Itans são narrativas ancestrais que carregam em suas entrelinhas sabedoria, espiritualidade e a riqueza imensurável das tradições de matriz afro

Aqui, no Portal Embarque na Viagem, sempre buscamos levar você a destinos que transcendem mapas e roteiros. Hoje, iniciamos uma jornada especial: uma série dedicada aos Itans, narrativas ancestrais que carregam em suas entrelinhas sabedoria, espiritualidade e a riqueza imensurável das tradições de matriz afro.
Essas histórias, passadas de geração em geração, são muito mais que lendas. São raízes que sustentam cosmovisões, ensinam sobre resistência, celebram a natureza e honram a conexão entre humanos e o divino. Nossa proposta é compartilhá-las com afeto e reverência, em uma linguagem leve e acessível, para que todos possam mergulhar nesse universo fascinante — seja você um curioso que está dando os primeiros passos nesse conhecimento ou alguém que já carrega essas memórias no coração.
Aqui, não há espaço para estereótipos ou simplificações. Queremos, sim, abrir portas para o respeito, o diálogo e a valorização de religiões e culturas que moldaram identidades e resistiram ao apagamento histórico. Cada conto será uma janela para entender práticas sagradas, símbolos profundos e a importância de preservar esses legados — sempre conectando-os a temas urgentes, como sustentabilidade, diversidade e empoderamento social.
Afinal, viajar também é sobre desbravar narrativas que nos ensinam a ver o mundo com novos olhos. Prepare-se para se emocionar, refletir e se encantar com histórias que atravessaram oceanos, sobreviveram ao tempo e continuam a iluminar caminhos.
Vamos juntos? A primeira parada dessa série começa hoje, com mais um entre os muitos itans falando de Oxóssi, um bravo guerreiro. Espero que você aproveite bastante!
A força do irmão guerreiro e o caçador da floresta
Naquele tempo em que o mundo ainda sussurrava segredos aos ouvidos dos orixás, dois irmãos caminhavam entre a guerra e a mata: Ogum, com seu ferro inquebrável, e Oxóssi, com o arco que dançava com o vento. Um não existia sem o outro — pois até os deuses precisam de laços para se lembrar de quem são.

Certa tarde, Ogum, o senhor das guerras e dos caminhos, que carregava nas costas o peso de mil batalhas, voltava de uma bem distante, quando ouviu o clamor da terra. Seguiu o som até a aldeia e encontrou Oxóssi, seu irmão, cercado por inimigos. O caçador já lutava há algum tempo com a destreza de quem conhece cada curva do rio e cada sombra da floresta, mas a investida era feroz, e até os mais corajosos precisam de um aliado às vezes. Ogum não pensou duas vezes: ergueu sua espada como quem ergue um raio e juntou-se ao irmão, não para salvá-lo, mas para lutar ao seu lado.
Juntos, guerreiro e caçador foram como a tempestade e a brisa — um derrubando adversários com força bruta, o outro mirando com precisão nas brechas que só os olhos treinados na mata enxergam. Quando a última ameaça se dissolveu em poeira, os dois sentaram-se sob uma árvore sagrada, e Ogum, com um sorriso tão raro quanto o brilho da primeira estrela, disse:
— Você já tem a coragem da floresta, irmão. Vou te dar também a coragem do ferro.
Nos dias que se seguiram, Ogum mostrou a Oxóssi como transformar desafios em estratégias. Ensinou-o a ler não só os rastros dos animais, mas os sinais — o silêncio suspeito antes do ataque, a folha que cai indicando perigo. Oxóssi, por sua vez, revelou ao guerreiro os segredos das ervas que curam feridas e os caminhos onde a terra canta mais do que os metais. Era uma troca de saberes, um presente de irmão para irmão.
Ogum não fez de Oxóssi um guerreiro — ele já era completo em sua essência. Mas deu-lhe asas para que sua coragem voasse mais longe. Quando partiu, levou consigo a certeza de que a aldeia não estava apenas protegida, mas florescendo, sob os cuidados de um caçador que agora também era guardião.
E assim, cada um seguiu seu destino:
Ogum, desbravando horizontes com sua espada,
Oxóssi, nutrindo a vida com cada flecha certeira.
Há quem diga que nas noites de lua cheia, quando o vento traz histórias antigas, que os dois se encontram na fronteira entre a guerra e a floresta e riem, lembrando de suas batalhas e fortalecendo ainda mais o laço entre irmãos.
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