A partir de uma brincadeira simples, a festa foi ganhando popularidade e se transformou no grandioso espetáculo que conhecemos hoje
O Festival de Parintins, maior espetáculo folclórico do país, vem ganhando mais visibilidade nacional por conta da participação de Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do Boi Garantido, nesta edição do Big Brother Brasil, o “BBB 24”.
Tanta visibilidade sobre a cultura amazonense vem despertando cada vez mais a curiosidade das pessoas sobre o que é o Festival de Parintins. Então, fique sabendo que esta não é uma “festa” recente e acontece há mais de sessenta anos, de forma oficial. No último fim de semana de junho, a pequena cidade de Parintins, no Amazonas, se transforma em um palco de cores, cultura e rivalidade. É o tempo do Festival de Parintins, um evento folclórico que reúne duas agremiações, o Boi Garantido e o Boi Caprichoso, em uma disputa que mobiliza toda a região.
Para você ter ideia da grandiosidade do evento, até a sede do governo do Amazonas é transferida para Parintins durante a festa. A cidade ganha uma atmosfera de celebração com ruas enfeitadas, eventos alternativos e atividades culturais.
A cidade aguarda o festival o ano inteiro. Moradores reformam casas e quitinetes para alugar, já que a rede hoteleira e de pousadas não atende nem a metade das pessoas que vão ao festival.
A ilha fica cercada de embarcações de muitas comunidades e cidades do Amazonas e do Pará, principalmente. Muitos brincantes —como o público é chamado— e turistas dormem nas embarcações, em redes.
Origens
As origens do festival remontam ao início do século 20, quando já existiam grupos menores e menos estruturados dos bois Garantido e Caprichoso. Antes do festival oficial, também existiam outros bois, como Diamantino, Ramalhete e Mina de Ouro.
O festival foi oficializado em 1965 por um grupo de amigos ligados à Juventude Alegre Católica (JAC) com o objetivo de arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins. No primeiro ano, vinte e duas quadrilhas se apresentaram, mas os bois Caprichoso e Garantido ainda não participavam do evento. Em 1966, os dois Boi Bumbá foram convidados a participar do festival, e ambos participaram juntos pela primeira vez. A partir desse momento, a rivalidade entre Garantido e Caprichoso se intensificou.
O festival é baseado na tradição do boi-bumbá, uma manifestação cultural que surgiu no interior do Brasil no século XIX. O boi-bumbá é uma lenda que conta a história de um boi que é morto e ressuscitado, e que é representada por meio de danças, músicas e encenações.
A história do Boi
A história do boi-bumbá remonta ao século XIX, quando a lenda do boi morto e ressuscitado começou a ser representada em festas populares no interior do Brasil. A lenda tem origens diversas, e pode ser encontrada em diferentes culturas ao redor do mundo. No Brasil, a lenda foi influenciada por elementos da cultura indígena, africana e europeia.
A versão mais comum da lenda conta a história de Pai Francisco, um escravo que mata um boi para satisfazer o desejo de sua esposa, Mãe Catirina, que está grávida. O fazendeiro descobre o crime e ordena que Pai Francisco seja castigado. Pai Francisco é preso e condenado à morte, mas é salvo por um pajé, que ressuscita o boi.
A lenda do boi-bumbá é uma história de amor, fé e esperança. Ela representa a luta do homem contra as adversidades, e a vitória do bem sobre o mal.
O boi-bumbá é uma manifestação cultural viva, que continua a ser representada em diferentes partes do Brasil. Sendo o Festival de Parintins o maior evento de boi-bumbá do mundo.
As apresentações do Festival de Parintins são divididas em três dias, e cada agremiação tem duas horas para mostrar seu talento. As apresentações são avaliadas por um júri, que considera critérios como música, dança, figurino, alegorias e enredo.
O festival é marcado por uma intensa rivalidade entre as duas agremiações. Os torcedores do Boi Garantido, conhecidos como “vermelhos”, e os torcedores do Boi Caprichoso, conhecidos como “azulados”, são apaixonados por seus times e não medem esforços para demonstrar seu apoio.
A rivalidade vai além do festival, permeando a vida cotidiana das comunidades locais, onde as cores dos bois são usadas com orgulho e fervor. As diferenças entre os bois, tanto em termos de estilos de apresentação quanto de suas histórias, contribuem para a intensidade dessa rivalidade.
Além da rivalidade, o Festival de Parintins é também uma festa de cultura e tradição. O evento reúne elementos de diferentes culturas, como a indígena, a africana e a europeia, dando um colorido único à festa.
O festival é um dos maiores representantes da cultura popular brasileira, e atrai visitantes de todo o país e do exterior. O evento é um importante símbolo da cultura amazônica, e contribui para a preservação das tradições locais.
