O relógio marcava cinco horas da manhã quando o barulhinho chato do alarme insistia em me tirar da cama. Os olhos lentos ditavam o ritmo ao restante do corpo que despertava ainda sob o efeito dos 5 km caminhados entre Santa Marguerita e Portofino na tarde do dia anterior. Pensei seriamente em virar para o lado e retomar aquele sono preguiçoso das minhas habituais manhãs de domingo em terras italianas, cujo inverno nada generoso retardava a chegada do sol e fazia com que um vento gélido urrasse contra a janela do quarto. Um convite quase irrecusável à permanência em baixo do edredom na companhia de um bom livro e um belo cappuccino, iguaria essa que os italianos sabem fazer como ninguém.
Quinze minutos se passaram sem grandes progressos, foi aí que num movimento súbito acendi a luz do quarto, abandonei o pijama, calcei as botas e desci em direção a Estação de Genova Brignole. O trem para Turim partiu às 6h57 da manhã, embora tenha o hábito de ficar admirando a paisagem pela janelinha do vagão, dessa vez a única coisa que me recordo foi de ser acordada duas horas mais tarde ao som do aviso que dizia: “ Proxima fermata, stazione Torino Porta Nuova!”
Há meses ensaiava visitar o Museu Nacional do Cinema em Turim, mas a agenda apertada de trabalho ocupava até mesmo os finais de semana. Ao despertar naquela manhã me dei conta que em pouco mais de 20 dias estaria de volta ao Brasil, onde com certeza me restaria tempo de sobra para dormir.
Eu, um bilhete e um chinês
Fazia frio, mas o dia estava incrivelmente ensolarado, não pude deixar de pensar: Só por esse sol já valeu a pena ter vindo aqui! Antes de buscar informações sobre o museu, achei sensato comprar o bilhete de volta para o final do dia, assim garantiria a tarifa promocional e evitaria as filas. Estava aguardando minha vez na maquininha pra comprar o bilhete quando um senhor de olhos puxados me cutucou com um pedaço de papel na mão onde havia desenhado um esquema complexo de conexões e a palavra Veneza ao final. Após tentativas frustradas de uma maior comunicação em inglês ou italiano, abandonei a linguagem verbal para adotar completamente a dos sinais. Mais uma vez tive a certeza que os gestos são à melhor saída em qualquer parte do mundo, o homem de olhos puxados saiu contente com sua passagem para Veneza e eu segui rumo ao museu.
O Museu Nacional do Cinema foi um dos lugares mais interessantes que visitei em terras européias. O prédio é um dos símbolos de Turim, possui um elevador panorâmico que reserva ao visitante uma vista espetacular da cidade a 85 metros de altura. O museu é incrivelmente interativo e seu acervo conta desde os primórdios da fotografia até os mais recentes avanços tecnológicos e grandes produções cinematográficas que marcaram a história do cinema e foram responsáveis por encantar milhares de expectadores ao redor do mundo. Passei 4 horas e meia a perambular e fotografar pelos corredores do museu, mesmo sozinha foi um dos passeios mais divertidos que já tive na vida.
A visita a Turim me reservou ainda agradáveis surpresas dentre elas o Festival do Chocolate, uma ótima tarde na companhia da Serena, uma grande amiga italiana moradora da cidade, encontros inesperados, apresentações musicais e a certeza que pular da cama às 5 da manhã algumas vezes na vida pode fazer toda a diferença, principalmente na história daqueles que não tem receio de se aventurar.
Por: Daniella Barbosa