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Medellín, na Colômbia, espera receber 2,5 milhões de turistas em 2019

Medellín recebeu 1,4 milhão de visitantes estrangeiros nos últimos dois anos e, apesar das tentativas de se livrar da imagem do narcotraficante Pablo Escobar, é ela que atrai mais turistas

Medellín

O turismo natural e o comunitário se converteram nas grandes apostas das autoridades de Medellín, na Colômbia (421 km de Bogotá), para dinamizar o setor da cidade e se posicionar como o principal destino do país para viagens de curto período. Os planos do município, segundo a subsecretária de Turismo, Juliana Quirós, é superar os 735 mil visitantes de 2017.

“Estamos buscando posicionar Medellin como um destino transformador, sustentável, responsável e competitivo no setor do turismo. Queremos nos posicionar como destino por excelência para curtos períodos”, afirmou ela ao jornal El Colombiano.

Medellín, capital da província de Antioquia, foi a cidade que recebeu mais turistas estrangeiros do país em 2016, superando Bogotá — a principal metrópole colombiana — e as caribenhas Cartagena de Índias e Santa Marta.

De acordo com o Sistema de Indicadores Turísticos de Medellín-Antioquia (Situr), foram registradas 773 mil chegadas de estrangeiros à cidade em 2016, um número 91% maior do que cinco anos atrás, quando 403 mil pessoas do exterior desembarcaram no aeroporto do município. Se comparado com 2007, quando foram 207 mil desembarques internacionais, o crescimento chega a ser de 273%.

No entanto, apesar dos esforços em estimular o setor por causa dos eventos, das paisagens naturais e da experiência das comunas, Medellín atrai muitos visitantes do exterior por causa de uma figura controversa: o narcotraficante Pablo Escobar, morto em 1993 em um bairro da periferia da cidade.

As buscas dos turistas por atrações turísticas que remetem ao polêmico traficante se intensificaram em 2015, após o lançamento da série estadunidense Narcos, cujo papel de Escobar era feito pelo ator brasileiro Wagner Moura. Recentemente, a mesma plataforma de Narcos, a Netflix, ajudou a produzir outro roteiro em Medellín relacionado a ele: o jornalista neozelandês David Farrier incluiu o tour Escobar, guiado por um dos seus capangas mais próximos, na série Dark Tourism.

Entre os locais visitados pelo roteiro, estão o prédio em que Escobar viveu no final dos anos 1980 até ser bombardeado por cartéis rivais, a igreja onde os seus sicários pediam proteção e, claro, a casa cujo telhado serviu de palco para sua morte, no bairro de Los Olivos.

O tour é organizado por Carlos Palau, um ex-policial que, nos anos 1990, pediu para ser transferido de Bogotá a Medellín para vingar a morte de seus companheiros mortos em missões contra os narcotraficantes. À época, a capital de Antioquia era conhecida mundialmente não apenas por ser a cidade onde vivia Pablo Escobar, mas pela violência descontrolada causada pela venda de entorpecentes: a partir de 1988, as taxas de homicídio começaram a crescer significativamente no município até atingirem o ápice em 1991, quando eram de 750 pessoas para cada 100 mil habitantes. Os números só voltaram a diminuir no começo do século XXI — hoje, a taxa está em 50 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Palau, que também é guia do seu próprio roteiro, incluiu recentemente paradas sobre El Catedral, a penitenciária que Escobar construiu para ele mesmo nos anos 1980 tentando evitar sua extradição aos Estados Unidos, e a tumba onde ele está enterrado, no cemitério Montesacro – um dos destinos turísticos famosos de Medellín.

As autoridades de Medellín, no entanto, tentam aquecer o turismo por outras vias: Quirós afirmou que um dos objetivos da prefeitura é atrair habitantes de Bogotá, por causa do poder aquisitivo da capital e a facilidade de chegar até a Antioquia — a Avianca oferece quase 30 voos diários entre as duas cidades. Para isso, apostam em atrações comunitárias, naturais e de eventos de negócios.

No primeiro caso, o Estado estimula visitas a zonas de Medellín como a Comuna 13, conhecida por ser uma das mais violentas da cidade, onde os turistas podem realizar um “graffitour” e conhecer o santuário de Madre Laura Montoya, canonizada pelo Papa Francisco. “O ‘graffitour’ é uma iniciativa dos jovens: eles queriam contar a história do passado violento da comuna por meio do grafite. É uma maneira das pessoas conhecerem o lugar por meio da arte”, disse Quirós.

Já entre os atrativos naturais, Medellín oferece mirantes de observação de aves, setes morros nos arredores, jardins botânicos e parques temáticos. “Nós somos uma cidade que se diferencia por se integrar à natureza: você para no centro e tem uma visão 360 graus de montanhas com diferentes tonalidades. Há ainda municípios próximos onde se podem fazer caminhadas, praticar esportes e é possível conhecer a vida dos camponeses”, disse Quirós.

Ainda assim, os brasileiros que foram para a cidade recentemente notaram que o assunto, entre os turistas, era os atrativos de Escobar. “Conheci um japonês que viu Dark Tourism e estava refazendo todo o roteiro da série, começando pela prisão de Escobar”, conta o jornalista Guilherme Henrique, que voltou da Colômbia em novembro.

Em 2016, o prefeito de Medellín, Frederico Gutiérrez, divulgou uma carta em que criticava duramente a companhia panamenha Air Panamá, que havia distribuído panfletos dos roteiros turísticos sobre Escobar em suas aeronaves e que havia promovido um pacote turístico que incluía uma visita à fazenda Nápoles, onde ele viveu boa parte de sua vida, e um jantar com um ex-sicário do narcotraficante.

“Criamos o nosso primeiro ‘Pablo tour’ dez anos atrás, mas a demanda explodiu depois que o Netflix começou a transmitir a série Narcos“, explica Camilo Uribe, diretor da agência de viagens Medellín City Services. “É um assunto muito sensível por aqui, porque a maioria dos moradores de Medellín perdeu familiares devido a Pablo. Eles não gostam dos nossos tours, já que não têm orgulho desse passado. Eles também reclamam ao ver turistas tirando fotos no túmulo de Pablo”, completa.

Medellín recebeu 1,4 milhão de turistas estrangeiros nos últimos dois anos e espera chegar a 2,5 milhões em 2019. Os países que mais enviaram visitantes foram os EUA, o Panamá e o México, que juntos reúnem 67% de todas as pessoas do exterior que desembarcaram na cidade.

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