Por: Rodrigo Champoudry
Quando se fala de gastronomia, nos vem à cabeça as escolas francesas e italianas. Mas precisamos falar da gastronomia espanhola. O país ibérico é famoso pelas tapas, mas a gastronomia espanhola vai muito além dos clássicos petiscos.
Aliás, peço desculpas aos espanhois por chamar tapas de petiscos. Não é tão simples! Tapas é sinônimo de reunião, amizade, família, é um ato de devoção ao próximo diante de uma mesa repleta de comidinhas para compartilhar e se comer com a mão. São presuntos crus, queijos variados, carnes defumadas, azeitonas temperadas, pães, frutos do mar, embutidos, bolinhos fritos, entre outras iguarias. Se harmonizado com vinhos espanhois, claro, e sangrias – típica bebida espanhola à base de vinho, água tônica e frutas variadas, vira quase uma religião.
Nossa primeira experiência foi na Taberna Acuerdo II, pedimos croquetas de jamón, patatas bravas, chorizo, polvo à galega. O local era simples e a comida deliciosa. O balcão estava cheio de trabalhadores que saíram de suas empresas para um happy hour. Gostamos tanto que voltamos outro dia, experimentamos algumas coisas novas, como o camarão ao alho e lulas fritas, mas repetimos as croquetas. Eram absolutamente deliciosas!
Falar de gastronomia espanhola, em Madrid, para ser mais exato, sem falar do Mercado San Miguel é quase ultrajante. Pois bem, fomos lá e estava absolutamente lotado. Tivemos que voltar em horário mais tranquilo, onde era possível transitar pelos corredores de maneira humanamente possível, sempre na companhia do pequeno Arthur. Nosso filho se divertiu muito, ou até mais que os pais. Estando em Madrid, logicamente que nos esbaldamos nas tapas e pintxos. Aliás, pintxos são petiscos tipicamente bascos, similar às tapas, e virou moda na península ibérica, isso incluí Portugal também.
É em Madrid que está localizado o restaurante mais antigo do mundo: o Sobrino de Botín, inaugurado em 1725. Para mim, que trabalhei tantos anos com gastronomia, seria um pecado não conhecer o restaurante. O carro-chefe está no cardápio desde a inauguração, há quase três séculos: leitão assado com batatas. A pele do porco estala de tão crocante enquanto a carne é macia e suculenta. A adega é uma atração à parte, uma caverna que manteve a arquitetura intocada com seus arcos em pedra, localizada no subsolo do restaurante. O local com temperatura controlada abriga garrafas de vinho que nunca foram tocadas e estão por lá desde que as portas abriram. Imagina o valor de um vinho safra 1720? Não é para o meu bico. Aconselho fazer reserva antecipada, pois a casa vive lotada.
Por falar em clássicos, outra receita que fez a fama da Espanha foi a paella, um prato único cheio de segredos e sabores. É possível conhecer este prato em muitos locais, no nosso caso foi no C&Tapas. Degustamos paella al nero di sepia e paella de frutos do mar. Aliás, se a paella não tiver o “socarrat” uma casquinha torrada no fundo da panela – sim, este prato é servido na panela –, vá para outro lugar, pois essa paella não é legítima. Tudo acompanhado de sangria, claro!
Nas andanças sem rumo, nos deparamos com algumas gratas surpresas, como um restaurante hispano-asiático chamado Sushita, que mesclava sabores asiáticos e latinos. Os pratos eram caros e ele estava sempre cheio. Era sinal de que a comida era boa. Na verdade, era deliciosa! Pedimos um dumpling de lagostim e frango; depois seguimos para um sushi de vieira com ajillo e pesto de rúcula. Gostamos tanto que voltamos. Na segunda visita pedimos makimono de camarão, abacate e crispy; empanado de camarão; tempura de enguia com molho de queijo de cabra e um arroz frito de pato. Bom pra caralh*!
Enquanto vagávamos pela cidade, comemos um hambúrguer dry aged no Steak Burger Bar, jantamos no MásQMenos, devoramos massas, pizzas, etc. Vagamos pelas ruas madrilenhas e paramos em um restaurante frequentado por uma galera jovem e alternativa chamado Patio. Ali experimentamos um arroz de cogumelos e especiarias com frango laqueado no mel e shoyu e um burrito à moda espanhola.
Cadê as sobremesas? Vou começar com a Halva, um doce esquisito e gostoso do Oriente Médio, preparado com gergelim, mel, açúcar derretido, pistache e noz pecan. Chegamos ao rei de todos os doces espanhois. Sim, estou falando do crocante, do açucarado, do afamado… churros. Ele mesmo! E para deixar você ainda mais aguado, em Madrid, ele é servido com calda de chocolate quente. Pqp… só falando um palavrão de tão gostoso que é!
Falando de doces, por um mero acaso nos deparamos com uma cafeteria centenária, aberta em 1873, chamada Viena Capellanes e nos esbaldamos com Perlla Negra um doce brilhoso, macio, gelado e o mais importante… de chocolate.
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E para eu não sofrer sozinho, gostaria de falar um pouco sobre os mercados e feiras madrilenhas, o que me deixa com vontade de ficar em airbnb ou um apart-hotel com cozinha, pois a oferta de frutos do mar, embutidos, temperos, especiarias incomuns no Brasil é imensa, quase mágico. Para quem gosta de gastronomia, é um verdadeiro parque de diversão. Pena que não podemos trazer essas coisas na mala.
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