A indústria brasileira tem pior desempenho dos últimos 20 anos
A COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, já deixou de ser uma novidade há algum tempo. Especialmente, no Brasil, potencial novo epicentro de transmissão da doença, é difícil fugir dos assuntos relacionados à atual crise pandêmica que, na verdade, acontece em escala mundial.
Mesmo assim, ainda não se sabe, com precisão, os reais impactos da doença. De qualquer modo, uma certeza é que a crise vai afetar, e já está afetando, não só os setores da saúde, mas, também, a produção e distribuição de bens e produtos. Alguns dados prévios já são preocupantes.
Vez que uma das principais e mais efetivas medidas preventivas é o isolamento social, tudo que precisa da força de trabalho humano está sendo afetado. Ou seja, mesmo os setores mais automatizados com tecnologia de ponta, que ainda precisam de uma gerência humana, sofrerão os impactos.
Outro fator que influencia esse desaceleramento é o que pode ser chamado de demanda sazonal. Isto é, enquanto a procura por certos produtos é maior, nesse período, tais como os de higiene pessoal, outras caíram drasticamente, a exemplo do setor automobilístico.
Utilização da capacidade industrial
Existe um índice que mede o quanto da capacidade industrial instalada está sendo utilizada, o chamado Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI). Basicamente, por meio do cruzamento de dados, consegue-se compreender a fração de produção efetivamente sendo realizada em comparação com aquela em potencial.
Uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que, no mês de abril de 2020, o NUCI chegou a 57,5%. Ou seja, produziu-se quase metade do que teríamos capacidade. Esse percentual é o menor registrado da história desde que o NUCI foi criado, em 2001. Assim, pode-se afirmar esse é o período menos produtivo para indústria brasileira, em comparação com, pelo menos, últimos 20 anos.
Demanda compensatória
Se por um lado, setores como o de vestuário, o de calçados e o de automotores são superimpactados, demandando demissões e fechamentos, por outro, as áreas com maior demanda, mesmo afetadas, compensam as quedas causadas por essa procura maior em resposta à crise.
Em outras palavras, a indústria de higiene, a farmacêutica e a alimentar também são afetadas pelas recomendações de segurança. Porém, em números, esse impacto aparece menos. Mesmo que algumas empresas desses segmentos tenham reestruturado suas dinâmicas internas, a demanda delas ainda manteve o mesmo nível de produção.
Esse dado, porém, está longe de ser animador. Isso porque, apesar de manterem os lucros, as empresas acabam demandando mais dos profissionais contratados. Praticamente todos os estabelecimentos com aumento de demanda mantêm o mesmo números de funcionários. Alguns, contudo, operam com redução desse quadro.
Perspectivas
Ainda é difícil prever o que acontecerá nos próximos meses, mas já é certo que a crise não é mais só da saúde. Isso porque, com índices tão baixos, a recuperação da atividade industrial não dependerá mais somente do achatamento da curta de infectados.
É preciso, também, entender de que forma a própria indústria responderá a essa redução tão drástica e histórica. Antes disso, porém, seria necessário compreender o quão mais as atividades vão continuar reduzindo. As perspectivas não são das melhores. O relatório da mesma pesquisa da FGV que divulgou a baixa do NUCI prevê uma nova queda histórica, menor que a atual observada.
Da mesma forma, é necessário lembrar que o montante de dinheiro existente no país é suficiente para que os setores não entrem em colapso. O desafio da indústria e do governo é propor medidas que visem a circulação desse capital independente da crise em maior escala. Dessa forma, empregos serão mantidos, os profissionais estarão em segurança e os produtos poderão ser comercializados a quem precisa.
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