Fazendo uma limpeza na minha humilde coleção de CD`s, eis que reencontro um dos discos que mais gosto e que, só nele, existem dois clássicos da música brasileira que, desde que o LP foi lançado, em 1978, continuam tocando, uma espécie de marca registrada da MPB: “Avohai” e “Chão de Giz”.
No final dos anos 70, o excelente violeiro, que fazia parte da banda que acompanhou Alceu Valença no show “Vou Danado Pra Catende”, lançou o seu primeiro trabalho solo intitulado: “Zé Ramalho”. O LP do paraibano da cidade de Brejo do Cruz vem carregado de palavras e frases enigmáticas, unidas a uma sonoridade talvez ainda não definida, apresentando uma fusão entre rock, repente e música psicodélica que, simplesmente, se fixa em nossa memória ao lado de sua voz marcante.
“Avohai”, música de abertura, que já havia sido gravada por Vanusa, agora é interpretada pelo seu criador. “Vila do Sossego”, com a frase “meus gametas se agrupam no meu som”, nos mostra quão profundo e audacioso é Zé Ramalho que também cita abertamente um tema tão cercado por tabus, o sexo, na canção “Chão de Giz” – “isso explica porque o sexo é assunto popular” e chega ao seu ponto alto quando cita Freud: “Freud explica”. Até hoje, “Chão de Giz”, é uma das canções mais tocadas em todas as casas noturnas que têm alguma relação com a música popular brasileira de qualidade.
Não podemos esquecer as parcerias que o disco traz, começando com Alceu Valença em “A Dança das Borboletas”, esta gravada também por Alceu no seu LP “Espelho Cristalino”, de 1977; “Bicho de Sete Cabeças”, versão instrumental, com Geraldo Azevedo; “A Noite Preta”, novamente com Alceu Valença e também com Lula Côrtes, outra figura importantíssima, não só para a música pernambucana, como também em vários outros campos artísticos.
A produção foi de Carlos Alberto Sion. E por falar nisso… ouvirei mais uma vez, agora!!!