Estrutura e componentes do Festival de Parintins
Música
A música é um dos elementos mais importantes do Festival de Parintins. As toadas, como são chamadas as músicas do boi-bumbá, são tocadas durante toda a apresentação dos dois bois. Todos os anos, são apresentadas cerca de 30 toadas diferentes, e metade delas costuma ser inédita.
A importância das toadas é tão grande que os bois produzem um álbum com as toadas que foram tocadas em um ano específico, lançando-o em serviços de streaming.
Ritual indígena
A parte do ritual indígena é um dos principais momentos da apresentação dos bois Garantido e Caprichoso. Normalmente, o ritual é realizado nos momentos finais das apresentações dos dois bois e traz uma série de elementos da cultura indígena.
O ritual indígena é apresentado pelo pajé e é considerado o momento mais importante da apresentação.
Auto do boi
O auto do boi é uma apresentação que retrata a origem do boi-bumbá. Nesse momento, conta-se a história em que Mãe Catirina, uma mulher negra e grávida, estava com desejo de comer língua de boi. Entretanto, ela não queria a língua de qualquer boi, mas, sim, do boi mais bonito da fazenda do patrão de seu marido.
O marido, chamado Pai Francisco, mata o boi, o que enfurece o dono da fazenda. Este decide chamar um pajé indígena para realizar um ritual de ressuscitação do animal. O pajé faz uma série de danças e orações e consegue ressuscitar o animal.
Personagens
Além da música e do ritual indígena, o Festival de Parintins também conta com uma série de personagens que representam a cultura e as tradições do Amazonas.
Apresentador: é aquele que conduz a apresentação do boi, sendo muito importante que ele tenha boa dicção e canto para conseguir conduzir toda a apresentação. A atuação do apresentador é, inclusive, um dos critérios da avaliação.
Cunhã-poranga: é uma dançarina indígena que participa da apresentação dos bois. O termo é do idioma tupi, sendo traduzido como “moça bonita”. A cunhã-poranga é uma mulher indígena guerreira e de grande beleza. Entende-se que a beleza é uma das maneiras de demonstração de força de uma mulher.
Sinhazinha da fazenda: personagem da apresentação que representa o dono da fazenda do boi e, em geral, é entendida como uma representação da cultura europeia.
Porta-estandarte: uma dançarina que carrega o símbolo do boi que representa. Entende-se que a porta-estandarte deve manter a sua desenvoltura na dança e garantir que o estandarte se mova de maneira adequada.
Levantador de toadas: é o cantor que interpreta todas as canções dos bois durante as apresentações. Deve ser um cantor técnico e afinado, pois sua interpretação é avaliada pelos jurados.
Amo do boi: é o cantor que faz e interpreta os versos que se entendem como um desafio ao boi contrário. No festival é representado como o dono da fazenda e pai da sinhazinha.
Os componentes do Festival de Parintins são diversos e representam a cultura e as tradições do Amazonas. A música, o ritual indígena, os personagens e as toadas são elementos essenciais do festival, que é um dos maiores eventos folclóricos do Brasil.
Curiosidades sobre o Festival de Parintins:
- As marcas de refrigerantes Coca-Cola e Pepsi modificam as cores de seus rótulos para se alinharem com as cores dos bois Garantido e Caprichoso. A Coca-Cola adota o vermelho, característico do Boi Garantido, enquanto a Pepsi assume o azul, emblemático do Boi Caprichoso.
- Celebridades brasileiras, muitas vezes, participam das festividades como convidados especiais. A presença delas contribui para aumentar a visibilidade do evento e destacar sua importância cultural.
- O festival incorporou inovações tecnológicas em suas apresentações, utilizando efeitos especiais, iluminação avançada e projeções para criar espetáculos ainda mais impactantes.
- Algumas edições do festival incluíram homenagens e abordagens de temas sociais relevantes, buscando conscientizar o público.
Como chegar e onde ficar durante o Festival de Parintins
Para quem quer visitar Parintins, é importante se planejar com antecedência. A cidade fica lotada durante o festival e as passagens aéreas e de barco costumam ficar mais caras.
O voo entre Manaus e Parintins dura cerca de uma hora. A viagem de barco pelo rio Amazonas pode levar de 14 a 18 horas, dependendo da embarcação.
A cidade conta com 20 pousadas e 10 hotéis cadastrados no Cadastur. Mas para além destas opções, várias residências são oferecidas para locação neste período. E se você estiver pensando em chegar de barco, tem também a opção de ficar “pousando” por ali mesmo, nas várias redes espalhadas pela embarcação.
Mas atenção, é extremamente importante estar com a vacinação em dia, especialmente contra a febre amarela, que é uma doença endêmica na região.
O Festival de Parintins é uma festa única, que combina cultura, tradição e rivalidade. O evento é um importante símbolo da cultura amazônica, e contribui para a preservação das tradições locais.