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As várias faces de Tarragona, na Catalunha – Espanha

Inclinado sobre o Balcão do Mediterrâneo, o imperador romano Carlos V afirmou ter encontrado em Tarragona, hoje na Catalunha, território da Espanha, a 100 km de Barcelona e 545 km de Madrid, o melhor mirante marítimo de todos seus estados. “Tocar ferro”, que na cidade significa apoiar as mãos sobre a bancada de ferro do balcão famoso, não apenas é sinal de boa sorte, mas também do privilégio de aproveitar a vista que permanece até hoje.

À frente, a Playa del Miracle e o Mare Nostrum, à esquerda, o impressionante Anfiteatro Romano, à direita, o movimento incessante do porto e, atrás, o Paseo Modernista que se conecta com a Ciudad Medieval, preservada pelo tempo e pelas políticas do governo espanhol.

“Tarragona é uma cidade romana e marítima, histórica e bucólica, dinâmica e secreta”, comenta a psicóloga Roberta Samaris, que visitou a Espanha em janeiro do ano passado. Ou como afirmou o poeta Lucio Anneo Floro entre os séculos I e II d.C, é a “cidade da eterna primavera”, apelido famoso que hoje se estende para vários destinos da América Latina, como Arica, no Chile, e Medellín, na Colômbia.

Tarragona

O passado romano da cidade é um dos motivos que levam turistas aos montes todos os dias pelas ruas de Tarragona – os brasileiros passaram a conhecer o destino quando companhias aéreas como a Tam passaram a realizar o tráfego aéreo entre capitais do país e Madrid. Nos anos 2000, a Unesco catalogou o município à beira-mar como Patrimônio Mundial justamente por sua dupla aura: a grandeza de Roma e as luzes calmas sobre o mar.

Das alturas da Muralha Romana, das grades do Anfiteatro, da Torre do Pretorio ou das portas do Circo, a presença permanente do Mediterrâneo veste a cidade inteira de azul. Foi essa característica que fez Julio Cesar, outro imperador romano, conceder-lhe o título de Colonia Iulia Urbs Triunfalis, e que fez ali viverem outros dois líderes de Roma: Augusto e Adriano.

“Tarragona é uma cidade que aflora permanentemente conforme você caminha, que se deixa ver entre os baixos dos restaurantes, as tendas ou os bares, e mesmo por meio de uma grande maquete romana que está na Volta del Pallol”, diz Samaris.

Tarragona

Se colocar na pele dos cidadãos romanos que se reuniam no Foro Local ou que lotavam o grande espaço religioso e administrativo do Concilium Provincial é uma experiência possível não apenas nos grandes monumentos da cidade, mas em toda série de ricos testemunhos de Roma, como aquedutos, vilas e monumentos funerários que a rodeiam. Mas com tudo isso, a experiência não se reduz ao império: à Tarragona romana há pelo menos outras três, uma medieval, uma modernista e outra portuária.

Se na metade do Anfiteatro romano as ruínas da Igreja de Santa María del Miracle são testemunhos da maneira como a cidade medieval se levanta, a partir do século XII, sobre as pedras da antiga colônia romana, na parte alta de Tarragona a catedral é o núcleo ao redor da qual se articula toda uma série de ruas e praças que conservam intacto o sabor da Idade Média.

O espaço que ocupava em seus dias o grande Concilium da província é hoje um pequeno e delicioso labirinto de vielas medievais, marcado por palácios antigos, lojas e restaurantes.

Sem sair do bairro velho, a Casa Castellarnau e a Casa Canals ilustram outro dos grandes atrativos de Tarragona: seu novo impulso social e cultural entre finais do século XIX e princípios do XX. O luxo das grandes famílias acomodadas que se instalaram nos melhores espaços do grande núcleo romano e medieval se prolonga imediatamente pela Rambla Nova, ao redor da qual se localiza um dos catálogos mais pessoais do modernismo europeu, assinado por arquitetos como Josep Maria Jujol ou Lluís Doménech Montaner, e ao lado de uma joia autenticamente desconhecida: o primeiro Gaudí documentado que esconde o Santuário de Nuestra Señora del Sagrado Corazón.

Ao pé da cidade alta, o luxo das embarcações de recreio e o ambiente noturno do puerto de Tarragona convivem com perfeição com a permanente atividade do que foi um dos enclaves mais prósperos do império. Convertido hoje em um grande espaço cultural e de lazer, o porto da cidade se complementa com Serrallo, o velho povoado de pescadores onde convivem as casinhas marítimas com um apertado conjunto de restaurantes onde o prato mais procurado é a gamba vermella.

O verdadeiro tesouro da cidade, porém, são as praias: além da urbana Miracle, ao mesmo nível da cidade, estão praias como a Larga, a Arrabasada, a Savinosa, a de la Móra e a de Tamarit, e as quedas naturais de Roca Plana e Fonda na região da Costa Daurada, um dos espaços marítimos mais belos de toda a Espanha. Ali é possível mergulhar ou ficar na terra contemplando as dunas, as aves, as espécies marinhas e, claro, pensar em não voltar nunca mais para casa.

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