Na cidade que não para encontramos comidas de todos sabores, movimentos culturais para todos contrastes e roteiros turísticos surpreendentes.
O passeio ao cemitério é uma atração diferente, comum em muitos países, mas que, no Brasil, desperta certa estranheza, logo dissipada quando a visita monitorada do roteiro Arte Tumular no Cemitério da Consolação começa e conhecemos as mais variadas e belas esculturas, trabalhos em baixo e alto relevos em mármore, ferro e bronze dignas de estarem em museus como Louvre, em Paris, ou o Metropolitan, em Nova York.
Fundado em 1858, o Cemitério da Consolação foi à primeira necrópole construída na cidade de São Paulo. Um ambiente arborizado e tranquilo, que reúne cerca de 300 esculturas e trabalhos de artistas renomados, como Victor Brecheret, e o arquiteto Ramos de Azevedo, e abriga sepulturas de dezenas de personagens da história paulistana, como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral e Mario de Andrade, além de centenas de ilustres brasileiros, como a Marquesa de Santos. Esse roteiro convida a conhecer a história da cidade de São Paulo sob vários ângulos distintos: econômico, artístico, cultural, urbanista e religioso. É um registro da ascensão econômica de famílias, como a Matarazzo, por exemplo, que traduziram seu poder econômico e às vezes político, por meio de grandes mausoléus, detalhadamente, projetados por artistas e arquitetos. (as pirâmides do Cairo, no Egito, estão aí para reafirmar isso).
É uma aula de arte construída entre os séculos XIX e XX. Um dos destaques é a obra O Sepultamento, de Victor Brecheret, premiada no Salão de Outono de Paris, em 1923. O tema morte é tabu na sociedade contemporânea ocidental. Não a entendemos como parte do ciclo da vida, mas, sim, com temor de perder o que temos, o medo do desconhecido ou da perda de controle. É a grande ameaça que temos certeza que ocorrerá conosco, base da angustia vital. Vale lembrar o icônico Maiakóvski: “Não é difícil morrer nesta vida: viver é muito mais difícil”. Também, na tentativa de não ser esquecido, o humano realiza verdadeiras obras de arte para sua “ultima morada”.
A visitação monitorada ao cemitério não pode ficar fora de seu roteiro de viagem. Surpreenda-se com o outro lado de São Paulo.
Arte Tumular – Visita Guiada ao Cemitério da Consolação
Rua da Consolação, 1660 – SP
Visitas monitoradas: terças e sextas, das 9 às 14 horas, com duração de 1h30
Informações: (11) 3256-5919
(Texto originalmente publicado na revista Psique Ciência & Vida)
Cemitério da Consolação. Túmulo da família Constantino de Matheus
Sobre o autor:
Anderson Zenidarci é psicólogo, supervisor, palestrante, pesquisador, professor universitário de graduação e pós graduação.
Um viajante incontrolável e amante de arte, esculpe criativas peças em madeira nas horas de lazer. Dedica-se em disseminar história e cultura em sua coluna Panorama Cultural publicada mensalmente na revista Psique Ciência & Vida.
