São João Marcos, um antigo distrito cafeeiro que surgiu no período imperial, teve suas raízes quando João Machado Pereira instalou uma fazenda na região em 1733, vindo de Resende. Esse acontecimento deu origem a uma estrada segura para o transporte dos quintos de ouro com destino ao Rio de Janeiro.
Em 1739, João Machado Pereira mandou construir uma capela dedicada a São João Marcos, que se tornou paróquia em 1755 e atraiu uma pequena população ao redor.
Esta foi uma cidade de barões, rica em cultura, educação e padrão de vida elevado. Ao longo do século XIX, essa pequena e requintada cidade destacou-se como uma das mais prósperas do Rio de Janeiro, atraindo artistas europeus que se apresentavam em seus suntuosos teatros e casas coloniais. As famílias abastadas contratavam professores estrangeiros para educar seus filhos, exibindo um alto nível de sofisticação.
De acordo com os arquivos da prefeitura de Mangaratiba, um único fazendeiro, o comendador Joaquim José de Sousa Breves, teria sido considerado o homem mais rico do Brasil na época. As plantações de café de São João Marcos abasteciam o mercado europeu, impulsionando ainda mais a prosperidade da cidade.
A Era Dourada do Café
No século XIX, São João Marcos atingiu seu auge com a chegada da cultura do café, tornando-se um dos principais centros cafeeiros do Brasil, ao lado de cidades como Resende, Valença, Vassouras e Paraíba do Sul. O comendador Breves, um dos maiores produtores de café da região, possuía várias fazendas, aproximadamente 6.000 escravizados e vastas quantidades de café armazenadas em trapiches em Mangaratiba.
Mas com o tempo a decadência da região começou, justamente, com a abolição da escravatura, que gerou a escassez de mão de obra para sustentar a produção cafeeira.
Decadência e Desaparecimento Sob as Águas
Com o declínio da produção cafeeira fluminense, São João Marcos perdeu gradualmente sua importância e população, que chegou a atingir 20 mil pessoas durante seus tempos áureos. O centro histórico da cidade foi tombado como monumento nacional em 1939, mas, infelizmente, em 1940, foi destombado para permitir o represamento das águas do ribeirão das Lajes pela empresa Light, visando aumentar a geração de energia elétrica para o Rio de Janeiro.
Muitos dos moradores foram obrigados a se dispersar para localidades vizinhas, como Lídice, Rio Claro, Mangaratiba, Itaguaí e Piraí, na esperança de verem a cidade reconstruída próxima à igreja Matriz, o que nunca aconteceu. Infelizmente, além da igreja Matriz, várias outras edificações, incluindo uma antiga capela pertencente à Irmandade Nossa Senhora do Rosário, dois clubes, um teatro e um hospital, foram demolidas.
Assim, mais de dois séculos de História foram submersos. Os moradores da comunidade da Serra do Piloto foram um dos principais destinos deslocados por essa mudança.
Resquícios Históricos Preservados
Apesar de condenada a desaparecer sob as águas da represa, grande parte da cidade não foi inundada. Hoje, em um vale na confluência dos antigos rios Araras e Panelas, restam vestígios do antigo núcleo: trechos de caminhos calçados com pedras, muros em cantaria e outros resquícios encobertos pela vegetação. A ponte Bela, construída em 1857 no caminho da antiga Estrada Imperial, ainda se destaca pela beleza na paisagem, mesmo sendo periodicamente encoberta pelas águas da represa e cercada por densa vegetação.
O Legado de São João Marcos
Mesmo com seu território dividido entre o 3º e 4º distritos do município de Rio Claro, o passado de São João Marcos está sendo preservado no Vale do Paraíba Fluminense. As ruínas da antiga cidade podem ser avistadas às margens da rodovia RJ-149, entre Rio Claro e Mangaratiba.
Em 2008, um projeto pioneiro começou a dar nova vida às ruínas dessa cidade praticamente esquecida, dando origem ao Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. Inaugurado oficialmente em 2011, o projeto é mantido pela companhia de energia Light, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.
Hoje, o parque preserva as memórias e vestígios de São João Marcos, possibilitando que visitantes mergulhem em sua rica história e compreendam o legado deixado por uma cidade que já foi um símbolo de prosperidade e sofisticação. Através desse projeto, a cidade submersa emerge como um testemunho vivo do passado, oferecendo uma jornada emocionante através do tempo.
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