Por Viviane Faver | De Nova York, EUA
A cidade de Nova York sediou na semana passada, na galeria One Art Space, em Tribeca, Manhattan, a exposição “Collect Brazilian Jewelry” que trouxe 20 mulheres joalheiras de diferentes partes do Brasil para mostrar seu trabalho e experimentar a arte de fazer negócios no setor de joalheria no mercado internacional.
Já não é de hoje que as joias brasileiras são muito bem reconhecidas em países estrangeiros. Esse fator juntando com a crise no Brasil favorece a ideia de investir em exposições nos grandes centros como Nova York. Com o custo inicial para participar do evento girando em torno de 5 mil dólares e o retorno girando em torno de 40%, os benefícios vão além do dinheiro. O expositor que faz esse tipo de negócio está em busca de reconhecimento da sua marca e, porque não, a chance de expandir permanentemente seu negócio em terras internacionais.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Gemas e Materiais (IBGM) com 261 indústrias ligadas ao mercado de joias, apurou que o país está no ranking dos 15 maiores produtores de peças em ouro, com um total de 22 toneladas de joias criadas e comercializadas.
A exposição teve como tema “Empoderamento da Mulher” e exibiu peças, criadas especialmente para o tópico compostas com o melhor do ouro, prata e pedras preciosas brasileiras.
Porém, montar uma exposição com objetivo de alavancar negócios e reconhecimento em Nova York não é tarefa fácil. Em entrevista especial para o jornal O Dia e a Coluna Conta-Gotas, a organizadora e três expositoras contaram como funciona.
A curadora e organizadora do evento, Dorine Botana, escolheu Nova York devido a divulgação que a cidade oferece. O designer Brasileiro é muito criativo e diversificado, por isso muito bem apreciado e aceito tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Dorine, que, em 19 anos, já produziu eventos na Suécia, França, Dinamarca, Hungria, República Checa, Itália, Espanha e Portugal. Criou o coletivo ‘Collect Brazilian Jewelry’ com intuito de juntar grupos de designers Brasileiros e mostrar uma joalheria autoral, fora do Brasil.
Ela conta que a seleção dos expositores é feita a partir de um estudo do trabalho do designer onde é imprescindível que as peças sejam únicas e feitas a mão.
Pelo setor de joias ser um mercado que requere um consumidor especifico de alto nível, quando perguntado sobre se a crise interfere nos negócios Dorine conta que surpreendente as vendas continuam boas, porém mais para o mercado internacional. “No Brasil existe uma classe média alta com dinheiro mas são poucos com cultura suficiente para que possam apreciar uma joia autoral pela sua arte e exclusividade a não ser que a mesma tenha grife, a grife ainda é muito importante para a Brasileira.”
Designers de joias
Entre as 20 designers participantes, três se destacam mais pela sua originalidade e o uso de diferentes técnicas usadas nas construções das jóias.
Maria Antonia Antonelle é gemologa de formação e apaixonada por preciosas, já expôs na França, Itália, Ioguslávia, Emirados Árabes. O processo de estudar pedras preciosas começou após se aposentar. Sua coleção foi desenvolvida com o tema “Desigual” todas as peças influenciado pela natureza.
Os custos de passagem, hotel, alimentação e valor da curadoria foi em torno de 5 mil dólares, a curadoria em torno de 1.850 dólares mais o valor das peças aproximadamente 15 mil dólares.
Segundo Maria o retorno esperado é de 50% em seis meses. “O preço de venda é o dobro do valor gasto e cada designer teve um investimento diferente”, conta.
O curador seleciona as peças a serem expostas. Só joalheria autoral com peças únicas, e cobra de cada um valor fixo, que pode variar de acordo com o local da exposição.
“A curadora pesquisa os países, faz contatos com curadores de galerias e com a mídia que faz a divulgação do evento tanto no Brasil como no país da exposição. Além, de providencias como vitrines, coquetel, catálogos. E antes disso faz a seleção dos designers e a assinatura do contrato.”
