Quando estive na Ilha de Páscoa pela primeira vez em 2008, ficou evidente a realização de um grande sonho: conhecer os tão famosos e misteriosos Moais de perto e poder vivenciar um pouco da cultura que sempre mexeu muito com minha curiosidade e meus mais profundos anseios de um dia me tornar uma Arqueóloga. Hoje, passados quatro anos, ao retornar a Rapa Nui, continuo encantada e fascinada por cada cantinho desta que é uma das Ilhas mais isoladas do mundo, mais linda, mais mágica, mais repleta de energia e encantos e também uma das mais frágeis que merece uma atenção de caráter emergencial. Irei explicar…
Em 2008, me lembro bem que passei dias “mais lentos” em comparação ao continente era esta a intenção. Sinal de internet era uma coisa engraçada, de acordo com o vento você conseguia uma conexão razoável no hotel que obviamente não tinha wi fi nos quartos, mas funcionava bem na recepção. Lembro-me que havia uma lan house com uns computadores meio antigões em Hanga Roa, a única parte (mais) habitada da ilha e a maior parte do pessoal nem frequentava o lugar, ele havia sido criado mais para os turistas do que para eles próprios.
Á noite para sair do hotel tínhamos algumas opções como: shows folclóricos, daqueles para turista ver e pagar mico, um ou outro restaurante e alguns poucos bares super aconchegantes e cheios de bebidinhas e comidinhas deliciosas e que sempre rendia um bom bate papo com o proprietário do local, que na grande maioria, era algum turista que acabou ficando de vez, ruas super tranquilas depois de onze da noite onde somente os cachorros passeavam e principalmente: uma tranquilidade profunda que tornava possível a passagem por lá uma experiência única. E o céu… ahhh, o céu mas estrelado e limpo que já vi em toda minha vida. Algo simplesmente impossível de descrever com palavras.
Hoje, a mesma Hanga Roa fervilha de cibercafés, bares e danceterias. Carros, que praticamente não víamos nas ruas, hoje passam aos montes, principalmente nos finais de semana. E a quantidade de turistas então… Tudo muito exagerado. Alguns poderão se perguntar se isso não é bom para movimentar a economia local e a resposta é bem direta até mesmo por parte de muitos moradores locais: não. O que vemos hoje em Rapa Nui é um crescimento exagerado e desordenado que está mexendo com a cultura, com a harmonia do local e principalmente com o meio ambiente. Vamos lembrar que quando os colonizadores Polinésios chegaram a Rapa Nui pela praia de Anakena, eram apenas dúzias de pessoas e que em determinada época no século 19 eram apenas em média 100 pessoas após traficantes de escravos dizimarem a população. Não muito longe, em minha passagem por lá em 2008, a população era de 2000 habitantes em média e hoje já passamos para 5000. Dentre estes, nem metade é originalmente Rapa Nui.
Atualmente chegam à Ilha 12 voos semanais que partem do Chile continental, Peru e Taiti onde desembarcam em média 50 mil turistas na pequena e saturada ilha, estamos falando de dez vezes a população local e grande parte se hospeda na minúscula Hanga Roa.
A ilha de Páscoa tem apenas 164 quilômetros quadrados, não possui nenhum rio e a água doce é escassa na região e seu estoque diminui a cada dia. Rede de esgoto, por lá não há. Todo o estoque de combustível e grande parte dos alimentos e demais produtos industrializados vem do Chile continental, assim como é para lá que também vai todo o lixo produzido na ilha. Deu para compreender a dimensão da fragilidade?
É claro que a Ilha continua linda, os Moais continuam encantando, os passeios de bike continuam sendo deliciosas opções para quem curte liberdade, as águas do Pacífico continuam mega geladas e ótimas para mergulho, a tradicional feirinha de artesanato perto da igreja continua super convidativa, a culinária local continua deliciosa, as cavernas com pinturas rupestres, os Ahus, os vulcões e as lendas locais continuam sendo o foco de quem chega por lá, ou seja, a magia continua viva por lá. O fato é que os moradores agora se encontram diante de um desafio: como explorar seu potencial turístico e cultural sem arruinar cada vez mais este que é um dos mais lindos e acolhedores lugares do mundo? Para muitos destes moradores, a ilha já não mais os pertence. Um sinal de alerta já está piscando em caráter emergencial. E agora?
Não deixe de visitar por lá:
- O vulcão Rano Kau
- O vulcão Rano Raraku
- O Vulcão Puakatike
- A Caverna de Anakai Tangata
- O Ahu Vinapu
- O Ahu Akivi
- O Ahu Tongariki
- Puna Pau
- Praia de Anakena
- Orongo
- Vaihu
- Te Pito O Te Henua
Não deixe também:
- De fazer um mergulho no Pacífico (gelado)
- De fazer expedições de aventura
- De se informar sobre a lenda do Homem Pássaro
- De experimentar o tradicional Curanto Rapa Nui
Indicação especial:
O Te Ra’ai é um restaurante étnico Rapa Nui que eu simplesmente adoro!! Quando sou convidada a conhecer algum lugar e dar minha avaliação sobre o local, deixo bem evidenciado logo no início e neste caso, trata-se de uma indicação totalmente pessoal. Sinto-me parte da grande família sempre que vou lá ou tenho notícias de amigos que estiveram por lá também. O que este restaurante tem de tão especial? Não se trata daqueles restaurantes com shows folclóricos fantasiados e sim uma bela apresentação da cultura e tradições locais em um clima totalmente familiar. Sem contar, é claro, na deliciosa culinária. Só fique atento a um detalhe, se você quiser experimentar o Curanto, precisa fazer reserva antecipada, ok.
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