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ZÉ RAMALHO – Show comemorativo – 40 anos de música!

O tradicional clube Juventus, localizado no bairro da Mooca, em São Paulo, recebeu no Sábado passado (14/12) o cantor e compositor Zé Ramalho que está percorrendo o Brasil com shows de comemoração aos seus 40 anos de carreira.

Zé Ramalho

Algumas horas antes, pelos arredores do clube, já se via uma grande manifestação de pessoas e, ao passar dos minutos, uma imensa fila de carros começava a se formar pelas ruas próximas ao local do evento. Esses acontecimentos profetizavam o que seria uma noite muito especial.

O clima, na capital paulista, oferecia as melhores condições para a locomoção das pessoas. Alguns já faziam a cabeça ouvindo gravações do profeta paraibano, ali mesmo, na calçada do clube, parecendo um verdadeiro ponto de encontro de amigos e pessoas apaixonadas pela música brasileira e também pela música mundial.

O público, de idades variadas e estilos variados, com camisetas dos Beatles, Raul Seixas, Rolling Stones, Led Zepellin, Luiz Gonzaga e Belchior dava o tom visual, mais que diversificado, da plateia que ia se formando. É interessante ressaltar que muitos dos amantes do rock veem, em Zé Ramalho, um representante deste estilo. Somando isso aos ritmos nordestinos, como o forró e o repente, o compositor transborda o seu caldeirão de sons e particularidades, conquistando fãs dos mais diferentes gêneros musicais, desde o primeiro disco, lançado em 1978.

Zé Ramalho

O carinho com o qual os produtores tratavam as pessoas que chegavam e também a imprensa foi algo surpreendente. Lá dentro, a psicodélica música setentista do Nordeste do país, em poucos minutos, tomaria conta de São Paulo. O cenário estava pronto!

O show:

Com uma voz inconfundível, envolto em um enigmático carisma, o aboio dos vaqueiros nordestinos, na voz do paraibano de Brejo do Cruz, marca o início daquela noite tão aguardada por muitos. O tom grave de Zé Ramalho surpreende a plateia cantando “O Que é, o que é”, de Gonzaguinha, com arranjos característicos, mais voltados para seu universo musical, levando todos a cantarem, em uníssono, o tão conhecido refrão: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”. A resposta do público é imediata e Zé Ramalho, de cara, dá uma amostra do que viria pela frente.

Em mais uma homenagem, agora na segunda música, Zé canta “Tá Tudo mudando”, uma versão de Maurício Baia para a canção “Things Have Chenged” de Bob Dylan, uma de suas principais influências na música. Zé Ramalho gravou um disco inteiro em homenagem a Dylan e é uma obra que vale muito ser ouvida.

O cantor cumprimenta o público com um “boa noite” e um sorriso tímido, mas, que logo se transforma em palavras de saudações e agradecimentos pela presença de todos que ali estavam. O público, por sua vez, responde maravilhosamente.

“Kryptônia” abre a série de músicas onde o misticismo começa a aparecer, aos poucos, durante o show. A iluminação, impecável, comunga perfeitamente com o som e convida a plateia a se transportar para um mundo paralelo, uma incrível viagem musical, agora sim, pelas linhas traçadas, competentemente, nas canções autorais de Zé Ramalho.

“Beira-Mar”, gravada no LP intitulado “A peleja do diabo com o dono do céu”, aproxima o público, um pouco mais, do universo dos repentistas nordestinos, tão apreciados por Zé Ramalho desde sua infância na paraíba. A música traz uma sonoridade pop com a letra toda escrita em versos de Cordel onde, obrigatoriamente, todas as estrofes terminam “na beira do mar”.

Zé Ramalho sempre esteve muito presente em trilhas sonoras das telenovelas brasileiras. Foi assim que ele fez o público delirar cantando “Entre a Serpente e a estrela”, uma versão de Zé para a música “Amarillo by morning” do cantor norte americano Terry Stafford em parceria com Paul Fraser. Esta música foi gravada no LP “Frevoador” e vendeu mais de 1 milhão de cópias.

