Explore a Rota Quilombola da Praia Rasa, em Búzios, e conheça a rica história de resistência e tradição da comunidade quilombola em meio à especulação imobiliária e ao turismo de luxo. Descubra como o turismo consciente fortalece a preservação cultural e o desenvolvimento sustentável na região
No badalado cenário turístico de Búzios, a Praia Rasa guarda um tesouro de valor histórico e cultural: o Quilombo da Rasa, uma comunidade que luta para preservar suas tradições e seu território em meio ao crescente turismo e especulação imobiliária. A história dos quilombolas da região remonta aos tempos de escravidão, e sua resistência, que persiste até os dias atuais, é um testemunho vivo das batalhas enfrentadas por esses descendentes de escravizados. Em um local onde o luxo e os resorts ditam o ritmo do turismo, o Quilombo da Praia Rasa apresenta uma rota que vai além das belezas naturais e revela o patrimônio cultural afro-brasileiro, conectando os visitantes à rica história de resistência e superação dessa comunidade.
A Rota Cultural Afro Buziana, inaugurada em 2017, oferece um mergulho nas tradições e histórias locais através de um passeio guiado pela Griô Vanderléia e guias de turismo quilombolas. O roteiro explora cinco pontos de grande valor histórico e cultural: a Praça do Cruzeiro, a Praia da Gorda, o Mangue de Pedras, a Ponta do Pai Vitório e a Pousada Katsurf. Ao longo de três a quatro horas, os visitantes têm a oportunidade de vivenciar o cotidiano quilombola, aprender sobre técnicas tradicionais de pesca e ouvir histórias fascinantes, e muitas vezes dolorosas, que remetem ao passado da comunidade, como a chegada de navios negreiros – que traziam as pessoas sequestradas em diversos países da África, à Ponta do Pai Vitório.
Esse passeio, além de uma oportunidade única de conexão com as raízes afro-brasileiras, é uma forma de fortalecer o turismo sustentável e inclusivo em Búzios. O Quilombo da Praia Rasa, muitas vezes marginalizado pela expansão imobiliária, encontra na Rota Quilombola uma alternativa de desenvolvimento, que gera renda e visibilidade para os moradores, ao mesmo tempo que valoriza a preservação do patrimônio cultural. No Mangue de Pedras, por exemplo, um dos três únicos no mundo, os visitantes têm a chance de conhecer as técnicas de pesca de moriongos, preservadas por gerações, enquanto aprendem sobre a importância da conservação desse ecossistema único.
A resistência dessa comunidade também se manifesta através de projetos de empreendedorismo, como o Ateliê Bonecas Negras, criado em 2015. A iniciativa, que começou com a produção artesanal de bonecas negras, é mais do que um negócio: é uma forma de reafirmar a presença afro-brasileira na história local e valorizar o artesanato quilombola. O projeto cresceu, passou a contar com o apoio de instituições e expandiu sua produção, incluindo confecções de roupas, cangas e outros produtos. Além de contribuir para a autonomia econômica das mulheres envolvidas, o Ateliê Bonecas Negras também se entrelaça com o turismo ao oferecer aos visitantes da Rota Quilombola a chance de adquirir produtos autênticos e feitos à mão, diretamente no Quilombo da Rasa.
Mangue de Pedra, um ecossistema curioso
O Mangue de Pedra, que fica na região da Rasa, é um ecossistema único no planeta, reconhecido por sua formação peculiar onde a água doce de um aquífero subterrâneo se mistura com a água salgada do mar, criando um ambiente propício para a vegetação do mangue brotar entre as pedras, em vez do solo lamoso típico de outros manguezais. Esse fenômeno raro faz do Mangue de Pedra um berçário de inúmeras espécies de crustáceos, moluscos e peixes, muitos dos quais são coletados pelas marisqueiras quilombolas da região.
Essas mulheres seguem a tradição ancestral de mariscar no mangue, transmitida por gerações. A prática é muito mais do que subsistência — é um elo profundo entre a comunidade quilombola e seu território, preservando histórias e tradições que remontam ao período de escravidão. No entanto, esse ecossistema frágil está sob constante ameaça, seja pelo lixo trazido pela maré, pelo crescimento urbano descontrolado na região, ou pelo despejo de esgoto, que afeta diretamente a saúde do mangue e das espécies que dependem dele.
