Em minha mais recente viagem para Foz do Iguaçu fui com o propósito de conhecer um pouco mais das histórias e causos da região e desta forma, me lancei a conversar com muitas pessoas e assim descobri um fato curioso, que a grande maioria dos visitantes das fabulosas Cataratas do Iguaçu sequer tem noção da importância que Santos Dumont (sim, ele mesmo, o inventor e aviador) exerce para o Parque Nacional Cataratas do Iguaçu. Sem Santos Dumont, talvez ele nem existisse. Vou explicar…
Há 102 anos, as Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, recebiam a visita de Santos Dumont. Durante sua visita em abril de 1916, ficou tão impressionado com tanta beleza que pressionou o então governador do Paraná, Affonso Camargo, para que declarasse a área de utilidade pública e abrisse o local para a visitação pública. Ele realmente ficou muito indignado por tanta beleza pertencer a um único dono. Na época – veja-se que absurdo – toda aquela área pertencia a um particular, o fazendeiro uruguaio Jesus Val.
A visita
Se engana quem pensa que esta era uma visita planejada e cheias de protocolos. Na verdade, um grande visionário, o pioneiro do turismo e da hotelaria de Foz do Iguaçu, Frederico Engel, ficou sabendo que Santos Dumont estava em Porto Aguirre, onde atracavam os vapores chegados de Posadas – capital do estado argentino de Misiones, na fronteira -, vindo de Buenos Aires. Visionário, pensou na importância que isso teria e, depois de falar com o prefeito coronel Jorge Schimmelpfeng, foi para lá fazer o convite para que ficasse uns dias na cidade”.
Santos Dumont aceitou o convite e ficou na então Vila Iguassu de 24 a 27 de abril de 1916. Inicialmente se hospedou no Hotel Brasil, na cidade. E então, à tarde, seguiu a cavalo com Engel e o filho até outro hotel – na verdade era uma casinha pequena e com estrutura muito humilde – que levava o mesmo nome, próximo aos Saltos de Santa Maria, as hoje famosas Cataratas do Iguaçu, onde ficou por dois dias, contemplando-as de todos os ângulos que podia, de dia e de noite, à luz do luar.
A estrada de 18 km pelo mato era mantida por Engel e cortava uma propriedade privada que pertencia ao uruguaio Jesus Val. Imagine você que eram necessárias seis horas de viagem de carroça e atualmente, seriam necessários pouco mais de 20 minutos para percorrer a mesma distância e se deparar com o maior conjunto de quedas d’água do mundo.
Em maio de 1916 o jornal O Estado de São Paulo entrevistou Santos Dumont, logo depois dele ter visitado as Cataratas do Iguaçu, vindo de Buenos Aires, onde recebeu homenagens.
Até Iguazú, no lado argentino das Cataratas, a viagem de Buenos Aires levou seis dias – três por estrada de ferro e três por via fluvial.
O jornal descreveu que, ao dar a entrevista, Dumont falou “com entusiasmo, um brilho vivo nos olhos escuros”. Não escondia todo seu encanto com o local. Santos Dumont, que já conhecia as Cataratas do Niágara (Estados Unidos-Canadá), disse ao jornal que “Iguassu é maior, muito maior”, com suas “cachoeiras numerosas e variadíssimas”.
O inventor visitou o lado argentino e o lado brasileiro das Cataratas. Conta-se que no Brasil, Frederico Engel ficou apavorado quando Dumont se equilibrou sobre um tronco de árvore cheio de limo, onde cruzou os braços e ficou admirando a paisagem – ele estava justamente sobre o abismo de águas do Salto Floriano, uma das quedas mais importantes.
Ao perceber o susto do anfitrião, Santos Dumont tranquilizou-o com uma frase que foi para a história: “As alturas não me perturbam, não se preocupe”.
Quando Santos Dumont morreu, em 1932, as Cataratas já eram um patrimônio público. Mas foi só em 1939 que o governo federal criou o Parque Nacional do Iguaçu, desapropriando mais terras no entorno das Cataratas.
Hoje, os turistas podem caminhar por trilhas, com toda segurança, e ainda apreciam as Cataratas do alto, no elevador panorâmico instalado no final da trilha. E até de mais alto ainda, de helicóptero, certamente o meio que Santos Dumont escolheria para apreciar todo o panorama.
Hoje, a fauna e flora do parque ainda chamam a atenção dos visitantes, agora transportados em ônibus panorâmicos, com todo conforto, pelo mesmo trajeto na mata aberto por Engel e seu batalhão de peões responsáveis pela manutenção da estrada.
No Parque Nacional do Iguaçu, no trajeto até as Cataratas, há uma estátua de bronze de Santos Dumont, onde muitos turistas (como eu naquela tarde) não tem a menor noção da importância do inventor para o parque e as Cataratas. Salve Santos Dumont!
Fotos e vídeos: Naira Amorelli.
A Viagem para Foz do Iguaçu contou com o apoio de: Brasil das Águas Turismo (receptivo e transfer), Concept Design Hostel, Belmond Hotel das Cataratas e Wish Foz do Iguaçu by GJP Hotels (hospedagem), Cataratas do Iguaçu S.A (Porto Canoas, Cataratas do Iguaçu e Marco das Três Fronteiras), Rafain Churrascaria Show, Porto Kattamaram, Parque das Aves, Macuco Safari e Helisul (voo Panorâmico).
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