“Entre a serpente e a estrela” fez parte da trilha sonora da novela “Pedra sobre Pedra”, da tv Globo. Vale lembrar que, desta vez, ficou de fora a música “Mistérios da meia noite”, outro grande sucesso de Zé Ramalho que entrou na trilha da novela Roque Santeiro, também da TV Globo.

“Táxi Lunar”, parceria com os amigos Alceu Valença e Geraldo Azevedo, aparece, após um convite que o cantor faz ao público para “tomarem um Táxi pra estação lunar”. Gritos são ouvidos enquanto Zé faz a contagem para o início da música. Os arranjos são diferentes da versão original, gravada no disco “Orquídea Negra”. No show, Ramalho utiliza o “agalopado”, mistura regional de baião e frevo, característica do seu trabalho. “Táxi Lunar” é tocada e cantada bem ao estilo “Frevo Mulher” e um imenso carnaval, momentâneo, surge no salão nobre do clube e, desta vez, o povo cai na dança.

Dando continuidade e fazendo o nordeste brasileiro presente, o compositor muda também os arranjos da música “A Terceira Lâmina”, faixa título do seu terceiro álbum. Chamado por Zé, naquele momento, para um “baião filosófico”, o público cai na dança deixando a sonoridade ramalheana entrar pelos ouvidos e externar-se nos passos, improvisados, de xaxado e forró.

Segundo o próprio Zé Ramalho, “Eternas Ondas”, música que viria a seguir, neste show, foi inicialmente composta para Roberto Carlos. A música foi gravada por Raimundo Fagner em 1980 e, até hoje, é sucesso em todo Brasil. A canção é executada com os arranjos que Zé Ramalho costuma tocar em shows, sem modificações e com uma pegada pop rock. Vale observar que a gravação original, do LP “Força Verde”, é repleta de instrumentos e, durante toda a faixa, a voz de Zé Ramalho é alterada, lembrando uma voz robotizada. Na minha opinião, “Força Verde”, talvez seja o LP mais místico do paraibano, onde visões futuristas são apresentadas na capa e as letras viajam por diversos universos, desde a mitologia grega até possíveis visões de discos voadores. É um LP maravilhoso. “Força Verde” traz também um período conturbado na vida de Zé, onde, o mesmo, foi acusado de plágio, devido a uma capa dos quadrinhos do super-herói Incrível Hulk. Tempos depois, Zé Ramalho voltaria ao seu lugar no topo dos sucessos no país.Zé Ramalho

As luzes se apagam! De repente, apenas, Zé é iluminado, causando um impacto misterioso próximo à beira do palco. Assim, como no disco “antologia acústica”, o músico inicia os ponteios (toques que remetem à viola) daquela que foi a música que abriu a sua caminhada para o sucesso. Após esse arranjo inicial, o cantor dá uma pequena pausa, se dirige ao microfone e anuncia a “mensagem do Avohai”, referindo-se ao clássico “Avohai”. As pessoas gritam e levantam os celulares para filmagens e fotos. Zé inicia a música da mesma forma que foi gravada em 1978. Os fãs vão à loucura e os olhos das pessoas parecem não piscar um só momento, como se estivessem hipnotizados pela música que homenageia o avô de Zé. Detalhe para a famosa “linha de baixo” executada pelo excelente músico, contrabaixista, Chico Guedes.

A fase hippie do cantor continua com “Vila do Sossego”, também, do primeiro álbum. Neste momento, as pessoas levantam as mãos, solfejando o arranjo inicial, junto com Zé e a “banda Z”. Ao iniciar a música a plateia entra em uma espécie de “transe coletivo” e vai acumulando palavras e sensações até soltar um imenso grito, junto com o cantor, libertando sentimentos, no final de cada estrofe. Nesta canção os assuntos abordados são os mais variados, desde aviões vomitando paraquedas, passando sobre a sabedoria popular antiga, casamentos, delírios, talvez, encabeçados pelo seu período de experiências com substâncias alucinógenas e, até mesmo a figura mítica do famoso padre Cícero é citada na letra.

