem a vantagem de ter praticamente metade das seleções participantes a uma distância da sede que pode ser percorrida de carro", afirmou o presidente da Match Services, Jaime Byrom.
Embora Pretória esteja confiante em uma corrida de última hora por ingressos, já que as operadoras de turismo vêm reduzindo os preços, especialistas dizem que seria melhor moderar as expectativas. "O evento não ajudará a mitigar a pobreza de forma significativa", afirma Udesh Pillay, coautor de "Development and Dreams: The Urban Legacy of the 2010 Football World Cup."
Fonte: DT