Nos últimos anos, a comunidade quilombola uniu forças com a população local e cientistas para resistir à transposição do rio Una, um projeto que colocaria em risco todo o ecossistema do Mangue de Pedra. Após intensos debates públicos, a proposta foi considerada inviável, graças à mobilização da comunidade e à sua defesa incansável do território. Para as quilombolas da Rasa, proteger o mangue é garantir a continuidade de sua cultura e o sustento das próximas gerações.
Durante nossas conversas com representantes do projeto, fomos profundamente impactados por suas histórias de luta, resiliência e revelações. Essas vivências nos fazem refletir sobre a necessidade urgente de uma sociedade mais consciente da importância de iniciativas como essa, que trazem benefícios não só para a comunidade envolvida, mas para toda a sociedade.
Ouça o Podcast “Quilombo da Praia Rasa” na Rádio JBFM
Em uma dessas conversas, descobrimos que Búzios, até bem pouco tempo atrás, era dividida entre os negros da Rasa, de um lado, e os brancos da Bardot, do outro. Essa realidade, desconhecida pela maioria dos visitantes que vêm à cidade apenas para o turismo, especialmente na parte mais famosa e luxuosa, raramente chega ao conhecimento de quem é “de fora”.
Sabemos que comunidades remanescentes de quilombos enfrentam enormes desafios há muito tempo, e essa segregação vai além do espaço físico, afetando também aspectos sociais e econômicos. O crescimento acelerado do turismo de luxo em Búzios exerce uma pressão constante sobre os quilombolas da Praia Rasa, que precisam lutar diariamente por reconhecimento e pela posse de suas terras. A especulação imobiliária ameaça diretamente esse território, colocando em risco tanto a preservação cultural quanto o modo de vida tradicional dos moradores.
Enquanto os turistas aproveitam as praias paradisíacas e as acomodações luxuosas, os quilombolas batalham para garantir que sua história e cultura não sejam apagadas. Portanto, cabe a nós destacar e valorizar a importância da preservação cultural, que está profundamente conectada às questões sociais que essas comunidades enfrentam.
A parceria entre os quilombolas e o turismo se fortaleceu ainda mais com o apoio do Edital TAC Frade em 2024, que garantiu a ampliação das atividades turísticas e artesanais na região. Esse suporte permitiu não apenas a continuidade dos projetos de artesanato e confecção, mas também o fortalecimento da Rota Cultural Afro Buziana, que agora se consolida como um dos principais atrativos culturais de Búzios. Com a crescente demanda por turismo de experiência e consciência social, a Rota Quilombola da Praia Rasa oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer uma Búzios além das praias, resorts e restaurantes: uma cidade rica em história, lutas e resiliência.
A história do Quilombo da Praia Rasa é, ao mesmo tempo, uma história de luta por direitos e preservação cultural, e uma narrativa de segregação imposta pelo desenvolvimento desigual. Mas é também uma história de esperança, que encontra no turismo consciente uma chance de valorização e empoderamento. Ao optar por conhecer a Rota Quilombola, os visitantes não estão apenas explorando um novo destino turístico, mas participando de uma iniciativa que busca garantir que as futuras gerações de quilombolas continuem a contar suas histórias e a viver em paz em suas terras ancestrais.
A convite da PRIO, o Portal Embarque na Viagem, teve a oportunidade de explorar a região de Búzios, Arraial do Cabo e Cabo Frio, onde a empresa realiza importantes projetos sociais que visam o desenvolvimento local e a preservação cultural. Uma das iniciativas de destaque é o Edital TAC Frade, que tem contribuído significativamente para o fortalecimento da Rota Cultural Afro Buziana, uma experiência turística e cultural única no Quilombo da Praia Rasa.
A PRIO, além de seu trabalho no setor de energia, tem demonstrado um compromisso genuíno com o desenvolvimento social e cultural dessas regiões, investindo em projetos que não apenas fomentam o turismo sustentável, mas que também garantem a preservação de histórias e modos de vida que, de outra forma, poderiam se perder.
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