É importante comentar que, durante todo o período do show, poucas vezes, Zé Ramalho para pra falar com o público. É realmente uma música atrás da outra, com poucas falas intercalando. Zé é objetivo.

Eis que chega o momento, talvez, mais aguardado pela plateia. Zé Ramalho, mais uma vez, se dirige para a beira do palco e inicia os acordes de “Chão de Giz”, música gravada em 1978 e que, até hoje, é uma das mais executadas em bares e casas noturnas do país. Tocados os dois primeiros acordes, o público começa a gritar e, novamente, os aparelhos celulares são levantados para o alto, desta vez, em maior número. “Chão de Giz” é cantada pela plateia desde a sua primeira palavra, passando pela expressão “Freud explica”, emocionando todos os presentes. Foi o momento culminante do show!! Lindo!!

Na sequência vem “Garoto de Aluguel” e “Admirável Gado Novo”, outra música que também fez parte da trilha de outra telenovela, desta vez, “O rei do gado”. O refrão “Povo marcado, povo feliz” é algo marcante na história da música popular brasileira. Vale lembrar que “Admirável Gado Novo” é, em partes, inspirada no livro “Admirável Mundo Novo”, do escritor, Aldous Huxley.

Depois disso, para o show ficar ainda mais emocionante, Zé faz duas homenagens ao seu “colega de profecias”, como costuma dizer, Raul Seixas. Em peso, a plateia canta, emocionada, “Gita” e “Medo da Chuva”. A interpretação de Zé, nas duas canções, é de uma particularidade incrível.

Finalmente, a zabumba de Zé Gomes é acionada e o ritmo nordestino volta a imperar. Bateria e percussão, unidas, fazem tremer o clube e, para a surpresa de muitos, Zé presenteia os fãs com riffs da música “Beat It”, do norte americano, ícone da música pop, Michael Jackson. Ainda com a percussão tocando, os primeiros acordes de “Frevo Mulher”, música gravada por diversos artistas, inclusive sua ex-mulher Amelinha, aparecem e, em seguida, a Banda Z envolve o público, retomando aquela pegada carnavalesca e finalizando com Zé, deixando o violão de lado e caminhando pelo palco de uma ponta a outra, fazendo gestos de agradecimentos para o público. O cantor recebe em troca acenos de despedida, numa conexão energética incrível, entre artista e plateia. “Zé Ramalho e a Banda Z se despedem de vocês”, diz o artista, deixando o palco, logo em seguida.

Zé Ramalho

O público não arreda o pé e pede o famoso “bis”. Zé Ramalho volta e canta “Sinônimos”, música de grande sucesso, cuja gravação original foi com a dupla Chitãozinho e Xororó. O público canta junto, renovando emoções vividas durante todo o espetáculo. Para encerrar, não poderia faltar o mestre Luiz Gonzaga e a “Vida do Viajante” foi o tema final do concerto. Realmente, a música se encaixa bem no que simboliza Zé Ramalho para seus fãs e admiradores: “minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz”. Esperamos que esse dia demore muito para que continuemos viajando na poesia musical deste grande ícone da música brasileira.

Zé Ramalho

A BANDA Z é formada por: Chico Guedes (Baixo e vocais), Toti Cavalcante (Flauta, sax e vocais), Zé Gomes (Percussão e vocais), Edu Constant (Bateria) e Vladmir Sosa (Teclados). Fotos: Eduardo Gonçalves

Em nome do Embarque na Viagem, agradeço a VRS produções pelo convite e desejo sucesso em todos os eventos realizados. Agradeço imensamente aos amigos Victor e Ana pela atenção dada em meio a uma noite tão agitada e ao fotógrafo Eduardo Gonçalves por disponibilizar os registros fotográficos. Um abraço forte e muita Paz!

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