Adoro viajar. Não por acaso sempre me pego procurando por informações de destinos na Internet. No entanto, poucas vezes me surpreendi positivamente quando naveguei pelos sites oficiais das cidades brasileiras. O que se encontra, geralmente, são sites com informações limitadas e layout confuso, sem nenhuma atratividade.
Para quem procura por informação diferenciada, melhor tentar a sorte nas páginas de revistas e blogs especializados, ou nas conversas com amigos que já estiveram na cidade para a qual se pretende ir.
Questões políticas a parte, difícil entender porque isso ainda acontece nos dias de hoje, quando se fala tanto em conteúdo como diferencial na comunicação.
Em conversas com conselhos de turismo de cidades do interior de São Paulo, a confiança, irrestrita, é pela mídia convencional que, evidentemente, tem o seu papel. Mas negligencia-se, com isso, o apoio que as mídias sociais e outras ferramentas de comunicação poderiam dar para o fomento do turismo e da economia local.
Isso porque, ao priorizar a comunicação convencional, privilegia-se o empresariado. Mas e os pequenos tesouros de uma cidade? Também quero prosear com a artesã mais antiga e respeitada da comunidade; conhecer o trabalho dos pequenos agricultores; experimentar a comidinha típica feita com carinho naquele restaurante que só um local, ou um guia muito bem treinado, conhece; visitar o boteco menos nobre, mas que vende uma iguaria como poucos. Mas até o que serve ou não para o turista parece ter sido ‘gourmetizado’. Para o visitante, em geral, melhor mostrar apenas o hotel mais sofisticado, o restaurante mais recomendado, o museu mais importante.
O mesmo vale para as famosas ‘press trip’, ou visitas que as cidades promovem, de tempos em tempos, para jornalistas, com o objetivo de lhes apresentar o destino e conseguir o máximo de menções na imprensa. Nestas ocasiões, chama-se um grupo de jornalistas, geralmente de diferentes veículos de comunicação, muito dos quais concorrentes entre si e, diante de uma programação estabelecida, muitas vezes insalubre por conta da grande quantidade de atividades propostas, tenta-se apresentar o máximo de estabelecimentos turísticos locais, no menor tempo disponível. É importante ressaltar que, comumente, a press trip não leva em consideração o diferencial de cada veículo e a necessidade do jornalista encontrar uma ‘exclusiva’, pois não disponibiliza tempo livre, por exemplo, para que cada profissional explore a cidade como lhe convém. Em alguns casos, é restrita a jornalistas da mídia convencional, deixando de lado o alcance de blogueiros e demais influenciadores das redes. E, não raro, é imposta pela própria secretaria de turismo sem levar em conta opinião dos assessores de imprensa e outros especialistas em comunicação.
Não é preciso mencionar que a necessidade de controlar o profissional da imprensa, claro, não garantirá a qualidade da matéria que será publicada – se isso acontecer, evidentemente. A expectativa do destino ao realizar a press trip, sem dúvidas, é conquistar matérias positivas e enormes. O que é publicado, em contrapartida, quase sempre são menções pequenas, nem sempre relevantes. O jornalista que participou do grupo de imprensa ganha a pecha de preguiçoso e aproveitador. Mas, na verdade, o que aconteceu, foi má gestão do recurso, falta de estratégia e desconhecimento das especificidades de cada veículo.
Com o avanço da tecnologia, aplicativos são outras ferramentas que podem contribuir e muito para a divulgação dos destinos – mas as cidades parecem não perceber nem o alcance, nem a importância disso para o turismo.
Sem contar nas inúmeras possibilidades de eventos e parcerias que seriam geradoras de mídia espontânea, mas que nunca acontecem.
Todos perdem. De um lado, a descrença dos destinos em investir em press-trips e outras formas de comunicação que saem do convencional, os impede de transformar de maneira eficaz a realidade do turismo local. Do lado dos veículos de comunicação, deixa-se de revelar histórias e locais lindos a serem descobertos no Brasil e o que ser vê, hoje, é sempre mais do mesmo: muda-se o blog, a revista, o jornal – mas todos falam do mesmo bar, do mesma praça e do mesmo canto. Do lado do turista, fica a seu próprio cargo e sorte desvendar os mistérios e encantos do nosso país, de acordo com as informações que encontrar aqui e ali. Sem contar empreendedores que, cansados de ter ideias que não são levadas a cabo nunca, decidem apostar em outra área.
Como se vê, o potencial de crescimento no turismo brasileiro é enorme. Mas ainda se falha no básico.
Por Juliana Tavares – jornalista, fundadora da J2 Comunicação, empreendedora e adora novidades que possam tornar o mundo um lugar melhor pra viver.