Ricardo Amaral*
O governo divulgou recentemente um pacote para dotar os portos brasileiros de melhor infraestrutura, facilitar as exportações e tornar o País mais competitivo no mercado externo. A medida vai no rumo certo, uma vez que nossos portos são caros, burocráticos em demasia, não têm boas vias de acesso e representam um dos gargalos da economia nacional.
Este setor foi abandonado ao longo da história e passou da hora de focar no seu desenvolvimento. Justiça se faça, investir nessa área é urgente, pois é pelos portos que o Brasil escoa a maior parte de sua produção.
O governo espera atrair R$ 54,2 bilhões em investimentos do setor privado e torcemos para que dê certo, pois isso tiraria o País do 130º lugar entre 144 num ranking de eficiência e qualidade do Fórum Econômico Mundial.
A ambição do governo merece nosso apoio ao recorrer às parcerias público-privadas para a modernização não apenas dos portos, mas também de aeroportos, rodovias e ferrovias. Em todos os setores a infraestrutura brasileira carece de quase tudo.
Por isso, a percepção dos problemas deve ser mais ampla. No caso dos portos, por exemplo, é correta a determinação de favorecer o transporte de carga. Mas não se pode esquecer os navios de passageiros: nesse momento em que se quer investir, o turismo brasileiro merece o seu espaço na agenda nacional.
Melhor momento não há para modernizar os terminais e mostrar aos milhares de turistas estrangeiros a grandeza do Brasil pela porta de entrada do mar. Imagine-se o atrativo de todas as belezas naturais deste país tropical aliadas a uma recepção eficiente, civilizada e confortável nos portos.
Todos os meios de comunicação trazem diariamente imagens dos maiores e mais importantes transatlânticos do mundo que aportam em nossas águas. Há de se aproveitar esse fluxo imenso de passageiros estrangeiros e brasileiros que gastam aqui suas economias durante os Cruzeiros. É uma contribuição importante do turismo para os cofres nacionais.
O setor de Cruzeiros Marítimos registrou um crescimento de cerca de 600% na última década; só na última temporada (2010/2011) teve um impacto de R$ 1,4 bilhão, o que comprova seu papel fundamental para a economia e o turismo brasileiros. Somos responsáveis pela geração de mais de 21 mil empregos. Esses números seriam ainda maiores não fossem as condições que limitam seu desempenho, como burocracia, custo tributário, infraestrutura, etc.
Além disso, os navios enfrentam sempre uma maratona para conseguir aportar; as negociações são difíceis em cada porto e os preços acima da média internacional. Como se vê, as administrações portuárias legam a essa parte do turismo quase nenhuma importância.
Ora, se o governo pretende realmente uma solução para avançar na modernização dos portos, deveria ouvir todos os envolvidos em suas operações.
O Brasil é hoje o quinto destino do mundo para esses Cruzeiros, resultado de um grande trabalho. Mas este posto está ameaçado por outros países, que passam a oferecer melhores condições de negócios.
A temporada de Cruzeiros Marítimos 2012/2013 começou em novembro e terá, até abril de 2013, a presença de quinze navios no litoral do País; serão 762 mil turistas em 280 roteiros de viagens – no total, 15% a menos do que na temporada anterior. Contudo, a importância do setor para a economia é enorme: 3.307 tripulantes brasileiros estão contratados nos transatlânticos que navegam hoje em nossas águas, mas devemos contar também os empregos gerados em escritórios, agências de viagem, receptivos e nas cidades nas quais os navios fazem escala.
Repetimos, somos a favor da modernização, em especial no enfrentamento da anacrônica infraestrutura dos transportes no Brasil. Mas somos contra a forma enviesada de se tentar resolver o problema dos portos mirando com um olho só.
*Ricardo Amaral é presidente da ABREMAR (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos)