Sufocada por turistas, Veneza parece mais um grande museu do que uma cidade moderna, e está viciada no dinheiro que os visitantes levam para cidade que é conhecida como Serenissima. Com poucas opções de desenvolvimento além do turismo, a escolha para reduzir o número de visitantes que não pernoitam na cidade — e não perder arrecadação — foi criar uma taxa de desembarque que será cobrada para esses turistas passantes. Uma alternativa para a sobrevivência da cidade.
Com o objetivo de reduzir o número de turistas de um dia, que em um ano podem chegar a 24 milhões de pessoas, que não dormem na cidade e não incentivam o mercado hoteleiro — mas contribuem com aglomerações, caos urbano e acúmulo de sujeira –, as empresas de transporte deverão cobrar uma sobretaxa em seus bilhetes com destino à cidade. O pagamento do ingresso será obrigatório para todos que ficarem menos de 24 horas na cidade, como é o caso de cruzeiristas e passageiros de ônibus de excursão.
A cobrança dessa taxa de turismo entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2020 e deve começar com preço único de três euros, em caráter experimental, e subirá gradualmente até oito euros em dias úteis e dez euros em fins de semana e feriados.
Os turistas que dormem no centro histórico de Veneza serão isentos, uma vez que já pagam a “tassa di soggiorno”, que varia de um a cinco euros por diária. Ao todo, 22 categorias serão isentas, como moradores da região do Vêneto, pessoas em busca de tratamento médico, deficientes físicos, trabalhadores pendulares e estudantes.
Através de sua conta no Twitter, o prefeito Luigi Brugnaro afirmou que a arrecadação – que poderá chegar a € 50 milhões anuais – será revertida para a cidade e seus moradores. O tributo para o controle de multidões deverá ser revertido em limpeza urbana e otimização de infraestrutura.
Cerca de cinco milhões de turistas visitaram Veneza em 2017 em comparação com 2,7 milhões em 2002, segundo dados da rede hoteleira local, que não levam em conta as reservas feitas pelo Airbnb e serviços semelhantes. Enquanto isso, a população residente encolheu para menos de 60 mil habitantes.
Claro que o turista não pode deixar de admirar a pura originalidade e beleza de Veneza, uma cidade secular construída inteiramente sobre a água. No entanto, até mesmo a visita mais rápida revela que a cidade das gôndolas e canais dá sinais de insatisfação com os visitantes e não é mais uma cidade viva, com dezenas de “intrusos” superando o número de moradores e lotando sua lagoa, pontes e passarelas.
Estava claro que algo precisava ser feito para manter os números sob controle. No centro histórico, livre de carros, a espera por um lugar em um “vaporetto” – a versão local de um ônibus do canal – pode ser de até 20 minutos, apesar da tarifa de 6 euros. Além da implementação da taxa, o governo proibiu a circulação de embarcações recreativas não-oficiais pela cidade e diminuiu o número de imóveis disponíveis para locação no Airbnb e serviços semelhantes.