Maria Antonelle afirma que estar na mídia internacional é ter acesso ao mundo da joalheria. É também ser reconhecido no Brasil, pelo trabalho realizado fora.
É mais marketing do que a venda, e Nova York é um grande centro de negócio, onde tudo acontece. E como não poderia deixar de ser arte na joalheria. O país tem grande potencial para o cliente que deseja ter uma joia exclusiva com sua características pessoais.
Comparando o cliente brasileiro com o americanos, Maria conta que o cliente estrangeiro valoriza a exclusividade e consideram joalheria como arte. “No Brasil existem clientes com esse perfil, mas em número muito menor. O mercado joalheiro no Brasil, gira em torno do modismo”, afirma.
A designer de fortaleza, Telma Aguiar, concorda com Maria Antonia, e acrescenta que além dos clientes europeus e americanos apreciarem as peça atemporal e diferente, não pedem descontos e valorizam bastante o joalheiro.
“Já o cliente brasileiro quer o que está na moda, muitas vezes pede para fazer uma cópia, não valoriza muito o joalheiro, pedem muitos descontos e querem quase sempre parcelar”, declara.
Telma que completou sua 16ª exposição internacional em Nova York, já esteve na Alemanha, Espanha e Portugal. Ela desenvolveu uma coleção especial para Nova York chamada Jardim – que teve como inspiração o cuidado com sí mesma, do relacionamento e do amor próprio para enfrentar os desafios do dia a dia como mulher.
Para participar do evento Telma investiu inicialmente cerca de 2 mil dólares e o retorno esperado é de 20% a 40% a longo prazo. No entanto, ela diz que os benefícios recompensam como excelente oportunidade de internacionalizar a marca, captar novos clientes e fazer network. Telma, que também trabalha como bancária analisa a crise no Brasil como uma época de incertezas que o país vem atravessando nos últimos anos, que faz com que os consumidores e varejistas tenham mais cautela ou até mesmo pensar em paralisar os planos de expansão de um negócio.
No entanto, o mercado de joias tem as perspectivas positivas. Porém é necessário ter uma variedade de portfólio, percepção da qualidade dos produtos por parte dos consumidores, qualidade da matéria-prima disponível, variedade dos canais de venda e demanda interna aquecida.
E sobre matérias prima brasileiras, a designer Berta Antunes entende muito bem. Especialista em trabalhar com prata pura, ela começou sua carreira experimentando o processo evolutivo das matérias primas dos metais e gemas.
Berta participou anteriormente com a mesma produtora do grupo de trabalho da Collect Brazilian Jewelry, em Paris, na Joaillerie Contemporaine D’auteur au Carrousel Du Louvre, em 2018.
A inspiração da sua coleção foi influenciada pelo artesanato da cestaria que reflete a importância da atividade feminina no processo de evolução cultural, como a trama, enredo, e fios entrelaçados revelando a delicadeza e força feminina.
Para Berta o custo para participar do coletivo foi bem alto. “Chega-se à beira dos 5 mil dólares. Também contribuímos contratualmente com os valores pré estabelecidos à cada mostra pela produção, sem a obrigatoriedade de porcentagens nas possíveis negociações. E o retorno é mais sobre a divulgação que irá gerar mais reconhecimento para suas peças.”
Berta Antunes conclui fazendo uma observação “Naturalmente, o Brasil possui excelentes artistas que não conseguem sobreviver economicamente a estas demandas mercadológicas. O mercado é cruel com os produtores de arte em todas as instâncias e há uma corrente preconceituosa em todas as linguagens artísticas penalizando-nos, inclusive.”
Para quem interessar em se inscrever para próximas edições, basta entrar em contato com a Collect Brazilian Jewelry através do e-mail dorinebotana@uol.com.be ou dorine@collectbrazilianjewelry.com. Ou ainda pelo Whatsapp +55 11 986071317.