Ossadas fornecem novas pistas sobre as imensas e misteriosas forças vikings que invadiram a Inglaterra.
Por anos, os arqueólogos ficaram perplexos. O que aconteceu com o Grande Exército Viking, uma força imensa que tomou grandes partes da Inglaterra no século 9, mas que quase não deixou vestígios?
Pesquisadores reportam agora que uma vala comum na Inglaterra talvez possa conter aproximadamente 300 guerreiros vikings, os únicos restos dos guerreiros do Grande Exército Viking já encontrados.
Arqueólogos descobriram o cemitério nos anos 1980, em Derbyshire, Inglaterra, e pensaram que ele poderia conter os restos do Grande Exército Viking, também conhecido como Grande Exército Pagão. Mas tinha um problema: a datação por carbono do lugar revelou que os restos eram muito velhos para serem de invasores vikings.
Supunha-se que o exército passou os invernos em Derbyshire de cerca de 873 d.C. até 874 d.C., mas análises iniciais dos esqueletos resultaram em datas dos séculos 7 e 8.
Agora, um novo estudo publicado no periódico Antiquity sugere que essas datas estão incorretas e que a datação que favorece a teoria dos restos pertencerem ao Grande Exército está correta.
É claro que os vikings tiveram um impacto na Inglaterra. Um sinal da influência escandinava dos vikings é a presença de cidades inglesas terminadas em “-by”, derivadas da palavra escandinava que quer dizer cidade. A presença do exército também é documentada na Crônica Anglo-Saxônica, disse a autora do estudo principal Catrine Jarman, da Universidade de Bristol.
De acordo com essa crônica, centenas de navios vikings levaram o Grande Exército para a costa leste da Inglaterra em 865. Os vikings se apropriaram dos reinos Anglo-Saxões e tomaram grandes pedaços de terra.
Até hoje, o cemitério em Derbyshire é o único encontrado que tem uma ligação com o exército.
“Esse é um dos grandes mistérios,” disse Jarman. “Temos milhares e milhares de pessoas registradas, mas há pouca evidência física.”
Ossos de peixes
O novo estudo esclarece a discrepância da data ao levar em conta um detalhe crucial: os vikings, famosos pela navegação, tinham uma dieta baseada em frutos do mar. Jarman observa que isso distorce os testes com carbono.
“É um fenômeno que começamos a perceber,” ela disse.
Quando os cientistas datam ossos humanos, eles olham para a quantidade de carbono-14 radioativo presente. Essa forma de carbono se deteriora com o tempo, então a quantidade de carbono-14 nos ossos pode dizer aos cientistas quanto tempo faz desde que os ossos foram formados. No entanto, pessoas que comem muitos frutos do mar estão sujeitas ao que a Jarman chama de “efeito reservatório marinho.”
“Se você come peixe, então alguma parte do carbono vem do oceano. Alguns desses vikings comiam muito peixe e é por isso que a datação por carbono é afetada,” ela disse.
Para efeitos comparativos, Jarman observou que, se um viking tivesse matado um peixe e uma ovelha no mesmo dia, a datação por carbono mostraria que o peixe morreu 400 anos antes do que a ovelha.
Para determinar o quanto a dieta dos vikings pode ter influenciado na datação inicial por carbono, os pesquisadores fizeram uma análise química inicial em 17 indivíduos de vários lugares do grande cemitério, assim como em uma mandíbula de uma ovelha achada no local.
Jarman agora se sente segura para dizer que quase todos os ossos datam do final de século 9, fazendo com que a possibilidade de que os ossos sejam do Grande Exército Viking seja alta.
Os restos dos guerreiros
“Foi o que a arqueologia pareceu sugerir esse tempo todo,” disse Jarman.
Entre 1980 e 1986, uma série de escavações descobriu um túmulo chamado de casa mortuária que continha os restos de 264 pessoas. Desses, mais de 80% dos ossos eram de homens e muitos mostravam sinais de ferimentos violentos.
Entre os restos, os arqueólogos também encontraram evidência de guerra, como machados e facas. (Nem todos os guerreiros vikings eram homens. O DNA recentemente confirmou que uma mulher foi uma famosa guerreira.)
Em um túmulo duplo separado ali por perto também foi encontrado os restos de dois homens que foram enterrados com um pingente do martelo de Thor e com uma espada viking.
Juntamente com os cemitérios, os arqueólogos também encontraram evidências do que pode ter sido uma grande trincheira defensiva.
Com as novas datações por carbono, Jarman diz que os arqueólogos não podem dizer com 100 por cento de certeza que o cemitério tenha pertencido ao Grande Exército Viking, mas as evidências sugerem isso firmemente.
Ela planeja conduzir uma análise de DNA nos ossos para determinar melhor a origem étnica.
Fonte: National Geographic Brasil