Karakoram, no Paquistão, é uma das rodovias mais altas do planeta, ela encanta pela cordilheira de montanhas e amedronta pelas severas condições climáticas
A Estrada de Karakoram (informalmente conhecida como KKH), entre o Paquistão e a China, era conhecida por ser a rodovia internacional pavimentada mais alta do planeta. É um caminho em direção ao paraíso, caso o interesse seja explorar as montanhas do Sudeste Asiático, mas também pode não ter volta: de acordo com o Fórum Econômico Mundial, a rodovia tem alguns dos trechos mais perigosos para automóveis ou motocicletas do mundo.
A Karakoram – cujo nome original é Urdu 35 (“Nacional” 35) – possui 1.300 quilômetros de extensão apenas em seu trecho paquistanês, começando em Islamabad, capital do país, e indo até o vilarejo de Kashgar, já na província de Xinjiang, na China, onde muda seu nome para Estrada Nacional 314. Ali, as fronteiras ficam abertas apenas entre maio e dezembro. A rodovia também é parte do sistema AH4 de estradas da Ásia e traça um dos principais caminhos da Rota da Seda, em que a China se ligava à Europa.
O nome popular diz respeito, na verdade, à cordilheira Karakoram, onde a estrada se eleva a 4.693 metros do nível do mar no meio do território do Paquistão, em Khunjerab. Devido à altura que ganha neste ponto e às dificuldades que ela adquire por conta disso, ela passou a atrair muitos motociclistas e agências de turismo de aventura na última década, também ganhando o apelido de “oitava maravilha do mundo”. Na China, as pessoas a chamam de “Estrada da Amizade”.
Até 2010, a rodovia entre a China e o Paquistão tinha o rótulo de “mais alta do mundo”, mas foi superada pela Estrada do Pacífico, entre o Peru e o Brasil por alguns metros: no trecho andino, ela chega a 4.735 metros do nível do mar.
A Karakoram (ou “Estrada da Amizade”) foi construída pelos governos da China e do Paquistão durante 20 anos — de 1959 a 1979. Os paquistaneses planejavam cruzar a estrada pela província de Mintaka, mas, em 1966, a ideia foi abolida pelos chineses, que argumentaram que a região é propícia para desastres aéreos pela altura em relação ao mar. Segundo o jornal paquistanês Al Akhbar, cerca de 810 paquistaneses e 200 chineses morreram durante a construção da estrada — a maioria deles caindo no abismo abaixo da montanha.
A maior parte da estrada é asfaltada, mas o desafio real é cruzar os trechos em que as curvas bruscas beiram o precipício da montanha. “A Karakoram, nessa parte, é extremamente traiçoeira e requer um veículo que possa se manter estável em um terreno totalmente movediço. Aos motoqueiros, é impensável atravessá-la sem todos os equipamentos possíveis: de capacete a roupas adequadas”, diz um trecho do site Dangerous Road, referência para muitos aventureiros.
Segundo os relatos, avalanches, grandes tormentas de neve e quedas e deslizamentos de terra podem ocorrer a qualquer momento, bloqueando algumas partes da estrada. “Embora as vistas incríveis das montanhas que você vê ao longo da rodovia tenham tornado a Karakoram popular, os seus 1.300 quilômetros paquistaneses são um pesadelo para as pessoas que têm medo de altura”, diz a Dangerous Road.
“Sem absolutamente nenhuma barreira em um dos lados e uma pedra atrás da outra durante todo o percurso, a margem de erro do motorista ou motociclista é quase zero. Qualquer equívoco pode ser fatal”, completa.
Há trechos da estrada que são temporariamente fechados para reparos na via ou por causa do clima. Chuvas pesadas ou prolongadas costumam causar enchentes que cobrem a Karakoram de água ou impedem a passagem por suas pontes.
De acordo com o departamento de estradas do governo chinês, há planos para expandir a largura da rodovia de 10 para 30 metros, o que aumentaria sua capacidade de transporte em três vezes. No entanto, a reforma pretende tornar mais fácil o fluxo de veículos pesados mesmo em climas desfavoráveis. Além disso, a via é militarmente importante para chineses e paquistaneses desde o conflito de Kashmir, entre Índia e Paquistão.
Um dos melhores relatos em português da viagem é do blog Saiporaí, da brasileira Bianca Canever, que fez a viagem pela estrada paquistanesa em 2011. “A estrada nunca vai ficar pronta. Assim como a Transamazônica, no Brasil, a natureza busca recuperar o território perdido sempre. Se não fizer grandes manutenções anuais, a estrada desaparece”, escreveu.
“É um feito incrível de engenharia cortar seu caminho através de vales profundos e planícies para as montanhas do norte do Paquistão e da China, perto da junção de três cadeias de montanhas Karakoram, Himalaia e Hindu Kush”, finaliza.
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