As famílias que chegam a La Montañita, comunidade na costa oeste do Equador, na província de Santa Elena, a cerca de 600 km de Quito, gostam de alugar cabanas próximas ao mar para descansar, mergulhar, fazer longas caminhadas ou desfrutar da paisagem. Os grupos de jovens, por sua vez, preferem ficar na vila localizada no coração do local, onde funcionam baladas e bares durante toda a noite.
Os contrastes de La Montañita são justamente o que fizeram essa pequena localidade de menos de 5 mil habitantes, outrora considerada um “paraíso escondido” e secreto dos equatorianos, um dos destinos turísticos preferidos de milhares de pessoas da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa. Segundo dados do governo, o volume de passagens aéreas para a região cresceu significativamente nos últimos dois anos.
Ali, os jovens têm tudo o que querem de um destino turístico: praias, aventuras e festas.
As ruas estreitas que desembocam na praia com tendas coloridas, bares, hotéis e restaurantes cativaram em poucos anos os universitários que viajam como “mochileiros” pelo continente em busca de interação, atividades ao ar livre e fotografias. No Instagram, La Montañita é um dos destinos mais compartilhados, à frente de cidades históricas, como Guayaquil.
No entanto, o lugar nem sempre foi um destino turístico com coquetéis nas ruas e festas nas praias. Há 50 anos, em La Montañita, os pescadores dividiam a costa com alguns poucos visitantes alternativos. Foi nessa época que apareceu ali um movimento dos surfistas, com uma filosofia de liberdade, paz, amor e, claro, em busca de ondas. Apesar disso, a vila estava longe de ser um destino da moda como atualmente.
Era menor, rodeada de rios e montanhas, com casas simples e sem grandes construções turísticas, como os hotéis que se instalaram ali alguns anos atrás. Segundo Héctor Yepez, dirigente regional do turismo em Guayaquil, cidade a 200 km de La Montañita, a mudança toda aconteceu no período de uma década.
“Antes havia menos gente e era um lugar de tranquilidade. A gente se encontrava, no máximo, com alguns estrangeiros que eram do movimento hippie, surfistas em busca de ondas grandes e alguns roqueiros”, afirmou ao jornal El Comercio.
Hoje, La Montañita oferece comidas rápidas, cartas de drinks vendidas na praia, uma variedade de baladas com entradas gratuitas, músicas nas pequenas ruas e algumas festas à beira das piscinas dos hotéis. As hospedagens não são caras, porque precisam atender um público jovem que chega ali geralmente vindo de outro país sul-americano, e recentemente alguns albergues desembarcaram na vila, diminuindo ainda mais a pernoite.
O jornal chileno Publimetro publicou que La Montañita foi o destino preferido dos viajantes do país em 2013. No ano anterior, o diário argentino La Nación afirmou o mesmo sobre o interesse dos turistas da Argentina. A reportagem ainda afirmava que os universitários portenhos estavam trocando a tradicional viagem pelo norte do país até Machu Picchu, no Peru, por estadias mais longas no povoado equatoriano.
A vice-presidente da Asociación de Actores Turísticos de Montañita, Cristina Barreiro, explicou ao El Comercio que a maioria dos turistas latino-americanos chegam à vila entre dezembro e fevereiro, quando os países da região estão no verão. No restante do ano, os europeus e estadunidenses invadem o lugar.
“Quando a gente começou a receber turistas, o surf era a grande atração. Hoje, ampliamos as ofertas turísticas no mercado e os novos visitantes querem festas, baladas, bebidas na praia”, explicou. Barreiro administra uma das baladas mais disputadas de La Montañita: a Caña Grill.
O vice-presidente da Federación Nacional de Cámaras Provinciales de Turismo de Ecuador, Diego Vivero, afirmou à agência espanhola EFE que a Venezuela é o país latino-americano que mais envia turistas para a famosa praia equatoriana, seguida pela Colômbia, que tem a facilidade de ser próxima, o Peru e a Argentina. No entanto, são os estadunidenses que levam rendas suntuosas aos comerciantes do local. A administração de La Montañita diz que eles geram, em média, US$ 545 milhões (R$ 2,1 bilhões) anuais para a vila.
Nem tudo é perfeito, porém: é fácil encontrar nas redes sociais e nos blogs de turistas europeus e estadunidenses fotografias e relatos de como é fácil conseguir drogas e álcool na vila. “Se transformou em um destino de excessos. Se você está interessado em festas na praia que sempre se excedem, Montañita é seu lugar”, comentou um turista da Espanha na página do povoado do Tripadvisor.
Em 2016, La Montañita chamou a atenção da imprensa estrangeira não pela beleza das suas praias ou a vida noturna, mas pelo assassinato de duas jovens argentinas, Marina Menegazzo e María José Coni, de 21 e 22 anos, respectivamente. Dias depois do crime, os equatorianos Alberto Mina Ponce e Aurelio Eduardo Rodríguez confessaram ter matado as duas depois de uma festa. Eles foram condenados a 40 anos de prisão cada em agosto daquele mesmo ano.
Barreiro afirma que o caso chocou o vilarejo, mas foi um caso isolado. “A gente denuncia faz tempo a chegada de pessoas de outros locais do Equador e de outros países que querem fazer negócios ilicitos aqui”, disse ao El Comercio. Depois do ocorrido, a Secretaría Técnica de Drogas abriu um escritório em La Montañita e a Dirección Nacional de Operaciones de la Policía dobrou o número de policiais na área.
Na ocasião, os proprietários de hotéis e moradores impulsionaram o movimento chamado #MontañitaNoTieneLaCulpa, afirmando que o assassinato das duas argentinas havia sido uma exceção no clima tranquilo do local. Pelos números das chegadas de turistas anos depois, o “paraíso equatoriano” não parece ter sido afetado.